Em reunião com a Comissão Executiva dos Empregados (CEE), a Caixa Econômica Federal apresentou à representação dos trabalhadores o novo programa de gestão de pessoas, o “Minha Trajetória”, que será implementado a partir de 1º de agosto. O banco garantiu que será uma virada de página para corrigir os rumos que estavam estabelecidos na gestão de pessoas e que o objetivo é sanar problemas e orientar o desenvolvimento profissional dos empregados. A representação dos trabalhadores protestou pela falta de negociação antes da implementação.
“Conversas prévias são importantes, mas não basta a Caixa nos apresentar as decisões antecipadamente. A mesa não é pra ser ouvinte e sim de negociação”, disse a coordenadora da CEE, Fabiana Uehara Proscholdt. “A mesa permanente é uma conquista dos empregados. É preciso que haja negociações efetivas sobre todos os temas, e retornos. Temos várias pendências como o teletrabalho, com prioridade aos empregados com deficiência e aos empregados com filhos ou criança de até seis anos de idade sob sua guarda judicial, e a questão principal das metas e o assédio no trabalho que, durante a Campanha Nacional dos Bancários de 2022, os bancos assumiram o compromisso de discutir”, completou.
Carroça na frente dos bois
Para a coordenadora da CEE, o programa Minha Trajetória tem avanços em relação ao antigo programa de Gestão de Desempenho de Pessoas (GDP), mas a implementação na data estipulada é precipitada. “Apesar das melhorias em relação ao GDP, existem pontos a serem aprimorados para garantir que seja uma ferramenta transparente e de desenvolvimento do empregado e não de assédio e cobrança abusiva de metas”, disse.
A representação dos empregados questionou alguns pontos que não ficaram claros na apresentação feita pelo banco. Entre eles, se haverá penalidades para quem não cumprir os objetivos estabelecidos. “Quais os desdobramentos? Por exemplo, pela GDP, o empregado não poderia participar de Processos de Seleção Internas. Como será com esta nova ferramenta? Haverá algum desdobramento?, questionou a coordenadora da CEE.
Fabiana lembrou ainda que, no início, o GDP definia objetivos para se chegar ao resultado, mas nos últimos ciclos virou uma ferramenta de individualização das metas da agência para cada empregado. “A primeira cartilha do GDP proibia vincular objetivos à meta, porque usava a nota do Conquiste da agência na composição da nota final. Depois que instituíram um objetivo obrigatório vinculado ao Time de Vendas, degringolou”, recordou a coordenadora da CEE.
Transparência
O banco disse que a nova ferramenta dará mais transparência às avaliações. Que o próprio empregado poderá registrar seus objetivos, que serão posteriormente validados e poderão ser alterados pelo gestor. E, além disso, o gestor fará uma avaliação parcial, que poderá ser vista pelo empregado, para que o mesmo busque a melhoria, ou apresente provas que mostrem que entregou os resultados definidos, ou questões que impediram tal entrega, como problemas no sistema. Entretanto, não existe campo para o empregado poder fazer anotações da sua entrega.
“Não é possível que o empregado tenha que guardar as provas dos problemas de sistema e outras questões que prejudiquem seu trabalho. A ferramenta precisa ter formas de gerir estes problemas sem que o empregado precise gerar estas provas. Ele já tem muito trabalho a fazer, em condições muitas vezes precárias, a Caixa não pode gerar mais uma responsabilidade pra ele”, disse o diretor executivo do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Francisco Pugliesi, o Chico.
A representante da Federação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Fetrafi) do Nordeste, Chay Cândida, mostrou preocupação com o aumento da tensão entre os gestores com seus subordinados. “O empregado terá que juntar provas e questionar seu gestor. A Caixa pode estar piorando uma relação já adoecida entre eles, devido a cultura implantada anteriormente”, disse.
Para Luiza Hansen, dirigente do Sindicato dos Bancário de São Paulo, Osasco e Região, o assédio moral institucionalizado por anos na direção do banco, sob os governos Temer e Bolsonaro, pode influenciar no comportamento de certos gestores. “Sabemos que alguns gestores podem aceitar dialogar com seus subordinados, mas há outros, acostumados com anos de gestão pelo medo, que vão se recursar a conversar com os empregados”, observa Luiza.
Desenrola
Ao final da reunião, a representação dos trabalhadores questionou o banco sobre a abertura das agências uma hora mais cedo na sexta-feira para atender clientes endividados (Programa Desenrola) e cobrou que haja dotação de recursos para o pagamento de horas-extras. A Caixa confirmou a informação e se comprometeu a pagar as horas-extras.