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Chapéu
História

Mangueira vence carnaval no Rio louvando heróis dos 'porões' e Marielle Franco

Linha fina
Na comemoração, carnavalesco Leandro Vieira mandou recado para Bolsonaro: "O carnaval não é o que ele acha que é. O carnaval é isso e ele devia mostrar para o mundo o carnaval da Mangueira"
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Foto: Reprodução Facebook

A Mangueira conquistou seu 20º título do carnaval carioca, sagrando-se campeã após apuração encerrada no início da noite de quarta-feira de Cinzas 6, no Sambódromo do Rio de Janeiro. O samba-enredo História pra ninar gente grande procurou louvar alguns heróis "de barracões", pedindo pra tirar "a poeira dos porões". 

A reportagem é da Rede Brasil Atual.

Em um dos versos, a tradicional escola carioca diz que "na luta é que a gente se encontra". Fala de um país "que não está no retrato" e mostra negros e índios como símbolos da resistência. 

No carnaval de SP, cresce a força da cultura negra. Na passarela, deu Mancha Verde

O enredo (confira a letra ao final do texto) cita vários personagens, inclusive recentes, como a vereadora Marielle Franco (Psol), assassinada há um ano. Mônica Benício, viúva de Marielle, desfilou pela escola. A vereadora também foi homenageada pela Vila Isabel, no Rio, e pela Vai-Vai, em São Paulo.

A cantora Alcione representou Dandara, companheira de Zumbi, outra personagem histórica do combate à escravidão. Leci Brandão é Luiza Mahin, guerreira que fugiu do flagelo da escravidão e lutou na revolta dos Malês. O veterano Nelson Sargento foi Zumbi dos Palmares.

"Aqui todo mundo tá vivo porque resiste", declarou o carnavalesco Leandro Vieira, mandando também um recado ao presidente da República. "Carnaval é a festa do povo, é cultura popular." 

A disputa foi acirrada. Depois da Mangueira, que terminou com 270 pontos, a Viradouro terminou em segundo, com 269,7 pontos, e a tradicional Vila Isabel em terceiro, com 269,4. Portela e Salgueiro fecharam em quarto e quinto lugares, respectivamente (269,3 pontos). Foram rebaixadas a Imperatriz Leopoldinense e a Império Serrano.

Recado para Bolsonaro

Após a confirmação da vitória, o carnavalesco da Mangueira, Leandro Vieira, exaltou a resistência dos homens e mulheres do povo que o inspiraram para criar o enredo da escola.

“Fazer esse carnaval da Mangueira, é fazer um carnaval de representatividade. Esses homens e mulheres aqui são os heróis do meu enredo, que merecem sempre serem exaltados. Aqui mora o que tem de melhor nesse país. Aqui todo mundo está vivo porque resiste, porque se fosse por outros motivos, ninguém dava em nada”, afirmou.

O carnavalesco também aproveitou o momento para mandar um recado ao presidente Jair Bolsonaro (PSL), envolvido em polêmicas durante o carnaval.

“É um recado político para o país todo, que tem que entender que isso aqui é importante. É um recado político também para o presidente mostrar que o carnaval é isso daqui, o carnaval é a festa do povo, o carnaval é cultura popular. O carnaval não é o que ele acha que é. O carnaval é isso e ele devia mostrar para o mundo o carnaval da Mangueira, o carnaval da arte, o carnaval da luta, o carnaval do povo e da cultura popular.”

Confira a letra do samba-enredo da Mangueira

 

 

 

Mangueira, tira a poeira dos porões
Ô, abre alas pros teus heróis de barracões
Dos Brasis que se faz um país de Lecis, Jamelões
São verde e rosa, as multidões

Mangueira, tira a poeira dos porões
Ô, abre alas pros teus heróis de barracões
Dos Brasis que se faz um país de Lecis, Jamelões
São verde e rosa, as multidões

Brasil, meu nego
Deixa eu te contar
A história que a história não conta
O avesso do mesmo lugar
Na luta é que a gente se encontra

Brasil, meu dengo

A Mangueira chegou
Com versos que o livro apagou
Desde 1500 tem mais invasão do que descobrimento
Tem sangue retinto pisado
Atrás do herói emoldurado
Mulheres, tamoios, mulatos
Eu quero um país que não está no retrato

Brasil, o teu nome é Dandara
E a tua cara é de cariri
Não veio do céu
Nem das mãos de Isabel
A liberdade é um dragão no mar de Aracati

Salve os caboclos de julho
Quem foi de aço nos anos de chumbo
Brasil, chegou a vez
De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês

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