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Congresso da CUT quer dialogar com a sociedade

Linha fina
Em entrevista, o presidente nacional da Central, Vagner Freitas, fala sobre as expectativas da Central em relação ao 12º Concut
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São Paulo - Na quarta-feira 7, Vagner Freitas discorreu sobre o que se pode esperar do 12º Congresso Nacional da CUT, o Concut, que começa na terça-feira 13.

Diante da conjuntura, em que os setores reacionários pressionam pelo retrocesso e têm ampla presença na mídia, no Judiciário e no Poder Legislativo, enquanto o governo Dilma se vê cada vez mais sob chantagem, Vagner crê que o Congresso da CUT precisa ultrapassar os debates internos e enviar uma mensagem clara para toda a sociedade.

Por essa razão, durante o Congresso, a Central vai divulgar uma proposta de política econômica para o Brasil. E vai levantar, mais uma vez, a bandeira das reformas agrária, tributária, educacional, política e das comunicações.

Acompanhe os principais trechos da conversa

Direção já eleita? - Quero esclarecer que a chapa não está eleita ainda. Temos uma indicação que a Executiva fez para os congressistas. Construímos essa composição discutindo com as correntes políticas, os estados, os sindicatos, e temos a certeza que será referendada essa proposta nossa. Mas quem elege a chapa são os delegados no Congresso. Tomamos a iniciativa de avançar na construção da chapa porque temos enorme preocupação que o nosso Congresso não vire uma coisa de consumo interno. Embora tenhamos inúmeros assuntos para serem resolvidos internamente na CUT, do ponto de vista da organização sindical e outras coisas mais, a conjuntura que o Brasil vive hoje nos impõe desafio de ir para além disso.

Queremos um Congresso que traga todas as propostas em defesa da classe trabalhadora, dos direitos, sem permitir que haja retrocesso ou retirada de direitos. Temos preocupação com o aumento do número de desempregados no país.  Porque o emprego com carteira assinada é uma das maiores conquistas do governo democrático e popular e um dos maiores legados do governo Lula e Dilma.

Pauta reacionária no Parlamento - São pautas como a progressividade na Previdência, não temos a menor concordância com isso. O fator 85/95 é um ganho da CUT, uma proposta de seus sindicatos, de seus militantes, mas defendemos sua implementação sem progressividade. Ontem (quarta-feira) os congressistas tentaram fazer um bem bolado, mas que não foi favorável aos trabalhadores. O que aprovaram efetiva o conceito de progressividades com o qual a CUT não tem a menor concordância. Também nessa pauta conservadora contra os direitos dos trabalhadores é uma emenda que introduziram no PPE (Programa de Proteção ao Emprego), que deve ser utilizado em épocas de crise sistêmica identificada pelo governo, pelos trabalhadores e pelos empregadores e que venha a melhorar a condição de emprego do trabalhador. Mas aí vem uma emenda congressual que adenda ao PPE a questão do negociado sobre o legislado, que não tem nada a ver uma coisa com a outra. Obviamente, somos contrários.

Aumentar e fortalecer a CUT - Vamos discutir também a organização interna da CUT, sua política sindical, sua política de expansão nos próximos anos. Temos que avançar muito na representatividade que a CUT tem do total de trabalhadores sindicalizados. Mas, acima de tudo, queremos construir uma proposta da CUT para aumento o número de trabalhadores sindicalizados em geral. Vamos discutir novamente a mudança na estrutura sindical brasileira, concernente com a proposta de liberdade e autonomia sindical que forjou a CUT.

Pela primeira vez, paridade - É um congresso que também vai marcar também um avanço importantíssimo, a efetivação da paridade, a construção de uma chapa com paridade entre homens e mulheres. Somos a primeira central no mundo que terá uma direção com paridade de gênero. Se você tem uma maioria feminina na mão de obra e isso não traz condições iguais de trabalho, obviamente você está aumentando a exploração capitalista. O que queremos discutir na CUT não é uma igualdade política, forjada, entre dirigentes sindicais, mas enfatizar que temos de aumentar a organização e participação de trabalhadoras mulheres. Na verdade, é uma forma de demonstrarmos que temos de mudar essa situação no país.

