Imagem Destaque
São Paulo – Os desafios que o Brasil tem pela frente para retomar o crescimento da economia e colocar a criação de emprego e renda no centro das políticas públicas do governo foram o tema discutido na quinta-feira 3 na abertura do seminário internacional que marca a comemoração dos 60 anos do Dieese. O evento foi realizado no auditório do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), na Praça da República, centro de São Paulo. Líderes sindicais, pesquisadores, representantes da sociedade civil, economistas e trabalhadores lotaram o auditório.
“O Dieese quer olhar os desafios do Brasil e da América Latina para contribuir com o movimento sindical. Esse é o espírito deste seminário”, disse o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, depois de fazer uma retrospectiva histórica da entidade, que nasceu em 22 de dezembro de 1955, motivada pela necessidade de ser um órgão unitário dos trabalhadores para produzir conhecimento sobre a realidade do trabalho no país.
O surgimento do Dieese também está ligado a uma mobilização histórica dos trabalhadores paulistas em 1953, que ficou conhecida como “Greve dos 300 mil” – diversas categorias se uniram contra a alta da custo de vida na época, exigindo que o então presidente Getúlio Vargas nomeasse um ministro do Trabalho comprometido com as causas dos trabalhadores. Desse processo, surgiu a nomeação de João Goulart para o cargo, o mesmo político que uma década depois dirigiu o país até a deflagração do golpe de março de 1964.
O convidado especial da abertura do seminário era o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que teve de atender agenda do governo no Japão e não pôde comparecer. Em vídeo, ele tratou dos desafios para a retomada do crescimento e da inclusão social no país.
“O país tem alavancas para a retomada do crescimento”, disse Coutinho. “Temos o programa de concessões, que pode induzir investimentos, como nas frentes de energia, com destaque para as energias renováveis, como eólica, hidrelétrica e biomassa. Além disso, o novo patamar da taxa de câmbio (entre R$ 3,50 e R$ 4) permite pensar em estratégias exportadoras que possam recuperar oportunidades de mercado, especialmente para o setor de manufatura. Esse caminho pode ajudar a recuperar a produtividade e competitividade da indústria, com aplicação de tecnologias de informação que requerem treinamento e qualificação. São esses os desafios que se colocam e devem compreender a continuidade do processo por meio da geração de empregos”, defendeu.
As mudanças climáticas e, nesta semana, a 21ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 21), em Paris, colocam em relevo essa temática. Para Coutinho, a questão ambiental “é uma responsabilidade de todos que precisa se integrar à estratégia de desenvolvimento do país, na direção da redução das emissões de carbono, diretriz essencial para as estratégias de futuro”, disse.
O secretário executivo-adjunto da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), Antonio Prado, falou sobre crescimento e desigualdade nos países do continente. “O que há de comum entre o Dieese, o Cepal e o BNDES é a dedicação ao desenvolvimento. O crescimento é condição necessária para o desenvolvimento. O país vem crescendo desde os anos 50, mas não incorporou muitos segmentos da sociedade, não promoveu a inclusão. Esse é o grande desafio, a exemplo da redução da pobreza que houve nos últimos 12 anos”, afirmou.
Prado analisou o contexto da crise internacional que abala as economias do mundo hoje. “Não sabemos o que vai acontecer com Estados Unidos e Europa. O Japão está em processo de estagnação. A incerteza é a regra do mundo hoje”, disse o representante da Cepal. Entre as mudanças mais recentes da economia mundial, ele destacou que o comércio agora cresce na mesma proporção do PIB mundial, quando historicamente acumulava taxas superiores. “Todo país quer uma fatia do mercado mundial e por isso existe uma superconcorrência. Os países da AL têm de pensar nessa questão”, defendeu.
Ele disse ainda que o contexto da crise de proporções mundiais indica um excesso de liquidez, que convive ao mesmo tempo com uma carência de investimentos, devido ao pensamento rentista que domina nos setores financeiros, apesar de esse excesso de liquidez estar evitando a ocorrência de uma grande depressão. “Todo mundo quer reter moeda, ninguém quer gastar”, sustentou. “Muito dinheiro empossado e poucos empréstimos emperram os investimentos e o consumo.”
O secretário executivo-adjunto do Cepal afirmou que existe grande heterogeneidade entre os países do continente, mas que problemas comuns impõem uma alta vulnerabilidade às economias. Ele relacionou a debilidade institucional, a volatilidade externa e os problemas de infraestrutura. “A heterogeneidade estrutural é uma fábrica de desigualdades”, disse o estudioso, destacando que na realidade das economias do continente, setores de alta produtividade oferecem poucos empregos. “A encruzilhada em que nossas economias se encontram exige mudar isso, mudar a estrutura produtiva.” Essa mudança, segundo ele, passa pela diversificação das economias, problema que se impõe desde os tempos históricos, com as monoculturas produtivas.
