Pular para o conteúdo principal
Chapéu
Memória

Histórica greve de 1985 é homenageada em sessão solene na Assembleia Legislativa de SP

Imagem Destaque
Imagem mostra personagens que fizeram a greve de 1985. Eles estão lado a lado na sala da assembleia legislativa de são paulo e seguram placas de homenagem

Há 40 anos uma greve deflagrada pela categoria bancária entrou para a História. Trabalhadores de bancos enfrentaram riscos e desafios para conquistar avanços salariais, benefícios e condições de trabalho que até hoje repercutem na vida da categoria.

Pela importância daquele movimento – considerado um divisor de águas na história da organização sindical bancária por ter pavimentado o caminho para uma série de conquistas – foi realizada sessão solene na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo nesta sexta-feira 19. A inciativa foi do deputado estadual Luiz Claudio Marcolino (PT), que presidiu o Sindicato dos Bancários de São Paulo de 2005 a 2011.

“Em setembro de 1985, homens e mulheres bancários tiveram a coragem de enfrentar os setores mais poderosos do país e mostraram que, quando a categoria se une, é capaz de conquistar direitos e transformar realidades. Aquela greve não foi apenas por salários, foi uma luta por dignidade, democracia e valorização do trabalho. Com o apoio da CUT, a greve de 1985 ganhou apoio da opinião pública e foi vitoriosa ao conquistar o reajuste salarial de 90,78% e antecipação de 25% diante da inflação galopante, que na época corroía a renda dos trabalhadores em 10% ao mês”, declarou o deputado.

O deputado Luiz Cláudio Marcolino ao lado de Neiva Ribeiro (dir.) e Aline Molina

“Naquele contexto da redemocratização do Brasil, ao final de uma ditadura militar de 20 anos, a greve dos bancários ajudou a abrir caminhos, mostrou que a força organizada dos trabalhadores poderia enfrentar banqueiros e governos, conquistar avanços e inspirar outras categorias. Por isso, a greve de 1985 foi um divisor de águas, não só para os bancários, mas para todo o movimento sindical brasileiro”, acrescentou.

Para as lutas do futuro é preciso conhecer o passado

Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, afirmou que para fazer as lutas do futuro, é preciso entender o passado. “Precisamos saber de onde a gente veio, quem foram as pessoas que pavimentaram esses caminhos. Essas pessoas lutaram para construir a Convenção Coletiva Nacional, o Comando Nacional, a forma como a gente organizou a nossa federação, nosso sindicato, os nossos fóruns de decisão.”

Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo

“Para nós é muito importante celebrar a história, porque nós estamos em um momento de discutir a reconfiguração do sistema financeiro nacional, um sistema que tem menos agências e mais agências digitais, menos trabalhadores tradicionais do jeito que a gente conhece e mais especialistas na área de TI. Nós estamos vivendo o boom da Inteligência Artificial generativa, a gente teve essa demissão em massa no Itaú, (...) a luta vai ser árdua. E essa discussão do Itaú abriu debate para muitas outras lutas, a Inteligência Artificial está fazendo a vigilância e o monitoramento dos trabalhadores dentro de casa, e uma série de outras questões que estão nesse contexto da reconfiguração do sistema financeiro nacional, das relações de trabalho. Nós estamos no centro disso, e para a gente fazer as lutas do futuro é preciso conhecer o passado.”

Pavimentação para conquistas futuras

Juvandia Moreira, presidenta da Contraf-CUT e vice-presidenta da CUT, também destacou que a greve de 1985 pavimentou o caminho para a série de conquistas da categoria bancária nos anos seguintes.

“Hoje nós temos 171 cláusulas na Convenção Coletiva dos Bancários. Em 92 nós tínhamos 47. Hoje nós negociamos não só o aumento salarial, nós negociamos a participação dos lucros, as condições de trabalho, a saúde, a igualdade de oportunidades. Hoje nós discutimos o empoderamento e o encarreiramento das mulheres. A greve de 1985 resultou numa categoria que tem uma convenção coletiva nacional e que discute vários temas que influenciam na legislação.”

“Hoje nós estamos discutindo na mesa de negociação inteligência artificial. Nós temos uma mesa para discutir os impactos da inteligência artificial no mundo do trabalho e na sociedade, com os bancos. Hoje nós estamos discutindo a regulação do sistema financeiro na mesa de negociação nacional. E isso tudo é resultado dessa luta de vocês, da luta de tantos. Nós discutimos a sociedade, o Brasil que a gente quer. E isso vem dessa história bonita de vocês, que lutaram contra a ditadura.”

Muito além da categoria bancária

Ivone Silva, ex-presidenta do Sindicato e presidenta do Instituto Lula, destacou que a greve de 1985 não foi um movimento que pensava só na categoria bancária.