Reformas no Brasil - CUT também quer discutir para fora, qual modelo de Estado queremos, que é esse que está aí, patrimonialista, machista, sexista, racista, não serve. Esse que aí está existe para defender interesses dos ricos e dos poderosos e que todos pagam para construir a riqueza, devolvida de maneira hiperdesigual. Vamos fazer um congresso da CUT para continuar defendendo nossas reformas básicas. Queremos discutir a reforma tributária, tributando a riqueza e a renda e não o trabalho; a política, para que você tenha condição de igualdade na participação e igualdade no Congresso Nacional. Devemos enfatizar o fim do financiamento empresarial que, obviamente, é a bola da vez na nossa campanha. Mas não só isso, queremos a democratização de todo o sistema democrático de representação no Brasil, que é concentrado na mão dos empresários. Defendemos reforma agrária como parte da política econômica. A reforma agrária dialoga com isso: a extensão de grandes latifúndios para produção de commodities não é o que coloca comida na mesa dos brasileiros e, embora seja o agronegócio um ativo importante para o Brasil, o país deveria ser mesmo o maior produtor de alimentos do mundo, com a capacidade que tem. Por isso achamos que o modelo agrário tem que ser em propriedades menores, com desenvolvimento do cooperativismo. Poderíamos ter uma solução para a economia brasileira num mercado em que podemos ser líderes.

Reforma do Judiciário - Queremos discutir a reforma do Judiciário. Estamos vendo a politização do Judiciário. Ações sem provas, de maneira arbitrária, alguns juízes entendendo que precisa prender primeiro para depois averiguar se é culpado. Queremos reforma do Judiciário para que haja de fato direito à livre defesa. Obviamente, com o rigor próprio ao poder Judiciário, mas nos parâmetros legais e com amplo direito de defesa. Hoje o poder Judiciário não faz Justiça, faz política, dependendo da bandeira partidária, da filosofia política, não por conta do aprofundamento das investigações. Essa questão atenta diretamente contra movimento social.

Educação e comunicação - Queremos também a reforma da educação, não é à toa que o CONCUT tem como mote a educação. Não acreditamos que tenhamos revolução social sem a educação com ênfase no apensamento e não para o adestramento, para a produção.

E também discutiremos a reforma da comunicação, do império da desinformação. Esse que é o quarto poder, na verdade, o primeiro, pois se consolida como a principal força conservadora. Há interesse por parte de determinada classe social, de determinado partido político, de não haver debate sobre sociedade brasileira nas suas várias matizes. Você tem uma massificação da informação dominante, daqueles que detêm os meios de comunicação. A ponto de estar acontecendo agora uma cobertura absurda da imprensa: as revistas de circulação nacional na semana passada ignoraram que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, é acusado de ter contas na Suíça, que poderiam fazer parte de um esquema de corrupção, segundo a PGR (Procuradoria Geral da República). E aqui não estou acusando, acho que ele tem direito a ampla defesa, não faço juízo de valor enquanto ele não tiver o último direito de se defender. Mas as mesmas revistas colocam o presidente Lula, a presidenta Dilma, outros membros do PT e da CUT em capas seguidamente sem nenhuma acusação comprovada. Sou um militante há algum tempo em defesa da democracia, lutei contra a ditadura e o que queríamos é liberdade de imprensa para ter igualdade de informação. Olha o que temos hoje!

Momento difícil - O governo eleito democraticamente pela população erra e acerta e a CUT identifica erros crassos na condução da economia e tem apontado para isso. Mas o que você vê é a realização de um terceiro turno interminável, que gera uma crise política, não permitindo que tenhamos desenvolvimento econômico por conta daqueles que perderam as eleições não aceitarem os resultados das urnas. Nos últimos dias, vem o TCU e faz um julgamento da prestação de contas da presidenta utilizando argumentos para averiguação das contas que não foram usados em relação a nenhum outro presidente e nenhum outro governador. Tem mais pedaladas do que o que o Alckmin faz em relação ao metrô de São Paulo? Em relação à tese de que houve propina na eleição da presidenta Dilma, utilizando recursos advindos de empresas ligadas à Petrobras ou da Petrobras, esquecem que é a mesma origem de recurso que financiou o adversário, Aécio Neves. Mas, no caso dele, são doações consideradas legais.