Nesta sexta-feira 4, a comemoração dos 60 anos do Dieese prossegue com mais debates, na Apeoesp.
Rede Brasil Atual – 4/12/2015
“O Dieese quer olhar os desafios do Brasil e da América Latina para contribuir com o movimento sindical. Esse é o espírito deste seminário”, disse o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, depois de fazer uma retrospectiva histórica da entidade, que nasceu em 22 de dezembro de 1955, motivada pela necessidade de ser um órgão unitário dos trabalhadores para produzir conhecimento sobre a realidade do trabalho no país.
O surgimento do Dieese também está ligado a uma mobilização histórica dos trabalhadores paulistas em 1953, que ficou conhecida como “Greve dos 300 mil” – diversas categorias se uniram contra a alta da custo de vida na época, exigindo que o então presidente Getúlio Vargas nomeasse um ministro do Trabalho comprometido com as causas dos trabalhadores. Desse processo, surgiu a nomeação de João Goulart para o cargo, o mesmo político que uma década depois dirigiu o país até a deflagração do golpe de março de 1964.
O convidado especial da abertura do seminário era o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que teve de atender agenda do governo no Japão e não pôde comparecer. Em vídeo, ele tratou dos desafios para a retomada do crescimento e da inclusão social no país.
“O país tem alavancas para a retomada do crescimento”, disse Coutinho. “Temos o programa de concessões, que pode induzir investimentos, como nas frentes de energia, com destaque para as energias renováveis, como eólica, hidrelétrica e biomassa. Além disso, o novo patamar da taxa de câmbio (entre R$ 3,50 e R$ 4) permite pensar em estratégias exportadoras que possam recuperar oportunidades de mercado, especialmente para o setor de manufatura. Esse caminho pode ajudar a recuperar a produtividade e competitividade da indústria, com aplicação de tecnologias de informação que requerem treinamento e qualificação. São esses os desafios que se colocam e devem compreender a continuidade do processo por meio da geração de empregos”, defendeu.
As mudanças climáticas e, nesta semana, a 21ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 21), em Paris, colocam em relevo essa temática. Para Coutinho, a questão ambiental “é uma responsabilidade de todos que precisa se integrar à estratégia de desenvolvimento do país, na direção da redução das emissões de carbono, diretriz essencial para as estratégias de futuro”, disse.
O secretário executivo-adjunto da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), Antonio Prado, falou sobre crescimento e desigualdade nos países do continente. “O que há de comum entre o Dieese, o Cepal e o BNDES é a dedicação ao desenvolvimento. O crescimento é condição necessária para o desenvolvimento. O país vem crescendo desde os anos 50, mas não incorporou muitos segmentos da sociedade, não promoveu a inclusão. Esse é o grande desafio, a exemplo da redução da pobreza que houve nos últimos 12 anos”, afirmou.
Prado analisou o contexto da crise internacional que abala as economias do mundo hoje. “Não sabemos o que vai acontecer com Estados Unidos e Europa. O Japão está em processo de estagnação. A incerteza é a regra do mundo hoje”, disse o representante da Cepal. Entre as mudanças mais recentes da economia mundial, ele destacou que o comércio agora cresce na mesma proporção do PIB mundial, quando historicamente acumulava taxas superiores. “Todo país quer uma fatia do mercado mundial e por isso existe uma superconcorrência. Os países da AL têm de pensar nessa questão”, defendeu.
Ele disse ainda que o contexto da crise de proporções mundiais indica um excesso de liquidez, que convive ao mesmo tempo com uma carência de investimentos, devido ao pensamento rentista que domina nos setores financeiros, apesar de esse excesso de liquidez estar evitando a ocorrência de uma grande depressão. “Todo mundo quer reter moeda, ninguém quer gastar”, sustentou. “Muito dinheiro empossado e poucos empréstimos emperram os investimentos e o consumo.”
O secretário executivo-adjunto do Cepal afirmou que existe grande heterogeneidade entre os países do continente, mas que problemas comuns impõem uma alta vulnerabilidade às economias. Ele relacionou a debilidade institucional, a volatilidade externa e os problemas de infraestrutura. “A heterogeneidade estrutural é uma fábrica de desigualdades”, disse o estudioso, destacando que na realidade das economias do continente, setores de alta produtividade oferecem poucos empregos. “A encruzilhada em que nossas economias se encontram exige mudar isso, mudar a estrutura produtiva.” Essa mudança, segundo ele, passa pela diversificação das economias, problema que se impõe desde os tempos históricos, com as monoculturas produtivas.
Nesta sexta-feira 4, a comemoração dos 60 anos do Dieese prossegue com mais debates, na Apeoesp.
Rede Brasil Atual – 4/12/2015