“Não eram só palavras de reivindicações para a sua própria categoria, eram palavras também de democratização, de direitos, da eleição de candidatos que foram para o Congresso com a pauta da classe trabalhadora. Era muito mais amplo, porque a gente vinha de um final de uma ditadura e do renascimento da classe trabalhadora (...) Todo esse movimento da categoria bancária e de outras categorias, outras greves e movimentos dos trabalhadores , garantiram vários direitos na nossa Constituição, que agora querem derrubar.”

Luizinho Azevedo, dirigente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região de 1979 a 1990 e deputado estadual de 1991 a 1995, destacou que a greve teve um impacto, por ter ido muito além da categoria bancária.

“Nós conseguimos dialogar com a opinião pública. A nossa mensagem ‘se você não sacou, é bom sacar, os bancários vão parar’, tinha três objetivos: Primeiro, revelar para a opinião pública que nós não queríamos prejudicar os clientes, que era bom eles fazerem isso antes. Segundo, usar o saque como um instrumento de pressão sobre os banqueiros para forçá-los a negociar. E terceiro, atingir a opinião pública (...) Naquela greve, nós não conquistamos apenas a incorporação dos 25%, nós recuperamos a dignidade da categoria bancária.”

Unificação da categoria

João Vaccari Neto, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo de 2000 a 2005, enfatizou que a partir da greve de 1985 teve início o debate sobre a unificação da categoria bancária.

“Tudo isso nos trouxe onde nós estamos hoje, que são as campanhas nacionais dos bancários. Foi um movimento intenso, um movimento grande, que permitiu que a gente crescesse a nossa participação em vários setores, não só na direção dos bancos, como também na participação nos nossos fundos de previdência, fruto de toda essa mobilização.”

Ivone Silva, Juvandia Moreira, Aline Molina, Neiva Ribeiro, João Vaccari Neto, Gilmar Carneiro, Luiz Azevedo e Luiz Cláudio Marcolino

“É um momento histórico, é um momento que nos emociona muito porque aqui está aquilo que pavimentou toda a nossa história, o que possibilita hoje que a gente esteja em luta. Porque estamos em luta. Seria um momento diferente se o Estado Democrático de Direito não estivesse ameaçado, e ele está. E essa greve também nos possibilitou formar grandes lideranças”, disse Aline Molina, presidenta da Fetec-CUT, citando os nomes dos ex-presidentes do Sindicato Ricardo Berzoini e Luiz Guhiken – este no comando da entidade durante a greve de 1985.

Avançar na democratização do Brasil

“Nós nos especializamos em nos organizar para parar o Brasil inteiro. E paramos tudo em 85. [Agora] Nós temos o desafio de avançar na democratização do Brasil. Fazer uma frente ampla na defesa da democracia, dos direitos e dos deveres. Não ficar discutindo só sindicalismo. Sindicalismo sem realização social não existe. A gente foi para o sindicalismo para construir a democracia”, declarou Gilmar Carneiro, presidente do Sindicato entre 1988 e 1994.

Homenagens

Ao final da sessão solene foram homenageados personagens que participaram da greve histórica: Hélio Paiva Matos, secretário de assuntos jurídicos individuais e coletivos do sindicato dos bancários de assis e região; Antonio Carlos Lopes Fernandes (Cacaio), funcionário aposentado da Caixa Econômica Federal, foi presidente do Sindicato dos Bancários e Financiários de Presidente Prudente e Região; Davi Zaia, presidente da Federação dos Empregados em Estabelecimentos Bancários dos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, e ex-presidente do Sindicato dos Bancários de Campinas e Região e ex-deputado estadual por três mandatos.

Foram homenageados também Vânia Nunes Barrada, ex-dirigente do Sindicato dos Bancários de Guarulhos e Região; Irineu Romero Filho, presidente do Sindicato dos Bancários de Jundiaí e Região por três gestões e diretor regional da Afubesp; Sonia Estela da Silva, a Fumaça, funcionária do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região; Maria Madalena Garcia Miranda, funcionária do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região; Antonio Lucas Buzato, aposentado do Banespa, foi dirigente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e deputado estadual pelo PT por três mandatos; Oliver Simioni, aposentado do Banespa, diretor da Afubesp, integrante da Comissão Nacional dos Aposentados Banespa (CNAB), e ex-diretor representante dos funcionários do Banespa;

Mereceram ainda homenagens Aci Aparecida Diniz Rangel, assessora de imprensa do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região; Nelson Jandir Canesin, diretor de administração e finanças da Fetec-CUT; José Antonio Fernandes Paiva, presidente do Sindicato dos Bancários de Piracicaba e Região e diretor financeiro da Federação dos Empregados em Estabecimentos Bancários dos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul; Francisco Antônio Cinquaroli, o Chico Belo, aposentado do Banespa; Paulo Okamoto – ex-metalúrgio e ex-sindicalista, hoje preside a fundação Perseu Abramo; José Carlos da Silva, ex-diretor executivo do Sindicato dos Condutores de São Paulo e vice-presidente do Departamento de Transporte da CUT-SP; e Roberto Rodrigues, diretor de Administração e Finanças da Fetec-CUT/SP.

seja socio