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Vagner quer formação para combater neoliberalismo

Linha fina
No Congresso da Confederação Sindical Internacional, presidente da CUT defende que o tema tem “relevância estratégica na disputa política e ideológica com o capital”
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Berlim - “A CUT entende que o investimento na formação da classe trabalhadora é chave para a construção de um novo modelo de sociedade, uma iniciativa com relevância estratégica na disputa política e ideológica com o capital.  Em tempos de neoliberalismo, onde os economistas e a mídia conservadora se unem por uma pauta regressiva, precisamos nos qualificar para oferecer a nossa alternativa”.

A afirmação foi feita pelo presidente da CUT, Vagner Freitas, no debate promovido pela central estadunidense AFL-CIO, nesta terça-feira 20, em Berlim, durante o Congresso da Confederação Sindical Internacional (CSI). O encontro reúne 1,5 mil delegados de 161 países até a sexta-feira 23.

De acordo com Vagner, a eleição do professor João Felício, secretário de Relações Internacionais da CUT, para presidir a CSI, possibilitará fazermos uma “revolução na educação” a nível internacional, por todo o acúmulo e experiência que trará à entidade.

Entre outras iniciativas, ressaltou o presidente cutista, a Central desenvolve uma parceria com a Universidade de Campinas (Unicamp), em que lideranças e trabalhadores de base têm aprofundado seus conhecimentos, num curso de mestrado em Economia voltado para o mundo do trabalho.  Com a  Universidade Global do Trabalho  (Global Labour University – GLU), disse Vagner, há vínculos com as Universidades de Kassel (Alemanha), Joanesburgo (África do Sul), Mumbai (Índia) e  da Pensilvânia (Estados Unidos), que oferecem cursos em Economia, Regulação do Trabalho, Direitos Internacionais e Globalização.

O presidente da AFL-CIO, Richard Trumka, também valorizou a necessidade de investimento na formação. "Num contexto de intensa disputa contra o retrocesso", declarou Trumka, "a ampliação dos investimentos na educação sindical e sua articulação com as mídias sociais são passos inadiáveis para democratizar o conhecimento e potencializar o enfrentamento".

O sindicalista, dos EUA, citou o exemplo positivo da CUT no seu relacionamento com a base para defender uma maior aproximação e troca de experiências entre as entidades filiadas à CSI.

Mídia - Um dia antes, na segunda 19, dirigentes da CUT denunciaram que os grandes conglomerados de comunicação, particularmente o “Financial Times” e o “The Economist”, têm atuado como instrumentos de desinformação e desestabilização da economia brasileira.

Compartilhando a mesa com sindicalistas da Bulgária, Espanha e Grécia – países cujas economias foram devastadas pela crise - o secretário de Organização da CUT, Jacy Afonso, sublinhou o papel das centrais sindicais brasileiras que, ao construir uma política de valorização do salário mínimo junto ao governo Lula, impulsionaram o crescimento do mercado interno. “Foi essa política que permitiu que o salário mínimo tenha subido 75% nestes últimos 11 anos, o que significou um aumento real para 32 milhões de trabalhadores, incluindo os aposentados”.

Segundo o dirigente, “este é o maior acordo coletivo do mundo, que ajuda o conjunto da economia, pois fez com que os demais trabalhadores recebessem também”. “O papel do Estado na recuperação do poder aquisitivo proporcionou este avanço, mobilizando os bancos públicos com o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para garantir crédito às empresas, o que garantiu a geração de 20 milhões de empregos formais em 11 aos, quase dois milhões ao ano. E isso só foi possível devido à ação unitária do movimento sindical, que se enfrentou com a verdadeira lavagem cerebral, com o atraso do ponto de vista ideológico que é divulgado diariamente pelos meios de comunicação”, concluiu Jacy Afonso.

Grades fortunas - Ainda na segunda 19, diante da plenária, João Felício, defendeu a necessidade da “taxação das transações financeiras, da herança e das grandes fortunas” e denunciou que os paraísos fiscais funcionam como polos irradiadores de especulação, concentração de renda e desigualdade.

“Se não houver transferência de renda dos ricos para os pobres, não haverá diminuição da pobreza e da miséria. Se ricos não pagam imposto, os Estados não terão recursos para investir na área social”, explicou João Felício. Conforme o líder cutista, os governos, na sua grande maioria, se aliam sempre com o capital contra o mundo do trabalho ao defenderem reformas que retiram direitos dos trabalhadores. “Quando surgem governos que não praticam estas políticas neoliberais, como foi Lula, a imprensa conservadora atua sempre para desgastar, agindo em defesa dos seus interesses”, declarou.

De acordo com João Felício, estas políticas acabam afetando a própria democracia, porque quando a população não se vê contemplada, acaba votando em partidos fascistas, que é o que está ocorrendo em muitos países da Europa. Sem qualquer regulação, alertou, “os organismos internacionais impõem a sua lógica, afetando a liberdade e a democracia, que não são questões abstratas, mas muito concretas”. Afinal, questionou, “qual é a liberdade de um trabalhador turco quando morre soterrado em uma mina ou é chutado por assessores do próprio governo?”


Leonardo Wexell Severo, da CUT, com edição da Redação - 20/5/2014

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