São Paulo – Crianças fora de escolas, salas de aula que funcionam até em posto de gasolina, e professores com salários abaixo do piso nacional. Esse é o retrato da educação no estado governado desde 2003 pelo PSDB, de acordo com aqueles que mais conhecem a realidade das salas de aula, os professores.
Apesar disso, o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG) foi proibido pelo Tribunal Regional Eleitoral de falar sobre a situação e manifestar seu ponto de vista, por meio de jornais, cartazes, outdoors ou outros meios. O pedido de censura foi feito pelo candidato ao governo de Minas na coligação encabeçada pelo PSDB, Pimenta da Veiga, sob alegação de o Sind-UTE/MG fazer propaganda eleitoral negativa.
Para o movimento sindical, no entanto, a Justiça está autorizando a censura aos educadores. Em apoio aos trabalhadores, a reportagem do Sindicato foi ouvir o que pensam os professores.
“O PSDB destruiu a escola pública mineira. O que o Aécio fez em Minas Gerais não serve para o Brasil”, afirma a coordenadora-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG), Beatriz Cerqueira.
O professor de História na rede estadual Edson Luiz de Lima Kallas concorda: “Esse modelo não serve por não valorizar o profissional da educação e por não investir o necessário para que a educação de qualidade se torne uma realidade”, analisa.
Descaso – Aécio Neves, governador de 2003 a 2010, e seu sucessor, o também tucano Antônio Anastasia, com mandato de 2010 a 2014, aplicaram valores inferiores a 25% dos impostos na educação, percentual determinado pela Constituição. Com isso, deixaram de investir de R$ 8,3 bilhões na área, de acordo com o Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais. O mesmo aconteceu com a saúde, para onde deveriam ser destinados R$ 7,6 bilhões, no mesmo período.
Beatriz aponta que faltam cerca de 1 milhão de vagas no ensino médio e somente 35% das crianças têm acesso à educação infantil. “É isso mesmo: são 65% das crianças de 0 a 5 anos sem direito à escola”, afirma.
“O segundo estado mais rico do país tem escolas funcionando em posto de gasolina, em cima de uma loja de conveniência, e em um motel desativado. Cerca de 60% das escolas estaduais não têm refeitório”, diz ao descrever a precariedade estrutural do setor naquele estado.
Falta de qualidade – Além da estrutura precária, a qualidade é questionada: “O aluno progride sem que isso seja real”, relata a dirigente sindical.
O professor Edson critica a imposição do chamado Currículo Básico Comum (CBC) que modifica o sistema de aprendizagem e transmissão de conteúdo: “Na disciplina de História, os conteúdos propostos aqui não condizem com as séries do Ensino Fundamental e Médio, são confusos, dificultando a aprendizagem do aluno. Claro que muitos de nós não seguimos tal programa por não ter nenhum suporte para realizá-lo”, conta.
Falta de valorização – Quanto à remuneração, a rede estadual de ensino não recebe nem o piso federal, hoje em R$ 1.697.
“Os professores foram jogados numa situação de miséria. Quem tem pós-graduação ganha pouco mais de um salário mínimo. As carreiras estão congeladas há cinco anos”, detalha Beatriz.
As relações entre os trabalhadores e o governo do Estado são tensas, sem diálogo com a categoria. “A ideia é sempre culpar o professor”, relata a coordenadora do sindicato.
Fiasco – Ao contrário da imagem transmitida pelo atual candidato à Presidência, os resultados da gestão tucana trazem fracassos. Apenas 34% dos alunos do 9º ano do Ensino Fundamental têm nível recomendável de desempenho em língua portuguesa e 23,2% em matemática, conforme dados do Sind-UTE/MG. Em 96% das escolas não existe sala de leitura, sendo que 49% não têm quadra de esportes e 64% não têm laboratório de ciências. O projeto Escola de Tempo Integral beneficiou somente 105 mil estudantes num universo de 2.238.620 alunos. Segundo Beatriz, os programas do governo mineiro ou não atingem a maioria dos municípios “ou são programas do governo federal que, aqui em Minas, mudam de nome”.
Mariana Castro Alves – 21/10/2014
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PSDB não investe R$ 8,3 bilhões nos últimos 12 anos, em desrespeito à Constituição, e priva 65% das crianças do direito de frequentar a escola. Sindicato dos professores é proibido de falar sobre o caso
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