Há um ano, foi revelado uma série de casos de assédio sexual envolvendo o então presidente da Caixa, Pedro Guimarães (foto acima).
Na época, ao Ministério Público Federal (MPF), as vítimas relataram toques em partes íntimas, falas desrespeitosas, abordagens inapropriadas e convites inconvenientes por parte do chefe e presidente da instituição. Os casos de assédio teriam ocorrido durante atividades do programa Caixa Mais Brasil, realizadas em várias cidades do país. Desde 2019, o programa acumulou mais de 140 viagens, a maioria aos finais de semana, nas quais Pedro Guimarães e equipe ficavam hospedados no mesmo hotel, onde ocorria, segundo as trabalhadoras, o assédio sexual.
Em março deste ano, Pedro Guimarães virou réu e passou a responder criminalmente pelos episódios de assédio. Os detalhes da denúncia ainda são mantidos em sigilo, já que o processo contra o ex-presidente da Caixa corre em segredo na Justiça Federal do Distrito Federal.
“Desde que assumi a presidência estamos tomando todas as medidas para coibir a prática do assédio, também atuando na formação das equipes para uma gestão humanizada e cobrando na justiça os danos causados pela gestão anterior”, destacou Rita Serrano, atual presidenta da Caixa.
Como representante dos empregados no Conselho de Administração do banco na época dos fatos, Serrano cobrou celeridade na apuração sobre as denúncias de assédio sexual feitas contra o ex-presidente da Caixa, Pedro Guimarães, em junho de 2022. Rita ocupou o cargo de 3ª conselheira na Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), que atua como entidade de defesa dos direitos dos empregados.
O Sindicato dos Bancários se posicionou desde o início das denúncias, exigindo a apuração e o afastamento de Guimarães. Para Neiva Ribeiro, secretária-geral do Sindicato e presidenta eleita da entidade para o quadriênio 2023-2027, as denúncias que aconteceram na Caixa deixaram claro um esquema de assédio contra os trabalhadores.
“Existe uma singularidade neste caso. Os assediadores se organizaram em grupos coniventes com a violência. Não tenho dúvida que isso foi resultado de uma política assediadora da direção da Caixa, com funcionários, que inclui desrespeito e assédio, resultado de uma política de desmonte dos bancos públicos. O governo Bolsonaro, ao incitar a violência e o ódio à mulheres, homossexuais, diversos grupos e todas as instituições democráticas, que incluiu desde a imprensa até o próprio processo eleitoral, fortaleceu esse comportamento”, destacou. “É necessário que todos os envolvidos sejam responsabilizados, inclusive com a restituição de valores que a Caixa teve de pagar por conta de uma gestão assediadora e desastrosa”.
Campanha dos Bancários
Durante a Campanha Nacional Unificada 2022, os trabalhadores reivindicaram artigo específico de combate ao assédio sexual com as denúncias apuradas numa comissão bipartite (sindicato e empresa). Seis cláusulas foram aprovadas na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) da categoria, que ressaltam o repúdio às práticas de assédio, possibilitando que as vítimas façam denúncias a um canal específico.
No dia 13 de junho foi atualizado o novo canal de denúncias do Sindicato, que já registra 53 registros, o dobro da média mensal. “Através das denúncias recebidas, o Sindicato, após apuração, cobrará soluções efetivas aos problemas enfrentados pelos trabalhadores. 73% das denúncias se referem ao assédio moral”, ressalta Neiva. “O debate da igualdade de oportunidades é muito mais que um debate interno da categoria, é um debate civilizatório, e nós enquanto uma das categorias mais organizadas do país podemos e devemos dar a nossa contribuição à sociedade cobrando medidas mais efetivas dos bancos no combate a todo e qualquer tipo de preconceito e de violência, inclusive e principalmente no combate ao assédio moral e sexual dentro do sistema financeiro”.
No canal, os trabalhadores podem denunciar casos de assalto no local de trabalho; assédio moral; assédio sexual; descumprimento de lei ou da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT); discriminação (gênero, raça, orientação sexual, capacitismo, etarismo e outros); falta de funcionários ou terceirização; pressão no local de trabalho e cobrança metas abusivas; problema na estrutura física do local de trabalho (ar condicionado, falta de água, segurança e outros).
Basta! Não irão nos calar!
O Sindicato também disponibiliza, desde dezembro de 2019, o programa Basta! Não irão nos calar!, que oferece suporte às mulheres vítimas de abuso sexual, assédio moral e sexual, e violência de gênero na relação com seus pares no banco ou na sua vida familiar.
O programa atua no sentido de assegurar medidas de apoio às denunciantes contra possíveis agressores, buscando a devida apuração e punição, seja na esfera corporativa, civil ou penal, com atendimento jurídico gratuito oferecido pelo Sindicato.
Além das mulheres vítimas de violência doméstica e de gênero, o projeto Basta! Não irão nos calar! também oferece atendimento jurídico gratuito e especializado para negros e negras em situação de discriminação racial; e para pessoas LGBTQIA+ vítimas de discriminação motivada pela orientação sexual ou identidade de gênero.