São Paulo - Um pequeno território dos Estados Unidos no Caribe, onde a população, apesar de ter passaporte norte-americano, não pode votar para presidente do país. Onde 58% das crianças e adolescentes com idade inferior a 18 anos vivem na pobreza e uma em quatro pessoas sofre de fome ou insegurança alimentar. A condição precária da ilha tem se agravado a passos largos, diante de uma dívida perversa, que tem como um dos principais arquitetos e beneficiários o banco Santander.
Entenda – Essas condições perversas dos emissores de bônus da dívida de Porto Rico, entre eles diretores do Santander, determinaram a capitalização dos juros. Isso significa que, todos os anos, os juros acumulados são convertidos em capital e acrescentados ao montante inicial. É sobre esse montante, cada vez maior, que são calculados os juros dos anos seguintes. Como consequência, uma dívida que começou com US$ 4,3 bilhões encontra-se hoje em US$ 74 bi.
Essa quantia, somada à dívida com aposentadorias em Porto Rico, que chega a US$ 49 bilhões, alcançou um montante de US$ 123 bi, superando o PIB da ilha, que é de US$ 100 bilhões.
A solução encontrada – diferentemente do socorro do Estado norte-americano aos bancos, com injeção de bilhões em dinheiro público – foi a criação, pelo governo dos EUA, de uma Junta (Conselho de Controle Fiscal) formada por sete integrantes, dos quais dois, Carlos García e José González, são ex-diretores do Santander. Ou seja, os mesmos que arquitetaram as regras perversas com que se desenhou a emissão de bônus da dívida, agora fazem parte de um conselho que dita um remédio amargo para a ilha.
A Junta determinou medidas neoliberais profundas, com cortes de gastos públicos, de empregos e privatizações, que engendram mais miséria, desigualdade e dependência econômica do território. O plano de austeridade imposto prevê, entre outras medidas, redução de 20% nos dias de trabalho, redução de 10% nas pensões, cortes no orçamento público da Universidade de Porto Rico, cortes na área de saúde e fechamentos de escolas.