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Chapéu
Renovação

López Obrador é o novo presidente do México

Linha fina
Candidato de esquerda venceu com ampla margem, pondo fim a quase 90 anos de domínio político conservador, prometendo "purificar" a vida pública e governar em benefício dos mais pobres
Imagem Destaque
Foto: Rafael Stedile/BDF

O candidato de esquerda Andrés Manuel López Obrador, do Movimento Regeneração Nacional (Morena) venceu as eleições presidenciais no México realizadas no domingo 1º. Segundo as primeiras estimativas oficiais, AMLO, como Obrador é chamado pelos seus apoiadores, obteve cerca de 53% dos votos. O conservador Ricardo Anaya, do Partido de Ação Nacional (PAN) obteve em torno de 22,5% e o candidato governista do Partido Revolucionário Institucional (PRI), José Antonio Meade, deverá ter entre 15,7% e 16,3%. A reportagem é da RBA.

Os resultados preliminares foram apresentados pelo Instituto Nacional Eleitoral (INE), por volta das 23h (1h, no horário oficial de Brasília). "Convoco todos os mexicanos à reconciliação e a colocar acima dos interesses pessoais, por mais legítimos que sejam, o interesse superior", afirmou Obrador, logo após os primeiros resultados indicarem a sua vitória. É a primeira vez que um partido de esquerda chega ao poder no México, quebrando uma hegemonia de quase nove décadas do PRI e do PAN, que se alternavam no poder.  Ele assume a presidência em 1º de dezembro.

Foi a terceira vez que AMLO, que foi prefeito de Cidade do México, disputou à presidência. Em 2006, perdeu para Felipe Calderón por uma diferença de 0,56%, e acusou fraude eleitoral. Seis anos depois, nova derrota para o atual mandatário Henrique Peña Nieto.

Ele vence agora com uma plataforma voltada ao combate à corrupção e às regalias dos altos funcionários do Estado e prometendo governar para os mais pobres. "Vamos purificar a vida pública do México", disse Obrador em um dos seus últimos comícios.

Esta foi considerada a maior eleição do México, com a escolha de mais de 18 mil cargos federais, estaduais e municipais. Cerca de 86 milhões de mexicanos estavam aptos a votar. Foi também tida como a campanha mais violenta, com o assassinato de pelo menos 133 políticos ou ativistas.

Meade foi o primeiro a reconhecer a vitória de AMLO, ainda por volta das 20h (22h, em Brasília) do domingo. Uma hora depois foi a vez de Anaya: "Falei com ele (Obrador) a alguns minutos e reconheço seu triunfo. Expresso-lhe minha felicitação e desejo de sucesso pelo bem do México". Peña Nieto prometeu trabalhar para uma transição "ordenada e eficiente". 

O presidente americano Donald Trump, que ameaça romper com o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), e que insiste na construção de um muro na fronteira entre os dois países, com o intuito de conter a imigração ilegal para os Estados Unidos, também parabenizou Obrador e disse estar "ansioso" para trabalhar conjuntamente. AMLO, por sua vez, disse que buscará uma relação de "amizade e cooperação" com os vizinhos do norte, mas ressaltou que esta deverá ser "baseada no respeito mútuo".

Perfil

Apesar de Obrador não ser considerado um candidato da esquerda tradicional, Obrador é um político que surge das bases do chamado “nacionalismo revolucionário mexicano”, representado pelo ex-presidente Lázaro Cardenas, que governou o México entre 1934 e 1940, e promoveu reformas importantes no estado, a exemplo do que fez Getúlio Vargas no Brasil e o general Juan Domingos Perón na Argentina.

O discurso nacionalista de Obrador está relacionado sobretudo ao setor econômico. Ele afirma que as riquezas naturais do país, como o petróleo e a água, continuarão sob o controle do Estado mexicano. O presidente Peña Nieto propôs em 2014 uma reforma energética, que privatizou parte do setor elétrico. Também permitiu maior abertura no setor petroleiro para entrada de empresas estrangeira no setor de exploração e produção, que hoje é controlado pela empresa estatal Pemex. “Vou frear as privatizações e recuperar a PEMEX para os mexicanos”, disse Obrador.

Outro aspecto nacionalista de sua campanha é a proposta relacionada à produção de alimentos do país. No dia 10 de abril, o candidato se reuniu com 5 mil camponeses no estado de Zacatecas, na região central do país, onde assinou um documento onde reafirma seu compromisso de implementar o Plano de Ayala do Século 21, que propõe uma série de políticas de produção agrícola direcionada aos pequenos produtores rurais e comunidades indígenas. "Vamos devolver ao México a soberania alimentar que perdeu com os governos neoliberais", garantiu Obrador.

Para tentar ganhar essas eleições, Andrés Manuel López Obrador chegou com um discurso mais moderado, fez acordos com o setor financeiro e empresarial mexicano e até uma aliança com o conservador Partido Encontro Social (PES), legenda evangélica de extrema-direita.

 De acordo com o Morena, alianças como essa com o PES foram necessárias para garantir a presença em certos setores que Obrador não tinha espaço. Além disso, por ser um partido pequeno e com apenas três anos de registro eleitoral, o Morena não possui atuação massiva em todo o país. A aliança com outros partidos também é vista como importante para garantir presença de testemunhas eleitorais em todas as mesas de votação e assim diminuir as possibilidades de fraude.

Além disso, setores de esquerda criticam nomes já anunciados para formar o novo gabinete de ministros, como no caso do engenheiro agrônomo Victor Vilalobos, defensor dos transgênicos e ex-diretor-geral do Instituto Interamericano de Cooperação para la Agricultura (IICA), que deve ser o escolhido para a pasta da Agricultura.

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