São Paulo – Sem bancos públicos, dois milhões de estudantes não estariam no ensino superior, uma vez que o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) é viabilizado pelo Banco do Brasil e, principalmente, pela Caixa. Sem bancos públicos, os alimentos na mesa do brasileiro seriam mais escassos e caros, já que a agricultura familiar – responsável pela produção de 70% dos alimentos consumidos no país – é financiada sobretudo pelo BB. Sem bancos públicos, seria o fim do sonho da casa própria, já que o financiamento habitacional, incluído o programa Minha Casa Minha Vida, é feito pela Caixa, que já forneceu R$ 370 bilhões em crédito habitacional, enquanto todos os bancos privados somados financiaram apenas R$ 86 bilhões.
Os dados acima, que demonstram a importância dos bancos públicos para a sociedade brasileira, foram apresentados pelo economista e professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) João Sicsú na quinta-feira 9, durante mesa de debate no Congresso Extraordinário da Contraf-CUT.
“Defendemos os bancos públicos, pois são o braço do Estado num dos setores mais poderosos do país, o sistema financeiro. Não é só isso, os bancos públicos têm de ter um papel social, não só econômico. Por isso, têm de ter sua existência garantida (...) O banco público tem que olhar para a sociedade e trazer resultados para a sociedade, diferente dos privados”, destacou o economista.
Para Sicsú, o governo Temer tem uma visão de que problemas econômicos podem ser resolvidos por bancos privados e que por isso bancos públicos não são necessários. “Esse governo não tem sensibilidade para o social. Possui uma visão ideológica de que o estado deve servir ao setor econômico e não à sociedade”.
Estratégia - Também presente no debate, o diretor de Seguridade da Previ, Marcel Barros, defendeu que o movimento sindical bancário deve levar para a sociedade argumentos de interesse geral, e não só da categoria, para mobilizá-la em defesa dos bancos públicos.
“Nós queremos um banco que atenda às necessidades dos cidadãos brasileiros. Se o pequeno empresário e o trabalhador não enxergar nos bancos públicos um parceiro para o seu crescimento, não vai defender a sua importância”, enfatizou.
Unidade – Outro integrante da mesa, o coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos, destacou a importância da unidade dos movimentos sociais e sindical na resistência aos ataques promovidos pelo governo Temer contra os trabalhadores.
“A defesa dos bancos públicos, em especial da Caixa, é um ponto de convergência entre os movimentos de moradia e a categoria bancária. A luta pela manutenção dos bancos públicos como instrumentos de desenvolvimento social congrega o trabalhador bancário e os movimentos sociais. O desmonte da Caixa é o desmonte do Minha Casa Minha Vida. Voltar a Caixa exclusivamente para o lucro é o mesmo que desmontar sua função social”, exemplificou Boulos.
15 de março – Por sua vez, o presidente da CUT, Vagner Freitas, aproveitou o debate para convocar toda a categoria bancária para o Dia de Paralisação Nacional contra as reformas da Previdência e trabalhista, no dia 15, e para uma grande mobilização no dia 27, em Brasília, para impedir a aprovação do projeto que libera a terceirização ilimitada.
“Estamos vivendo um momento ímpar na história do país, um golpe. A classe trabalhadora tem de fazer uma grande paralisação. Mostrar a nossa força. Para isso, a categoria bancária deve ser a ponta de lança no dia 15, conclamando diversas outras para derrotar a política neoliberal do governo Temer. Não é papel da CUT negociar com governo golpista. O nosso papel é derrotá-lo”, concluiu Vagner.
Campanha Nacional – Encerrada a mesa de debates, o presidente da Contraf-CUT, Roberto Von der Osten, apresentou a campanha nacional em defesa dos bancos públicos, que terá o mote “Se tem banco público, tem desenvolvimento”.