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Eduardo Maretti, da Rede Brasil Atual
4/11/2016
São Paulo – A intervenção da Polícia Militar na peça Blitz - O império que nunca dorme e a prisão do ator Caio Martinez Pacheco, no sábado 29, em Santos (litoral sul de São Paulo), mais do que uma volta ao período da ditadura iniciada em 1964, “é um retorno a 100 anos atrás”. A opinião é da professora Maria Cristina Castilho Costa, titular em Comunicação e Cultura da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo.
“É um absurdo o que acontece. Voltamos à época após proclamada a República, em que a polícia estava autorizada a entrar em salas de exibição de filmes e em teatros, interromper a seção, apreender filmes, prender as pessoas, se elas falassem mal da bandeira nacional, falassem o português chulo e outras coisas”, diz. “Estamos voltando ao ponto em que daqui a pouco vamos ver espetáculos e assistir a filmes na clandestinidade.”
A opinião é compartilhada pelo ex-deputado federal Adriano Diogo, ex-presidente da Comissão da Verdade "Rubens Paiva", da Assembleia Legislativa de São Paulo. “As forças militares e policiais têm hoje o papel de censurar e fazer julgamento. O julgamento é sumário e a partir daí já sai a condenação, que é a prisão. Daqui a pouco vão invadir salas de cinema, shows de música e outros eventos. É só não concordar com eles”, afirma Diogo.
O plenário da Assembleia Legislativa de São Paulo registrou na quinta 3 um bate-boca entre o deputado Carlos Giannazi (Psol) e os deputados Coronel Camilo (PSD) e Coronel Telhada (PSDB), que defenderam a ação da PM em Santos. O contexto foi a presença dos atores, inclusive Caio Martinez Pacheco, que Giannazi levou à Casa “para prestar apoio e solidariedade”. “Telhada e Camilo criticaram bastante a peça, dizendo que é um ‘lixo’, e que a encenação ofendeu os símbolos nacionais”, conta o deputado.
Giannazi entrou, na segunda-feira 31, com um requerimento à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia pedindo a convocação dos responsáveis pelo Comando da Polícia Militar em Santos (6º BPM/I), para prestar esclarecimentos sobre a repressão à peça. Ele também acionou o Ministério Público Estadual e a Corregedoria da PM, à qual pede investigação sobre o fato.
Como 1968 - O parlamentar do Psol diz que pretende realizar um ato de desagravo aos atores, ainda sem data definida. Para ele, a intervenção da PM e prisão do ator em Santos “lembra 1968, quando invadiram o Roda Vida do Chico Buarque de Holanda e o CCC (Comando de Caça aos Comunistas) espancou os atores”. “Até o Alckmin disse que a peça é de mau gosto mas que a liberdade de expressão tem que ser preservada. A Folha de S.Paulo soltou editorial defendendo os atores. Até os mais reacionários estão com cautela em relação a isso.”
Adriano Diogo também associa a repressão à peça Blitz a 1968. “Da mesma forma que o CCC invadiu o teatro Ruth Escobar, prenderam Marília Pêra, dando cacete nos atores, a PM age nas manifestações, nas passeatas, dá tiro de bala de borracha. E, agora, também fazem interpretação de texto. Como não tem censura prévia, fazem censura no local”, ironiza. Diogo vê na conjuntura atual “uma transformação do golpe em ditadura”. “As pessoas não estão entendendo que o golpe já está em outra fase. Que a realidade já é outra. Estamos num Estado de exceção.”
Para a professora da USP, de um ponto de vista histórico mais amplo, o Brasil parece estar “em plena restauração, no sentido da Revolução Francesa”. Ela se refere ao período após a Revolução Francesa (1789), quando foi restaurada a monarquia em benefício dos herdeiros de Luís XVI, em 1814.
“Estamos vivendo no Brasil um retrocesso enorme, em relação à concepção da liberdade de expressão. É a ideia de que a polícia pode fazer isso, de que tem direito, que está autorizada. São atividades que historicamente precederam a regulamentação da censura feita com Getúlio Vargas”, diz Maria Cristina. “Faz parte da nossa cultura autoritária reprimir a arte, especialmente.”
