São Paulo - Para onde caminham os bancos? Como o movimento sindical pode influir na regulamentação bancária? E como os trabalhadores podem se apropriar dos instrumentos de tecnologia para cobrar dos bancos atuação justa e responsável?
Essas foram algumas das questões debatidas na tarde desta sexta-feira 23, durante o 9º Congresso da Fetec/CUT-SP, com participação do professor doutor Moisés da Silva Marques, docente de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina e de pós-graduação da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
> Eleita a nova direção da Fetec para 2012-2015
> Congresso da Fetec aprova plano de lutas para 2013
Em exposição sobre o “Banco do Futuro”, o professor Moisés, que também integra o projeto para implantação da Faculdade dos Bancários, apresentou um histórico sobre a concentração bancária no Brasil, iniciada no final da década de 80, com a quebra de pequenas instituições bancárias. Processo que veio se intensificando nas décadas seguintes, até chegar à incorporação de bancos maiores por outros de portes ainda maiores.
Hoje, com o cenário de crise financeira internacional, cujo estopim foi a questão do crédito, vemos a necessidade da recapitalização de algumas das instituições, como o que vem ocorrendo em alguns dos países da Europa.
Diante desse quadro, cada vez mais, os bancos se veem diante da equação, de aumentar receita, barateando serviços pelo uso da tecnologia.
Conforme o professor Moisés, a evolução da tecnologia e seu respectivo barateamento estão fazendo com que os bancos repensem suas estratégias, fazendo surgir um novo conceito de banco. “As projeções apontam para bancos cada vez mais virtuais, com criação de agências-boutiques e número limitado de trabalhadores e com um novo perfil. Deixam de ser auxiliares e técnicos para assumirem o papel de consultores de negócios. No Brasil, esse é um modelo que tende a favorecer ainda mais a concentração bancária”.
Segundo o docente, uma recente pesquisa revela que o Brasil hoje é o maior mercado de automação bancária. Por aqui, o internet banking já é responsável por 46% das operações bancárias, superando em muito as realizadas pelos caixas de agências. A utilização do móbile banking, operações por celular, já é maior do que em vários outros países.
Dentre as demais ferramentas em estudos pelos bancos são a biometria, a criptografia e a tecnologia NFC, por meio da qual são possíveis pagamentos por aproximação dos aparelhos celulares, que passam a funcionar como verdadeiras carteiras digitais.
“Neste momento, os bancos já se valem das redes sociais e, cada vez mais, investem nas ‘pirotecnias’. Diante de todas essas mudanças, os bancos tendem a deixar de ser intermediadores financeiros para atuarem prioritariamente com a venda de informações, já que, por meio da administração de cartões de crédito, são eles quem detém os dados sobre o que determinado cidadão compra, como compra e quando compra”.
Para o professor Moisés, o movimento sindical precisa se apropriar desse debate para pensar qual deve ser a mobilização na era da mobilidade. “As mudanças já começaram e porque não utilizarmos toda essa tecnologia em favor da luta dos trabalhadores?”
De acordo com sua exposição, o movimento sindical deve insistir em mostrar para a sociedade o verdadeiro papel dos bancos. “Vamos mobilizar também nas redes sociais, nos envolver na luta global por regulação, cobrando dos governos, participando de audiências públicas e discutindo as consequências sobre o trabalho bancário e sobre o atendimento a clientes e usuários. Se um banco cresce à custa de atuação irresponsável, isso deve continuar sendo amplamente denunciado”.
Fetec-CUT/SP - 26/11/2012
Linha fina
Segundo palestrante, uma recente pesquisa revela que o Brasil hoje é o maior mercado de automação bancária. Movimento sindical discute como deve ser atuação na era da mobilidade
Imagem Destaque