São Paulo – O Brasil é o quinto país no ranking de assassinatos de mulheres. Ocorrem 13 feminicídios por dia. São 4,8 homicídios por grupo de 100 mil mulheres, média 28 vezes superior a de 83 países pesquisados. Estima-se que são praticados 527 mil estupros por ano no país. Só 10% dos casos são notificados à polícia. Os dados, divulgados em relatório da Anistia Internacional, demonstram que o Brasil é um dos piores países do mundo para se nascer mulher.
Para a psicóloga e ativista Rachel Moreno, autora do livro A Imagem da Mulher na Mídia, a grande mídia no Brasil naturaliza e banaliza as diferentes formas de violência de gênero.
“Você tem um discurso persistente na maior parte da grande mídia que reproduz a violência, que naturaliza a violência, que nos habitua a um nível maior de violência, que repete os estereótipos o tempo todo. Isso significa reforçar uma visão machista na sociedade”, afirmou em entrevista à Rádio Brasil Atual.
Para a psicóloga, a grande mídia, uma “educadora informal extremamente poderosa”, não tem o cuidado de divulgar notícias relacionadas à violência de gênero de forma crítica. “Por exemplo, quando aconteceu o estupro de uma menina por 33 rapazes, um mês depois aumentou a quantidade de estupros. Acaba estimulando ao invés de inibir”, exemplifica.
Rachel lembra ainda que não é somente através de um noticiário acrítico que ocorre a banalização da violência contra a mulher, mas também em obras de ficção e programas humorísticos. “Até pouco tempo atrás a Globo exibia um quadro que mostrava o assédio contra uma mulher no transporte público e a amiga falava para a outra deixar de ser boba, aproveitar. Ou seja, uma forma de fazer humor naturalizando a violência”.
Ausência de legislação – De acordo com a psicóloga, o Brasil carece de legislação que puna o estimulo ao ódio e a naturalização da violência nos meios de comunicação.
“A Espanha estabelece uma série de regras para a mídia divulgar um caso de violência. Passam por ter um especialista que explique o jeito de escapar disso e qual a punição. E tem de acompanhar o caso até o fim para mostrar que a violência é punida. Porque se não estimula ao invés de inibir. Já na Argentina se recomenda que todos os meios de comunicação evitem todos os tipos de violência de gênero como violência patrimonial, sexual, psicológica e inclusive simbólica. E por violência simbólica eles entendem a reprodução de estereótipos e preconceitos. Aqui no Brasil não temos nada”, relata.
Política - Para a secretária da Mulher da Contraf-CUT e funcionária do Bradesco, Elaine Cutis, o governo Temer e seus aliados no Congresso reforçam a naturalização da violência de gênero e os estereótipos machistas em relação às mulheres.
“Hoje temos tanto no governo federal como no Congresso uma configuração de forças extremamente conservadora e retrógrada, que reforça um estereótipo cultural da mulher como submissa ao homem, que por sua vez está em posição de autoridade. Um olhar que, com muita luta, as mulheres já haviam vencido. Há muito deixamos de ter de assumir o papel de recatada e do lar”, critica. “Os números de feminícidios no Brasil, apesar dos avanços obtidos com a Lei Maria da Penha, são assustadores. É preciso combater qualquer forma de banalização da violência contra a mulher, seja pela grande mídia ou na política”, conclui Elaine.