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Doria favorece farmácias e laboratórios privados

Linha fina
Secretário de Saúde de São Paulo anuncia que município comprará medicamentos diretamente da rede comercial. "Isso é um programa de desmonte do SUS", afirma a vereadora Juliana Cardoso
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Luciano Velleda para a Rede Brasil Atual
10/2/2017


São Paulo – A prefeitura de São Paulo anunciou na quarta 8 a doação de 165 tipos de medicamentos de atenção básica, “sem contrapartida”, como gosta de salientar o prefeito João Doria (PSDB), para suprir a falta de remédios na rede municipal. Serão 380 milhões de comprimidos a serem entregues nos próximos dois meses. A ação emergencial foi anunciada por Doria após acordo fechado com representantes de 12 laboratórios farmacêuticos. “É um momento em que sabemos ser preciso colaborar com a prefeitura”, disse o presidente do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos do Estado de São Paulo, Nelson Mussolini.

Na prática, entretanto, a “colaboração” pode ser uma espécie de investimento da indústria farmacêutica para a obtenção de lucros mais vultosos em breve. Isso porque a gestão Doria se prepara para anunciar nos próximos dias o programa Remédio Rápido, no qual a prefeitura pretende distribuir os medicamentos do SUS por meio da rede privada de farmácias, e não mais pelas unidades básicas de saúde.

Segundo anunciou ontem o secretário de Saúde do município, Wilson Pollara, o programa Remédio Rápido comprará diretamente os medicamentos “que já estão nas prateleiras” das farmácias da rede privada.

Considerando que a doação anunciada, se fosse comprada teria um custo em torno de R$ 35 milhões para os cofres públicos, e que o executivo municipal gasta cerca de R$ 300 milhões por ano com compra de remédios, o programa Remédio Rápido irá canalizar uma parte significativa do seu orçamento para a rede privada de farmácias e, consequentemente, para os laboratórios que a abastecem – os mesmos que agora doam medicamentos.

“Isso é um programa de desmonte do SUS, desmonte daquilo que foi tão difícil colocar na Constituição e depois implementar. É a quebra do sistema”, pondera a vereadora Juliana Cardoso (PT), que ainda destaca o atendimento diferenciado oferecido pelos profissionais das farmácias públicas, auxiliando o paciente a usar o medicamento.

Ela também questiona o aspecto legal de transferir os medicamentos para a rede privada de farmácias, cabendo a Prefeitura escolher quais empresas participarão do programa. “São cartas carimbadas. É pensar o serviço público como negócio. Quando você trata a política pública como simples negócio, a qualidade é péssima”, afirma.
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