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Chapéu
Inconsistências no ponto eletrônico

Sindicato segue tentando reverter demissões por justa causa no BNP

Imagem Destaque
Imagem em desenho mostra um homem apontando um braço para outro homem, como se estivesse o demitindo.. Sobre a cabeça do outro homem estão dois pontos de interrogação e um de exclamação. Ele segura uma caixa bege com pertences

O Sindicato dos Bancários de São Paulo tentou, em reunião com o BNP Paribas realizada no dia 14 de novembro, reverter as demissões por justa causa ocorridas no dia 16 de outubro, mas o banco insistiu em mantê-las. A resposta foi dada no dia 23 de novembro.

A entidade tenta agendar nova reunião, agora com o presidente do BNP, para saber exatamente qual sua posição sobre os fatos, e para buscar uma solução pela via administrativa.

Os bancários foram demitidos por justa causa por uma prática de rotina entre a maioria do quadro funcional: inconsistência na anotação e registro do ponto eletrônico.

Foram demitidos oito funcionários, cada um de uma área diferente. A medida atingiu trabalhadores de vários cargos e tempo diverso de contrato de trabalho.

No entanto, nenhum gestor foi afetado, embora fossem os responsáveis por validar a jornada de trabalho de seus funcionários, e não houve nenhuma advertência ou orientações prévias a esses trabalhadores.

“Considerando todo o apurado e todas as informações a que o Sindicato teve acesso, a entidade entende que, sendo uma prática comum no banco e sem qualquer advertência anterior, a medida aplicada a esses trabalhadores foi severa demais, razão pela qual insiste no pedido de reversão para dispensa sem justa causa.”

Marcelo Gonçalves, diretor do Sindicato

‘Saí do banco como se fosse um ladrão’

Um dos demitidos conta que o BNP possui dois sistema de ponto eletrônico. Um deles é validado pelo gestor direto (Sinergy) e outro pelo diretor (Clarity).

Ele relata que às vezes começava a jornada de trabalho no escritório e finalizava em casa; outras vezes iniciava a jornada em casa, antes do horário, porque tinha de validar processos realizados em países com fusos horários diferentes.

Segundo o trabalhador, estes procedimentos eram de conhecimento dos seus superiores, que validavam os pontos, o que não impediu a demissão por justa causa pelos motivos citados.

“Fiquei bem chateado, porque eu não estava fazendo sacanagem. Eu estava trabalhando. Não fomos nem advertidos [antes da demissão]. O meu gerente e meu diretor sabiam e validavam meu ponto. Isso acontecia desde que eu estava no departamento. Outras pessoas faziam o mesmo, mas não foram demitidas. Saí do banco como se fosse um ladrão, julgaram minha demissão em quatro minutos. Não deram tempo para me explicar”, desabafa.

A demissão dele e dos colegas ocorreu no dia 16 de outubro pela manhã. Ainda segundo o bancário, no fim do mesmo dia o BNP enviou um e-mail a todos os empregados com novas regras proibindo exatamente as situações que o levaram a demissão – uma indicação clara de que as práticas não eram proibidas antes da dispensa, e eram comuns entre os empregados em razão de suas atividades e especificidades.

“Depois da nossa demissão criaram regras novas com base naquilo que nós fazíamos e que era de certa forma permitido. Minha performance sempre foi extremamente alta, mas não olharam avaliações de desempenho para a demissão. Sempre tive notas altas, mas tudo isso foi jogado fora. Para mim isso pegou bastante. Dei o sangue por muito tempo e isso não valeu nada. Os meus colegas perguntaram para o RH por que fomos demitidos e disseram que foi por ‘mal comportamento’, como se tivéssemos feito algo de errado”, relata.

‘Estou perplexo até agora’

Outro trabalhador conta que no dia da sua demissão, um integrante do RH o chamou para uma reunião via Teams. Nela, ele foi questionado se pegava a senha de outro colega para registrar o seu próprio ponto eletrônico.

Ele explicou que era uma prática um colega de trabalho usar o computador de outro para fazer o registro do ponto, e que nunca houve advertência ou orientação do banco sobre proibição neste sentido. A situação, contudo, foi usada para justificar a demissão.

“Ele [funcionário do RH] disse ‘você está demitido por justa causa. Você acabou de confessar’ Eu perguntei, ‘confessar o quê?’. Ele disse ‘Não tem mais o que conversar’. E desligou. Passou duas horas e veio o motoboy, pegou o crachá e a máquina, e trouxe a carta de demissão por justa causa, que eu não assinei”, relata.

“Foram 21 anos de banco, minha atenção nunca foi chamada por nada que desabonasse minha conduta. Eu era muito bem quisto por todos, mas a demissão sujou meu nome dentro da empresa. Tive de explicar para umas 50 pessoas o que o banco fez comigo. A demissão faz dois meses. Estou perplexo até agora, procurando entender. Não avisaram nem os gestores. Tomaram a decisão por conta própria e só depois avisaram os meus gestores”, acrescenta.

Compliance vaza informações

Outro ponto a ser ressaltado é que, na reunião com o BNP, o Sindicato teve conhecimento de que o canal disponibilizado pelo banco para denúncias é falho, já que um denunciado teve acesso ao conteúdo da denúncia que um dos demitidos fez contra ele.

Portanto, essa é a razão dos empregados não confiarem no compliance interno, canal em que a identidade não é preservada e ainda podem sofrer represálias e perseguição. Por isso, a orientação do Sindicato é para os bancários fazerem denúncias no Canal de Denúncias da entidade, que garante o sigilo absoluto do denunciante.

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