4/11/2016
São Paulo – A intervenção da Polícia Militar na peça Blitz - O império que nunca dorme e a prisão do ator Caio Martinez Pacheco, no sábado 29, em Santos (litoral sul de São Paulo), mais do que uma volta ao período da ditadura iniciada em 1964, “é um retorno a 100 anos atrás”. A opinião é da professora Maria Cristina Castilho Costa, titular em Comunicação e Cultura da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo.
“É um absurdo o que acontece. Voltamos à época após proclamada a República, em que a polícia estava autorizada a entrar em salas de exibição de filmes e em teatros, interromper a seção, apreender filmes, prender as pessoas, se elas falassem mal da bandeira nacional, falassem o português chulo e outras coisas”, diz. “Estamos voltando ao ponto em que daqui a pouco vamos ver espetáculos e assistir a filmes na clandestinidade.”
A opinião é compartilhada pelo ex-deputado federal Adriano Diogo, ex-presidente da Comissão da Verdade "Rubens Paiva", da Assembleia Legislativa de São Paulo. “As forças militares e policiais têm hoje o papel de censurar e fazer julgamento. O julgamento é sumário e a partir daí já sai a condenação, que é a prisão. Daqui a pouco vão invadir salas de cinema, shows de música e outros eventos. É só não concordar com eles”, afirma Diogo.
O plenário da Assembleia Legislativa de São Paulo registrou na quinta 3 um bate-boca entre o deputado Carlos Giannazi (Psol) e os deputados Coronel Camilo (PSD) e Coronel Telhada (PSDB), que defenderam a ação da PM em Santos. O contexto foi a presença dos atores, inclusive Caio Martinez Pacheco, que Giannazi levou à Casa “para prestar apoio e solidariedade”. “Telhada e Camilo criticaram bastante a peça, dizendo que é um ‘lixo’, e que a encenação ofendeu os símbolos nacionais”, conta o deputado.
Giannazi entrou, na segunda-feira 31, com um requerimento à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia pedindo a convocação dos responsáveis pelo Comando da Polícia Militar em Santos (6º BPM/I), para prestar esclarecimentos sobre a repressão à peça. Ele também acionou o Ministério Público Estadual e a Corregedoria da PM, à qual pede investigação sobre o fato.
Como 1968 - O parlamentar do Psol diz que pretende realizar um ato de desagravo aos atores, ainda sem data definida. Para ele, a intervenção da PM e prisão do ator em Santos “lembra 1968, quando invadiram o Roda Vida do Chico Buarque de Holanda e o CCC (Comando de Caça aos Comunistas) espancou os atores”. “Até o Alckmin disse que a peça é de mau gosto mas que a liberdade de expressão tem que ser preservada. A Folha de S.Paulo soltou editorial defendendo os atores. Até os mais reacionários estão com cautela em relação a isso.”
Adriano Diogo também associa a repressão à peça Blitz a 1968. “Da mesma forma que o CCC invadiu o teatro Ruth Escobar, prenderam Marília Pêra, dando cacete nos atores, a PM age nas manifestações, nas passeatas, dá tiro de bala de borracha. E, agora, também fazem interpretação de texto. Como não tem censura prévia, fazem censura no local”, ironiza. Diogo vê na conjuntura atual “uma transformação do golpe em ditadura”. “As pessoas não estão entendendo que o golpe já está em outra fase. Que a realidade já é outra. Estamos num Estado de exceção.”
Para a professora da USP, de um ponto de vista histórico mais amplo, o Brasil parece estar “em plena restauração, no sentido da Revolução Francesa”. Ela se refere ao período após a Revolução Francesa (1789), quando foi restaurada a monarquia em benefício dos herdeiros de Luís XVI, em 1814.
“Estamos vivendo no Brasil um retrocesso enorme, em relação à concepção da liberdade de expressão. É a ideia de que a polícia pode fazer isso, de que tem direito, que está autorizada. São atividades que historicamente precederam a regulamentação da censura feita com Getúlio Vargas”, diz Maria Cristina. “Faz parte da nossa cultura autoritária reprimir a arte, especialmente.”