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Chapéu
Reflexão

Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha lembra resistência contra racismo e machismo

Imagem Destaque
Arte em desenho de uma mulher negra com cabelo "black power" e roupa em estilo africano

O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha é celebrado nesta quinta-feira 25. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, em Santo Domingo, na República Dominicana, em 1992.

O objetivo é lembrar a luta e a resistência dessas mulheres contra racismo, o machismo, a violência, a discriminação e o preconceito dos quais elas ainda são vítimas.

No Brasil, a data também é uma homenagem à Tereza de Benguela, conhecida como “Rainha Tereza”, que viveu no século XVIII, no Vale do Guaporé, no Mato Grosso, e liderou o Quilombo de Quariterê, sendo um símbolo importante de resistência e liderança na luta contra a escravização.

“Além de uma comemoração, o 25 de julho é uma data em que as mulheres negras, indígenas e de comunidades tradicionais fazem a reflexão da organização e da luta das mulheres negras por mais direitos e contra o racismo, o machismo, a violência, a discriminação e o preconceito”, afirma Neiva Ribeiro presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo.

Desigualdade racial e de gênero nos bancos

A data ganha ainda mais relevância diante da desigualdade racial e de gênero que ainda afeta o mercado de trabalho brasileiro de um modo geral, incluindo os bancos.

A remuneração média das bancárias negras (pretas e pardas) é 36% inferior (R$ 8.265) à dos bancários brancos do sexo masculino (R$ 12.884). Os dados do Ministério do Trabalho (Rais) e são relativos a 2022 e foram compilados pelo Dieese.

Para que as mulheres negras bancárias recebam a mesma remuneração que os homens brancos bancários, elas teriam que trabalhar mais 18 dias durante o mês, ou 48 dias.

O ano da bancária negra precisaria de mais sete meses para que a igualdade salarial fosse estabelecida;
Tal situação é também reflexo da menor participação das mulheres negras em cargos de liderança. Enquanto os homens brancos respondem por 39% dos cargos de liderança, as mulheres negras respondem por apenas 9,5%.

Neiva lembra que a categoria bancária está em plena Campanha Nacional Unificada [campanha salarial] para a renovação da Convenção Coletiva de Trabalho e para a ampliação de direitos dos bancários e das bancárias. “Reivindicamos dos bancos a contratação de 30% de pessoas pretas, bem como políticas que visem a igualdade de oportunidades e de prevenção e combate à todas as formas de discriminação, incluindo racial e de gênero”, afirma Neiva, que é uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários, que negocia a renovação da CCT com os bancos.

Mercado de trabalho no Brasil ainda mais desigual

Os números sobre remuneração no setor bancário refletem a desigualdade social e de gênero que ainda perduram no mercado de trabalho brasileiro. No primeiro trimestre de 2023, o rendimento médio de todos os trabalhos das mulheres negras foi estimado em R$ 1.948, o que representa uma alta de 2,6% em relação aos três meses imediatamente anteriores.

A quantia, contudo, é a menor entre os quatro grupos analisados pelo levantamento. As mulheres negras recebiam apenas 48% (menos da metade) do que os homens brancos e amarelos ganhavam em média com o trabalho no primeiro trimestre deste ano (R$ 4.078).

É o que indica um estudo da economista Janaína Feijó, pesquisadora do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas). O estudo foi construído a partir de microdados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

“Esta discrepância salarial entre homens e mulheres é resultado de uma sociedade que ainda sofre com o machismo estrutural e que viveu durante mais de 300 anos sob regime de escravidão, o qual foi abolido há apenas 136 anos. Esta realidade reforça a importância das políticas afirmativas, como a ampliação das cotas nas universidades e no serviço público a fim de combater a desigualdade racial e de gênero, e o respeito à lei que assegura igualdade salarial e de critérios remuneratórios entre mulheres e homens”, afirma Ana Marta Lima, diretora executiva do Sindicato dos Bancários de São Paulo e membro do Coletivo de Combate ao Racismo da entidade.

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