O desgoverno dos últimos quatro anos não mediu esforços para diminuir e desacreditar a maior e mais antiga instituição de crédito do país. Nesse período, o Banco do Brasil foi levado a reduzir a sua intervenção em frentes como o combate à pobreza e execução de políticas públicas. Isto, como estratégia de diminuir a sua importância para a sociedade e, ao final, justificar eventual privatização.
O papel de empresas como o Banco do Brasil ficou evidenciado na crise pandêmica mundial iniciada em 2020. Naquele momento, mundo afora, foram as estruturas de estado que entraram em ação para socorrer as pessoas. A crise de 2008 foi outro exemplo, onde os bancos públicos foram fundamentais para o governo enfrentar a crise financeira internacional, diminuindo o seu impacto na economia nacional.
Agora, ao apagar das luzes, os dirigentes do BB, os mesmos que sempre calaram e executaram as políticas do governo atual, vêm a público ditar regras para nomeação dos próximos dirigentes da empresa e, pior, defender a manutenção da estratégia de atuação do banco. Até parece que ainda não acordaram e não sabem que haverá mudança de administração do país a partir de janeiro do próximo ano.
O novo governo terá - e já foi declarado pelo presidente eleito - que olhar diferente para os bancos públicos. E isto se torna ainda mais importante quando se observa a atuação do banco, que mesmo sendo líder em muitas frentes, tem diminuído por anos seguidos sua fatia no mercado. No crédito agrícola, a redução a participação entre 2016 e 2021 foi de 60% para 54%; no mesmo período, o Pronaf, crédito destinado a pequenos produtores, teve redução de 32% (quando se considera valor atualizado das carteiras em cada período); 26% das agências foram fechadas, de 5440 para 3986 no mesmo período; os funcionários foram reduzidos em 14% ou 14.200 postos de trabalho.
Os números revelam o caminho de maximizar o resultado, deixando de lado o papel de ser um banco moderador de taxas para investimentos. Situação refletida nas taxas de juros de empréstimos da carteira rural, superior a 11% reais ao ano, inviabilizando grande parte dos produtores rurais.
A estratégia do BB não pode ser a prática de taxas extorsivas. Preocupa, mas não é novidade que a atual direção do principal banco público do país venha a público se jubilar de resultados, mostrando retorno anualizado de 22% sobre patrimônio líquido, ou seja, retorno até setembro de 15,4% acima da inflação. Um absurdo, quando comparado com os 20 maiores banco do mundo (dos quais sete são estatais) que têm retorno médio anual de 10% sobre o Patrimônio Líquido.
O BB é um agente importante no desenvolvimento do país. A sua missão principal precisa voltar a ser de executar políticas de fomento, desenvolvimento e de suporte para empresas e produtores rurais do país. Erram os que declaram que a o papel do BB é distribuir dividendos. Dizer isso é excluir a função de agente de desenvolvimento do banco.
Como mostra a sua história, o BB é fundamental para atuar induzindo as economias locais. A sua capilaridade permite realizar as ações de governo para geração de empregos e distribuição de renda em lugares onde o setor privado vê como de risco elevado, não atua e esquece o que sempre declara sobre responsabilidade social e ambiental.
O Banco do Brasil tem sido fundamental para o país há mais de dois séculos e, para liderá-lo, é preciso ter a compreensão dessa importância. Isto, mais o compromisso de pensar em sua continuidade como um banco público de fomento e de desenvolvimento, é o mínimo que se espera da próxima gestão.
João Fukunaga – Diretor executivo do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região e coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do BB