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Boicote é forma de ampliar luta contra golpistas

Linha fina
“Temos de começar a pensar em formas alternativas de ação política”, afirma professor da PUC-SP Reginaldo Nasser, para quem a dinâmica da resistência muda de acordo com a história, assim como os tipos de golpes
Imagem Destaque
São Paulo – O boicote deve surgir entre as novas formas de ação política no campo progressista para articular a resistência ao golpe de estado que consolidou o nome de Michel Temer na presidência do país. É o que acredita o professor de relações internacionais da PUC-SP Reginaldo Nasser. “Temos de começar a pensar em formas alternativas de ação política”, afirmou, “por exemplo, o boicote, que dentro da própria esquerda não se fala nisso, mas estou dizendo porque estudo o Oriente Médio e isso aparece bastante no caso da Palestina em relação a Israel”.

A mobilização a que o professor se refere é a campanha Boicotes, Desinvestimento e Sanções contra Israel (BDS), que vem se desenvolvendo desde 2005 e só recentemente, há cerca de um ano, começou a colher resultados que têm preocupado as autoridades israelenses. A ação da campanha conseguiu criar uma rede de voluntários pelo mundo que pressionam instituições jurídicas e pessoas a cortarem laços com Israel. Alguns governos europeus já apoiam a campanha e se recusam a comprar produtos feitos por assentamentos na Cisjordânia.

“Se você olhar na história, as formas de poder vão mudando e as resistências também devem fazer a mesma coisa. Porque tem a resistência, você reconfigura para fazer de outra forma. Como nos acabamos tendo anticorpos contra o estilo de golpe de 1964, assim se desenvolveu outro tipo de golpe, isso é muito claro”, afirma Nasser.

A voz do professor em defesa de novas estratégias de luta não é isolada. Em entrevista à RBA na terça-feira 30, a ativista da Marcha Mundial das Mulheres Sarah de Roure falou em desobediência civil, ecoando uma fala do poeta e sobrevivente da ditadura civil-militar no país Hamilton Pereira, conhecido por Pedro Tierra, que em entrevista ao Brasil de Fato, defendeu essa como uma das formas de luta que deve marcar o período de retrocesso no país.

“Nós temos instrumentos para atingir a materialidade das relações de poder, as corporações”, afirma o professor da PUC. Ele diz que o boicote, por exemplo, pode se dar em relação às empresas que apoiam deputados e senadores que são contra o interesse popular. Nasser também acredita que a dinamização da ação política também não exclui as formas tradicionais de luta, como as mobilizações nas ruas. “A esquerda está muito desconectada internacionalmente. Não temos contato com o exterior, não sabemos o que está acontecendo na Argentina, nos Estados Unidos, que é uma referência muito importante de luta – tem que valorizar as lutas de lá, porque é lá que o capitalismo se realiza. E a gente não tem conexão com esses movimentos”, critica o professor.

Golpe de Estado? - Para quem ainda não está suficientemente esclarecido se houve ou não golpe com o afastamento de Dilma Rousseff, o professor da PUC indica a consulta ao Dicionário de Política (editora UnB), organizado por Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino. No verbete 'golpe de Estado', os autores dizem que o golpe consiste em controlar os centros de poder do Estado: “Curzio Malaparte já colocara em destaque em 1931, em seu livro Tecnica del copo di Stato, que atacar as sedes do Parlamento ou dos ministérios nos dias de hoje é uma ingenuidade. Embora isso possa ser considerado um objetivo final, mais do que simbólico, o primeiro objetivo, para coroar de êxito o golpe de Estado, é ocupar e controlar os centros de poder tecnológico do Estado, tais como as redes de telecomunicações, o rádio, a TV, as centrais elétricas, os entroncamentos ferroviários e rodoviários. Isso permitirá o controle dos órgãos do poder político. É esta característica indiscutível do golpe de Estado que nos coloca diante da pergunta: quais podem ser possíveis protagonistas do fenômeno hoje em dia?”

Considerando o fato de que o impeachment de Dilma Rousseff é o oitavo da América Latina desde 1990, isso sem contar os governos afastados sem o expediente do impeachment, como José Manuel Zelaya Rosales, em Honduras, o professor diz que está bastante claro agora que as elites consolidaram no continente uma fórmula para afastar do poder governantes com os quais não têm empatia. “É uma fórmula que as elites encontraram para tirar do poder, entrando pelo Judiciário e sem colocar tanques nas ruas. Eu acho que, sim, o impeachment da Dilma consagra essa fórmula”, afirmou.


Helder Lima, da Rede Brasil Atual - 2/9/2016
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