São Paulo - Até programas de auditório estão sendo usados pelo presidente ilegítimo Michel Temer (MDB-SP) para fazer propaganda enganosa e tentar convencer a população de que acabar com a aposentadoria de milhões de brasileiros é bom para o país e necessário para a Previdência não quebrar. No domingo 28 Temer esteve no programa Silvio Santos e na segunda-feira 29 no Ratinho, do SBT, uma concessão pública em canal aberto de televisão.
“O uso abusivo dos meios de comunicação para impor uma agenda política é um atentado contra a democracia e contra o próprio papel que esses meios de comunicação deveriam cumprir, que é o de oferecer à sociedade pontos de vista diversos para que ela possa formar opinião sobre os assuntos fundamentais do país", pontua a jornalista Renata Mielli, do FNDC Democratização da Comunicação
Leia editorial do Sindicato sobre o assunto:
Temer e Sílvio
Um presidente da República ilegítimo vai a um programa de televisão que cheira a mofo fazer propaganda da reforma da Previdência e, no final, entrega ao apresentador 50 reais. Numa brincadeira de péssimo gosto, Michel Temer – que vem destruindo o Brasil desde o golpe de maio de 2016 – aludiu ao quadro “topa tudo por dinheiro” ao pagar Sílvio Santos no ar.
O apresentador, que faz apologia ao machismo, à gordofobia, misoginia, homofobia e tudo mais de ruim que arrasa as telas da televisão brasileira há décadas, soltou uma de suas famosas risadas. Mas não teve graça, nenhuma.
O que aconteceu no domingo 28 no SBT escancara o Brasil surreal em que estamos vivendo, onde o governo e seus apoiadores tripudiam do povo, da pobreza, retirando direitos conquistados a duras penas. Onde bandidos com malas seguem impunes, enquanto se determina condenações onde não há provas. E se utiliza um meio de comunicação que é concessão pública para propagandear a mentira deslavada de que sem reforma a aposentadoria vai acabar.
O que precisa acabar é esse governo que só tira dos mais pobres, dos trabalhadores, para fazer caixa e encher os cofres dos mais ricos.
CPI comprova: não há déficit – “A Previdência é superavitária”, afirma o senador Paulo Paim, relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado, que investigou as contas da Previdência Social brasileira e concluiu: o problema que existe é de gestão, má administração, sonegação, desvios e roubalheira.
Em sua conta no Twitter, Paim reagiu indignado à entrevista de Temer no programa de Silvio Santos. “Lamentável. No Silvio Santos, ele [Temer] disse que em pouco tempo não haverá dinheiro para pagar as aposentadorias. O Brasil já está acostumado com sua retórica pífia. Como diz a música... ‘pega na mentira’".
> Cartilha explica: não há déficit na Previdência
Segundo Paim, para acabar com o que eles chamam de rombo nas contas do INSS basta “cobrar dívidas das empresas, combater sonegações e fraudes, acabar com desonerações, reduzir os altos juros para o pagamento da dívida pública”, conforme sugeriu o relatório final da CPI da Previdência. “A arrecadação aí será de trilhões de reais”, destaca o senador.
Os números consolidados pela CPI comprovam que a Previdência não vai quebrar amanhã e que as contas fecharam no azul: entre 2000 e 2015, o superávit foi de R$ 821,7 bilhões. Em contrapartida, nos últimos 15 anos, a Previdência deixou de arrecadar mais de R$ 4,7 trilhões com desvios, sonegações, fraudes e dívidas.
Temer não sabe o que fala – A primeira resposta de Temer ao ser perguntado por Silvio Santos sobre a necessidade da reforma da Previdência já é uma clara demonstração de que o atual presidente, que assumiu o posto sem votos, não sabe do que está falando. É a conclusão a que chegou o presidente da CUT, Vagner Freitas, ao desconstruir os argumentos falsos utilizados pelo presidente ilegítimo no programa: ele relacionou o desmonte da Previdência ao aumento da inflação e dos preços dos alimentos no supermercado. Foi socorrido pelo apresentador, que lembrou o presidente que a inflação está controlada. Temer aprontou mais uma ao dizer que a expectativa de vida do brasileiro irá ultrapassar os 120 anos, daí a necessidade de cortar a aposentadoria do trabalhador agora, segundo ele.
A informação é contestada pelo presidente da CUT, Vagner Freitas. “Temer esqueceu de citar, por exemplo, a situação dos homens no Maranhão e Alagoas, onde a expectativa de vida não passa de 66 anos”, disse o dirigente, referindo-se aos dados do IBGE.
Vagner lembra que em bairros da periferia da capital do Estado mais rico do país, as pessoas sequer chegam aos 60 anos. “Tem bairros em que a expectativa não chega aos 65 anos”, disse ele, citando dados do Mapa da Desigualdade 2017, da Rede Nossa São Paulo, que mostram que um morador do Jardim Ângela, na perifeira da zona sul, vive, em média, 55,7 anos. A idade mínima exigida para que os homem tenham direito à aposentadoria é de 65 anos, segundo texto da nova proposta de reforma da Previdência de Temer.
“Essa reforma vem para aumentar ainda mais a concentração de renda no país, que já é grande e desigual”, afirma o secretário de Comunicação da CUT, Roni Barbosa, destacando os dados divulgados recentemente pela organização não-governamental britânica Oxfam, que mostram que os cinco bilionários brasileiros concentram patrimônio equivalente à renda da metade mais pobre da população do Brasil.
“Enquanto isso, o governo continua mentindo e a população segue perdendo direitos”, conclui Roni.