Um convite ao conhecimento e a um mundo onde ainda é possível sonhar, mesmo com toda a ignorância dominante e as sucessivas tentativas de censura por parte de alguns governantes às artes. Na Barragem, periferia no extremo sul de São Paulo, a líder comunitária Sônia Estela, conhecida no movimento sindical como Fumaça, materializou, ao lado das irmãs Sidneia e Silvani, do coletivo Perifeminas, um sonho: o de democratizar no bairro, um dos mais pobres da capital paulista, o acesso à leitura.
Com a ajuda de moradores da região, a pracinha da Rua Dois agora tem uma biblioteca comunitária funcionando em um antigo ônibus revitalizado em esquema de mutirão. No entorno, vasos de flores feitos com pneus, ao lado de placas com alguns dizeres como “amizade”, "afeto" e “solidariedade”, embelezam a praça.
Dentro do veículo, porém, um novo colorido, o dos livros, reluz nos olhos principalmente dos mais novos. As obras, cerca de 400 neste primeiro momento, foram doadas em sua maioria por dirigentes e funcionários do Sindicato, em uma corrente de solidariedade, amor e socialização do conhecimento.
“Doar um livro é um gesto de amor. É um ato transformador, tanto para quem o faz quanto para os que recebem. Além do acesso ao conhecimento, a literatura nos permite sonhar, argumentar, contestar, mudar e revolucionar”, enfatiza Sônia Estela.
Além das doações de livros, a líder comunitária destaca o voluntariado dos vizinhos. “Foi uma corrente de amor ao próximo, de solidariedade, de esforço conjunto e de ajuda mútua. É uma melhoria para as pessoas, para a região, para o nosso crescimento enquanto ser humano. Diferentemente do “voluntariado” praticado por alguns bancos, como o do Santander, este tem um caráter social, de transformação, humanidade, entrega”, acrescenta.
No próximo dia 29, outro projeto parceiro do Sindicato, o CineB Solar, este sustentável e de democratização do acesso ao cinema nacional, estará na pracinha da Barragem exibindo o filme “Selvagem”, de Diego da Costa. Os convites para a sessão ao ar livre podem ser retirados com Silvani, no próprio ônibus-biblioteca.
Para que a biblioteca da Barragem continue a levar histórias e conhecimento para a região, toda a ajuda é bem-vinda. Bancários interessados em doar livros em bom estado podem fazê-lo diretamente a um dirigente do Sindicato (veja aqui os endereços e contatos das regionais) ou pessoalmente na Sede da entidade, na Rua São Bento, 413 (Edifício Martinelli), Centro.
“Aqui os livros censurados pelo governo de Rondônia; principalmente os escritos por Machado de Assis, Mário de Andrade, Nelson Rodrigues e Rubem Fonseca; são bem-vindos”, salienta Sônia Estela.