A CUT se coloca no cenário nacional exigindo que haja apuração de todos os fatos. Que se apure e punam os culpados. Mas o que está havendo no Brasil por conta dessa operação Lava-Jato é a política da disputa eleitoral personificada na continuidade de um terceiro turno de maneira descabida. São milhares de trabalhadores que perderam o emprego por conta da operação Lava-Jato. É uma tragédia ainda maior quando você vê quebrar toda uma cadeia produtiva ligada à Petrobras. Querem acabar com todo o setor para privatizar a empresa. Não tenho dúvida nenhuma que por trás dessa questão tem uma visão entreguista, personificada na postura do senador José Serra, lobista das petrolíferas internacionais.

Política econômica equivocada - Também queremos discutir a equivocadíssima política econômica. Essa foi a tese que derrotamos no segundo turno, porque, atrás dessa tese vem a luta econômica de classes. Porque por 12 anos os trabalhadores tiveram ganhos em seus salários, avanços nas questões trabalhistas, na melhoria da sua qualidade de vida e isso é o que a política neoliberal quer combater. A nossa enorme surpresa é ver que depois de derrotarmos essa proposta nas urnas, começamos um segundo mandato de um governo eleito pelos trabalhadores referendando essa política econômica. Que vai roubando direitos dos trabalhadores. Que pretende propor reforma na Previdência, como se ela fosse a vilã do gasto público. Ou o ajuste fiscal. A política econômica perdeu-se no meio do caminho porque não diz a que veio, não vai para um lado, nem para o outro.  Durante nosso Congresso, vamos apresentar uma proposta de política econômica desenvolvimentista. Não é essa que está sendo construída no segundo governo da presidenta Dilma. Vamos apresentar uma proposta de política econômica voltada à oferta de crédito e fortalecimento do mercado interno.

Ruim com Dilma... - A CUT é contra a cassação da presidenta porque não enxerga motivação para isso. Se tivéssemos evidências, mais que evidências, provas de corrupção envolvendo a presidenta, malversação do recurso público, independente do fato de a termos defendido, seríamos os primeiros a solicitar sua cassação. A CUT entende que quem está julgando a presidenta não tem condições políticas e morais para fazer. É a mesma elite conservadora brasileira que não suporta a ascensão da classe operária disputando espaços com eles. E, além disso, achamos que o que se propõe com a tentativa de impeachment da Dilma é a desconstrução da esquerda brasileira, do movimento social, do movimento sindical; não é à toa que no bojo da discussão do impeachment da Dilma imputam também responsabilidade para o Lula. É uma disputa política que quer criminalizar a presidenta, o ex-presidente a as organizações sociais de esquerda. Uma cassação de Dilma não trará para os trabalhadores nenhuma proposta melhor, mais organizada e mais desenvolvida, pelo contrário, vai ter retrocesso em direção àqueles que não têm diálogo social. Os que estão se colocando para substituí-la tem muito menos que ela e nenhum compromisso com isso.

Mobilização versus criminalização da esquerda - As ruas são o lugar onde a CUT surgiu, estamos disputando metro a metro as mobilizações de rua com grandes atos realizados, importantes para firmar nosso posicionamento político. A direita não consegue nos derrotar mesmo querendo ignorar. É verdade que uma parcela da direita brasileira  consegue ocupar as ruas e não achamos que seria ruim, se não fosse induzida e com um teor de preconceito extraordinário, machista, racista. Mas estamos acostumados a isso, a CUT enfrentou a ditadura. Se enfrentamos a ditadura, temos condição de enfrentar a elite e a mídia conservadora.


Isaías Dalle e Luiz Carvalho, da CUT - 13/10/2015
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