Pular para o conteúdo principal
Chapéu
Irresponsabilidade social

Audiência na Câmara de Embu das Artes expõe desrespeito do Santander com a população

Imagem Destaque
Foto de dirigentes do Sindicato e vereadores no plenário da Câmara Municipal de Embu das Artes

Embu das Artes, município da Grande São Paulo, tem quase 260 mil habitantes e apenas uma unidade do Santander, com quatro funcionários, e que é uma agência de negócios, ou seja, voltada para o segmento empresas. Portanto, não oferece à população os serviços bancários essenciais. Isso significa que se um morador de Embu precisar desses serviços terá de se deslocar dezenas de quilômetros até municípios mais próximos como Cotia, Itapecerica da Serra ou Taboão da Serra.

Esse problema foi discutido, nesta sexta-feira 5, em audiência pública na Câmara Municipal de Embu das Artes, uma iniciativa do vereador Uriel Biazin (PT), e que contou com a contribuição do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e participação massiva de diversos dirigentes. O vereador destacou que o Santander foi convidado para que, como parte citada, tivesse a oportunidade de se pronunciar sobre o tema, mas que o banco não havia mandado nenhum representante.

“Além da fraude trabalhista que o Santander vem cometendo, o fechamento de agências em todo o país é um desrespeito aos brasileiros. Reforça o descompromisso do banco espanhol com a população. Mesmo pagando tarifas e juros altíssimos, os clientes são empurrados para o autoatendimento, e isso atinge com mais força a população idosa, que tem dificuldade em usar os canais digitais. O banco espanhol, que opera como concessão pública, e que tem no Brasil a segunda maior parcela do lucro mundial do grupo, deveria exercer sua responsabilidade social”, destacou a secretária-geral do Sindicato, Lucimara Malaquias.

Em nome do Sindicato, a dirigente reivindicou que a Câmara e os vereadores se juntem a essa luta, ajudando a mobilizar o poder público, a comunidade e os órgãos de proteção ao consumidor.

“A população merece atendimento presencial, digno e humanizado e contamos com o apoio desta Casa para isso”, finalizou.

Fechamento de agências

A técnica do Dieese, a economista Cátia Uehara apresentou dados que comprovam a falta de responsabilidade social do banco.

O lucro líquido real do Santander em 2024 foi de R$ 13,5 bilhões, um crescimento de 17,6% em relação ao resultado de 2023, quando o banco lucrou R$ 9,4 bilhões. Isso faz do Brasil o país responsável por 20% do lucro global do grupo, ficando atrás apenas da Espanha, país sede.

Apesar do resultado extraordinário, o banco fecha unidades físicas no país. De acordo com dados do Banco Central, entre 2019 e 2024 foram encerradas 301 agências do Santander em todo o país, uma redução de 11%.

Entre 2019 e 2024, o Santander fechou, em média, uma agência por semana. E no estado de São Paulo, a redução foi ainda mais acentuada: queda de 16% no número de agências no período (-211). Em 2025, já foram fechadas 143 agências.

Fraude trabalhista

Mesmo fechando unidades físicas, houve aumento do número de empregados. A técnica do Dieese explicou que, em seu balanço, o banco informa apenas o número total de empregados da holding: eram 47.819 em 2019 e 55.656 em 2024, um crescimento de 16,4%.

Mas há uma contradição nesses dados, apontou Cátia Uehara. Isso porque, apesar do crescimento no número de empregados, as despesas com pessoal do grupo caíram 4,1%, entre 2019 e 2024.

A despesa média por trabalhador apresentou uma queda de 17,6%. Passarem de R$ 265 milhões, em 2019, para R$ 218 milhões, em 2024.

“Isso porque o Santander tem promovido a transferência de trabalhadores do banco para empresas criadas pelo grupo, e esses trabalhadores transferidos são retirados da categoria bancária e, assim, têm salários menores, jornada maior e não usufruem dos direitos previstos na Convenção dos bancários.”

Essa manobra do banco, como foi ressaltado por diversos dirigentes durante o debate, é o que caracteriza a terceirização e a fraude trabalhista promovida pelo Santander. Além de caracterizar prática antissindical, pois cumpre também a função de enfraquecer a organização dos trabalhadores, tirando deles o direito de serem representados por uma entidade forte e atuante, como o Sindicato dos Bancários.

“Isso tem impactos na sociedade como um todo: do ponto de vista dos trabalhadores há uma precarização do emprego, uma fragmentação da categoria; e para a sociedade, a redução de salários reduz o consumo dos trabalhadores, o que impacta negativamente no PIB do país e na arrecadação, com perdas no fundo do FGTS e do INSS”, destacou a economista.

Mais dados do desrespeito

A diretora do Sindicato e coordenadora da COE Santander, Wanessa de Queiroz, reforçou que o altíssimo lucro do Santander no Brasil não resulta em nenhum benefício ao país, à população, aos trabalhadores ou aos clientes.

“Houve um crescimento de 256% da carteira de clientes, o que gera uma sobrecarga desumana aos nossos colegas, isso tem agravado os números de adoecimento, o que, por sua vez, impacta a Previdência Social”, destacou.

“E quem está ganhando com todas essas violações? Os 54 altos executivos do grupo, que ganharam R$ 11 milhões de bônus no ano, quase R$ 1 milhão por mês, além de sua remuneração mensal. Além disso, grande parte do lucro do banco no Brasil é remetida à casa matriz, na Espanha”, acrescentou.

Prejuízos aos aposentados

A diretora executiva do Sindicato e da Abaesp, Vera Marchioni, ressaltou os ataques do banco aos aposentados, principalmente aos aposentados oriundos do Banespa, comprado pelo Santander em 2000, apesar de intensa luta travada pelo Sindicato.

“Com muita luta conseguimos que quase 12 mil trabalhadores se aposentassem após a privatização do Banespa, e o Santander tem promovido um ataque sistemático aos direitos desses aposentados. Eles estão no plano que é metade custeado pelo Santander e metade pelos trabalhadores, mas o banco quer retirar do seu balanço toda a despesa com pós-emprego, tanto na previdência quanto na assistência à saúde. Mesmo com todo esse lucro, o banco insiste em retirar o direito dos trabalhadores”, denunciou Vera.

Audiências em São Paulo

Esta é a segunda audiência pública em São Paulo. A primeira ocorreu na Assembleia Legislativa do Estado – Alesp, em junho deste ano, por iniciativa do deputado estadual Luiz Cláudio Marcolino, ex-presidente do Sindicato. O deputado não pode comparecer à audiência de Embu das Artes, mas mandou uma representante que reforçou o compromisso de seu mandato na luta por mais atendimento à população e contra a fraude trabalhista do banco espanhol.

seja socio