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Centro é palco para artistas e lutas da categoria

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São Paulo - Cerca de 2 milhões de pessoas circulam diariamente pela região central da cidade de São Paulo. Esse espaço representa geograficamente 0,5% de todo o município. Os calçadões do centro novo e velho, fechados para o trânsito de carros, são palco perfeito para os artistas de rua e para as mobilizações dos trabalhadores e dos movimentos sociais. É assim há muitos anos e quem frequenta o Edifício Martinelli, onde funciona a sede do Sindicato, vive, naturalmente, um pouco dessa cultura urbana.

> Página especial com os perfis dos 90 anos

São estátuas vivas, cantores, violinistas, comediantes que se misturam a passeatas e protestos que clamam por direitos e uma sociedade justa. Muitos desses artistas fizeram parte da construção da história da categoria. As manifestações organizadas pelo Sindicato são acompanhadas por bandas de música, em uma tradição que vem desde os anos 1950. Sempre foi uma forma de chamar atenção e mostrar que os bancários estavam nas ruas reivindicando. E assim é até hoje.

Dedé (foto ao lado) e a Banda do Peru (foto abaixo) são bons exemplos desse casamento entre arte e protesto. Divertiram quem passava pelas ruas do Centro desde a década de 1970, animando manifestações e greves da categoria bancária. No ano passado, a região perdeu um pouco dessa alegria com a morte do cantor Dedé, aos 61 anos, e do saxofonista e líder da banda, o Seu Peru, aos 75 anos.

Dedé – O primeiro tinha alma de diva, com cabelo quase sempre descolorido, roupas grudadas ao corpo, extravagante. Dedé era office-boy de um cartório no Centro e, no início da década de 1990, surpreendeu os bancários ao cantar o Rock das Aranhas, de Raul Seixas, em uma grande manifestação que fechou agências bancárias da Rua Boa Vista, esquina com a Rua 3 de Dezembro, local que servia como palco de fortes mobilizações do Sindicato. Ao presenciar a cena, o então dirigente sindical Nelson Silva (que foi personagem nesta seção na primeira FB 90 anos), reconheceu seus dotes artísticos e o convidou para cantar em atos do Sindicato.

A tensão e o cansaço de dezenas de clientes nas filas eram muitas vezes amenizadas quando Dedé entrava cantando: “Lá vem o Brasil, descendo a ladeira”... Nas ruas, era comum trabalhadores procurarem o artista de alma livre para pedir música em homenagem a algum colega. Cantarolar sua versão de Borbulhas de Amor, de Fagner, era um dos pedidos constantes dos bancários.

Peru – A Banda do Peru era mais formal. Seus integrantes quase sempre envergavam o clássico uniforme de cor vermelha para animar inúmeros protestos. Entrava ou saia músico, mas o mentor da banda, José Maria da Silva, o Seu Peru, estava sempre preparado para iniciar a apresentação tocando seu saxofone.

A canção mais pedida pelos bancários era In The Mood, de Glenn Miller, trilha sonora que abria e fechava os atos. Enquanto Seu Peru tocava, era confusão pra lá, polícia pra cá, grito de reivindicações por todo lado. Ele presenciava tudo de olhos bem abertos, mas sem parar de tocar.

Pode-se dizer que a luta do Sindicato teve trilha sonora nesses 90 anos e orquestrada por Dedé e pela Banda do Peru. E que a categoria continuará cheia de ritmo, inspirada pela arte tão bem simbolizada nessa maneira de fazer a luta da categoria.


Gisele Coutinho - 22/4/2013

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