O Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região foi surpreendido com notícias na mídia sobre uma cartilha de "estilo" distribuída pelo Banco Inter aos seus funcionários.
O e-book elenca diversos pontos que seriam "inimigos da imagem": lingerie marcando ou aparecendo; roupas com "bolinhas"; roupas amassadas ou furadas, com manchas ou partes desbotadas; acessórios, calçados e bolsas velhos, sujos ou estragados; unhas e sobrancelhas mal cuidadas; barba mal feita e cabelo sem corte; maquiagem borrada ou excessiva; cabelo sujo ou desarrumado; material de trabalho bagunçado, caneta com a tampa mastigada; cheiros fortes (excesso de perfume ou mau odor); roupas com pelos de animais de estimação ou outros resíduos como pó ou caspa; telefone celular com capinha velha, partes sujas, película quebrada; mau hálito e chulé.
O material gerou uma enorme repercussão negativa nas redes sociais, com críticas ao banco e memes ironizando a cartilha.
Sindicato cobra explicações
Diante do óbvio constrangimento provocado pela distribuição da cartilha aos funcionários do Banco Inter, o Sindicato irá solicitar uma reunião com o Banco Inter para obter importantes esclarecimentos sobre o episódio.
"Esta atitude do Banco Inter, de distribuir uma cartilha de estilo, nos parece algo ultrapassado, coisa do século passado, que não respeita a diversidade e a individualidade do trabalhador. Além disso, é muito importante entendermos alguns pontos como, por exemplo, o que seria um "cabelo sem corte" ou um "cabelo desarrumado". Sabemos que muitas vezes fazer este tipo de exigência estética, além de ser uma atitude invasiva e constrangedora, pode camuflar na sua subjetividade práticas racistas ou de preconceito de classe. Por isso, é muito importante que o banco esclareça seus objetivos com essa cartilha, ainda que nada nos pareça justificar o documento"
Neiva Ribeiro, secretária-geral do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região
"Outro ponto importante é que se existe uma exigência quanto ao vestuário, que os trabalhadores usem roupas novas, sempre bem alinhadas, entendemos que o caminho mais justo seria o banco fornecer uma verba ou auxílio específico aos bancários para este fim. Inclusive, o Sindicato e a Contraf-CUT podem intermediar um acordo coletivo neste sentido", acrescenta.
Para a secretária-geral do Sindicato, faltou ao Banco Inter o mínimo de sensibilidade ao abordar também na cartilha aspectos de higiene pessoal como mau-hálito e chulé. "Ao invés de constranger e expor os trabalhadores com essa cartilha, o banco poderia ter uma postura mais acolhedora e respeitosa. Poderia buscar, por exemplo, saber se um trabalhador com mau hálito não está com a sua saúde mental abalada, talvez pela pressão por metas, o que pode levar a problemas estomacais", diz Neiva.
Em contato com o Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte e Região, onde está a sede do Banco Inter, com mais de 3.000 trabalhadores, o presidente da entidade, Ramon Peres, informou ao Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região que logo que o Banco Inter lançou a cartilha, em uma live, inúmeros trabalhadores entraram em contato para denunciar, indignados. A partir disso, o Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte e Região acionou o Banco Inter, que retirou o material do ar para readequações.
Ramom Peres fará uma participação especial no Momento Bancário, programa de webtv transmitido pelas redes sociais do Sindicato, para comentar o caso da cartilha de "estilo" do Banco Inter.
"Reforço a cobrança do Sindicato para uma reunião com o Banco Inter para esclarecimentos sobre a cartilha. Além disso, queremos ouvir os trabalhadores, entender como estão as condições de trabalho na instituição e saber a percepção dos bancários quanto a cartilha e como ela pode ter impactado a relação com os gestores. Em breve, convocaremos uma reunião virtual com os trabalhadores do Banco Inter, da nossa base, para entender o que está acontecendo no banco e definir nossa forma de atuação a partir disso", conclui a secretária-geral do Sindicato.
Caso os bancários do Banco Inter desejem denunciar questões relacionadas com exigências estéticas na instituição ou qualquer outro problema nas condições de trabalho, podem entrar em contato com o Sindicato por meio por meio da Central de Atendimento remota, pelo (11) 3188-5200, via chat, e-mail e WhatsApp (11 99930-8483), canais que funcionam das 9h às 18h, ou comparecer pessoalmente na sede do Sindicato (Rua São Bento, 413. Centro) a partir das 10h. O sigilo é garantido.