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Macri extingue busca a bebês roubados na ditadura

Linha fina
Presidente da Argentina fecha divisão responsável por investigação; avós da Praça de Maio dizem que denunciarão governo à Corte Interamericana de Direitos Humanos
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São Paulo – O governo de Mauricio Macri, na Argentina, anunciou na sexta-feira 6 o fechamento do Grupo Especializado de Assistência Judicial (Geaj), divisão que pertencia ao Ministério de Segurança e era responsável pela investigação da identidade de bebês sequestrados durante a ditadura militar naquele país (1976-1983), inclusive com a realização de testes de DNA.

O Geaj foi criado em 2009 e fazia parte da Direção de Direitos Humanos, que também foi extinta na nova estrutura do Ministério de Segurança anunciada por Macri.
A ONG Avós da Praça de Maio denunciou o que classificou como “esvaziamento” promovido pela ministra de Segurança, Patricia Bullrich, das áreas que sustentam as políticas de direitos humanos do país.

“As decisões tomadas no âmbito do Ministério de Segurança implicam um grave retrocesso nos padrões alcançados pelo Estado em matéria de investigação e julgamento de crimes de lesa-humanidade”, declarou a organização por meio de um comunicado.

A ONG também apelou para que Macri reverta a medida, que atribuíram à ministra. “Caso contrário, denunciaremos na Comissão Interamericana de Direitos Humanos o governo nacional pelo descumprimento do acordo de solução amistosa do ano de 2009”, informa ainda a nota.

“Não é que se deixa de buscar os netos. Essa é uma tarefa de toda a sociedade, mas esse grupo deixar de funcionar afeta a investigação”, disse Pedro Lachener, advogado das Avós, ao jornal argentino Tiempo. “Há meses notávamos que a área não estava funcionando bem. Argumentavam com desculpas de sobrecarga de trabalho e ontem [6 de maio] acordamos com a notícia. Esse grupo especial se põe em funcionamento quando as amostras não podem ser tomadas de maneira voluntária e faz falta uma intervenção de pessoas especializadas para as vítimas”, disse Lachener.

O governo da Argentina ainda não se manifestou publicamente sobre o caso.

As avós – A organização Avós da Praça de Maio foi fundada em 1977 e trabalha desde então na busca e identificação das crianças que foram tiradas dos pais, militantes de esquerda presos pelo Estado de exceção na Argentina. A prática era sistemática na ditadura naquele país e o objetivo era fazer com que bebês de pais considerados subversivos fossem criados por famílias de militares, evitando assim uma nova geração do que os ditadores classificavam como “radicais de esquerda”.

As Avós já identificaram mais de 100 pessoas que, quando crianças, foram tiradas de seus pais verdadeiros e desconheciam sua história, mas estima que ainda existam 300 não identificadas. Em 2014, a presidenta da organização, Estela de Carlotto, encontrou seu neto, Guido, após mais de 30 anos de buscas. Guido desconfiou de suas origens e se ofereceu para fazer o teste de DNA espontaneamente. A ONG incentiva jovens que tenham dúvidas a realizarem o teste e já identificou muitas pessoas dessa forma.


Redação, com Opera Mundi – 10/5/2016
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