Apesar de o centro de São Paulo ter sido palco de muitas histórias sobre os negros no início da formação da metrópole, grande parte dessa memória foi apagada da cidade, como descrevem os pesquisadores do Coletivo Cartografia Negra Carolina Piai Vieira, Pedro Vinícius Alves e Raíssa Albano de Oliveira. Eles são os criadores da iniciativa "Volta Negra", que conta a narrativa oculta destes lugares históricos.
Há um ano, os três jovens se uniram para estudar e mapear e promover uma caminhada, como um passeio turístico cultural, pelos locais que foram relevantes para a vida da população negra na cidade, mas não são reconhecidos oficialmente na história de São Paulo.
Entre eles, o atual Largo da Memória, localizado ao lado do Metrô Anhangabaú, ponto de partida do roteiro. À época da escravidão, além de ponto comercial, o largo também era conhecido como o local de leilão das pessoas escravizadas. Ao repórter Jô Miyagui, do Seu Jornal, da TVT, os pesquisadores destacaram ainda o Largo da Misericórdia, na Sé, e as atuais praças João Mendes e da Liberdade, reconhecidos locais de tortura, assassinato e enterro de negros e pobres.
"Teve um decreto no pós-abolição, assinado por Ruy Barbosa, ordenando apagar todos os documentos referentes à escravidão. Falava-se que era pra começar do zero, mas do zero pra quem?", questiona Raíssa. "Hoje, a gente não consegue ter acesso de quais países da África nós viemos, de quais comunidades", lamenta.
A próxima "Volta Negra" ocorrerá no dia 15 de dezembro, a partir das 15h, em frente ao Obelisco do Piques, no Largo da Memória. A contribuição para a iniciativa é voluntária.