Em artigo publicado no site Brasil 247, a presidenta do Sindicato, Ivone Silva, analisa a forma perversa como os bancos se mantém como o setor mais lucrativo do pais - com redução de estrutura física, empregos e aumento desproporcional das tarifas cobradas dos clientes -, sem colaborar para a retomada da economia.
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Confira a íntegra abaixo.
A lucratividade do setor bancário é a mais elevada da economia brasileira, quando comparada a outros setores de atividade. De acordo com estudo da consultoria Economatica que avaliou as empresas de capital aberto, o setor bancário com 21 instituições tem o maior lucro consolidado no primeiro trimestre de 2018 com R$ 17,59 bilhões. Crescimento de 14,18%, em relação ao mesmo período de 2017. O levantamento foi elaborado com base nos demonstrativos financeiros padronizados entregues à CVM.
Esses números são importantes para que tenhamos certeza de que os bancos atuantes no Brasil, mesmo em uma das piores recessões da história brasileira, apresentam uma capacidade financeira muito maior que os demais setores econômicos do país. O problema na verdade é na forma como esse lucro é construído. Os bancos não estão aumentado a oferta de crédito, ao contrário, estão reduzindo os empréstimos. Com sua principal atividade em queda os bancos aumentam seus lucros nesse período com redução de estrutura física (quase 600 agências foram fechadas em 12 meses), redução de empregos (mais de 13 mil postos de trabalho cortados em 12 meses) e aumento desproporcional no valor cobrado de tarifas dos clientes. Em 2017, por exemplo, a inflação de serviços bancários foi três vezes maior que a inflação geral do país.
Essa forma de atuação faz com que os bancos se tornem um obstáculo para a retomada da economia brasileira. Os fatores que fazem o mercado interno crescer são basicamente a elevação da massa salarial e a oferta de crédito da economia. E é, nesse último caso que entram os bancos. O crédito funciona como uma espécie de alavanca da economia. No entanto, o custo do crédito no Brasil é extremamente elevado, o que acaba travando o impulso produtivo dos agentes econômicos, que não conseguem comprometer seus orçamentos para pagar juros, os maiores do mundo. Além disso, temos uma oferta de crédito ainda insuficiente, que representa 46% do PIB, sendo que já chegamos a 54% do PIB ao final de 2015.
O que permite esse tipo de atuação é o fato de que desde os anos 90 houve uma enorme concentração do setor bancário, com uma série de fusões e aquisições que só fizeram aumentar o poder de mercado de cinco grandes bancos que hoje concentram mais de 87% do total de operações no país e, em função disso, praticam juros e tarifas elevadíssimos, sem paralelo em outro lugar do mundo.
No atual modelo a riqueza gerada nos bancos brasileiros é cada vez mais concentrada nas mãos de poucos acionistas, enquanto os trabalhadores da categoria bancária trabalham em condições cada vez piores com uma grande elevação da intensidade do trabalho em função das demissões; e os clientes pagam cada vez mais caro sem que tenham o numero de agencias e bancários suficientes para um melhor atendimento.
Para ajudar o Brasil a crescer, o setor bancário precisa começar a retribuir a sociedade, praticando juros civilizados, elevando a oferta de crédito, melhorando o atendimento à população através de contratações e contribuindo para melhorar as relações de trabalho e a estrutura salarial num país que ainda figura no topo do ranking mundial de desigualdade de renda.
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