São Paulo – Se os bancos querem abrir por mais tempo ou em horário estendido, que estabeleçam jornadas de cinco horas para os bancários com dois turnos de trabalho. Essa foi a reivindicação apresentada pelo Comando Nacional dos Bancários à federação dos bancos (Fenaban) para buscar solução para um problema que está virando rotina na vida dos bancários: a extrapolação da jornada com um ritmo estressante de trabalho. A rodada de negociação que tratou de emprego e igualdade de oportunidades teve início na quinta-feira 15 e foi encerrada nesta sexta 16.
> Emprego digno para melhorar condições de trabalho
> Vídeo: Presidenta do Sindicato comenta debates
“Cobramos dos bancos providências para a situação que vivem os trabalhadores que atuam em agências com horário estendido, seja nos shoppings ou nas ruas. Eles sofrem com a extrapolação da jornada e com o receio pela falta de segurança”, afirma a presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira.
Os bancos afirmam cumprir a lei estabelecida pelo Banco Central e que esse debate pode ser feito banco a banco. “Vamos cobrar. Os bancários não podem sair prejudicados”, diz Juvandia.
Terceirização – O Brasil já tem mais de 364 mil pontos de correspondentes bancários, muitos deles atuando ao lado ou até mesmo dentro de agências, sem falar nos milhares de trabalhadores terceirizados que prestam serviço para as instituições financeiras. “Reforçamos que os bancos são concessão pública, que devem atender a todos por meio da verdadeira bancarização, com trabalhadores bancários. Eles podem e devem isso à sociedade”, cobra a presidenta do Sindicato, que é uma das coordenadoras do Comando.
Os representantes dos bancos, no entanto, disseram não ter interesse na terceirização, que a internalização dos serviços têm de ser feitas por “espontaneidade” e insistiram que esse debate deve ser encaminhado à mesa temática. “Reforçamos a cobrança de que as mesas temáticas precisam ser mais efetivas e que os debates feitos por intermédio delas precisam ser concretizados”, relata Juvandia.
O Comando também registrou sua posição contrária ao PL 4330 que regulamenta a terceirização fraudulenta de mão de obra e, se aprovado, pode servir para precarizar direitos conquistados pelos trabalhadores após muita luta. “Nossa atuação contra o 4330 continua.”
Tecnologia – Sobre o tema das mudanças tecnológicas, os bancos se recusaram a debater na mesa de negociação e sugeriram a realização de um seminário. Os trabalhadores querem que esse seminário tenha por objetivo tratar não somente das tendências do setor, mas também dos impactos dessas mudanças tecnológicas na vida do trabalhador.
Licença-paternidade – Entre os pontos debatidos no tema igualdade de oportunidades, o Comando voltou a reivindicar a ampliação da licença-paternidade. Os bancos aceitam debater o assunto em mesa temática e os bancários reforçaram a importância que tem para o estabelecimento de relações compartilhadas, divisão de tarefas e o cuidado com os filhos entre os casais.
Cotas – A Fenaban informou ser contra cotas por meio de seu negociador, Magnus Ribas Apostólico, para quem isso “acomoda o Estado”. Para o Comando Nacional dos Bancários, é o oposto: “as cotas são importantes para corrigir uma distorção, uma dívida da sociedade com negros, pessoas com deficiência e muitas vezes com as mulheres”, explica a presidenta do Sindicato, lembrando que o setor mantém apenas 19% de funcionários negros, dos quais somente 8% são mulheres. A reivindicação é de que contratem pelo menos mais 20% de afrodescendentes.
“Também ficam devendo na cota para contratação de pessoas com deficiência (PDC) e nas possibilidades de ascensão desses profissionais. Queremos que isso mude.”
PCD – Os bancos voltaram a negar a inclusão na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) do abono de dias utilizados pelos bancários com deficiência para a manutenção de próteses ou equipamentos. Os representantes da Fenaban afirmam que sempre que requisitado, o trabalhador tem esse direito. Também disseram não ao subsídio para a compra desses equipamentos e próteses que favoreçam a mobilidade e ascensão profissional dos PCDs.
Igualdade – Bancos admitem ter acordo no diagnóstico de que falta igualdade de gênero, raça e para os PCDs. E isso é considerado uma evolução pelos integrantes do Comando após tantos anos de debate, já que, antes, nem isso admitiam.
“Mais uma vez cobramos Plano de Cargos e Salários para todos os bancários, com informação transparente e critérios objetivos para promoções”, salienta a presidenta do Sindicato. O debate sobre igualdade deve ser retomado nas próximas rodadas.
Calendário – Além da mesa de segurança, na terça-feira 20, que vai apresentar os dados do setor para o primeiro semestre, está marcada a rodada de negociação que vai tratar do tema remuneração. As reuniões serão nos dias 26 (a partir das 14h) e 27 (dia todo).
A quinta-feira 22 é Dia Nacional de Luta, com passeata. “Vamos fazer um grande ato nas ruas do centro da capital. Sempre foi a mobilização dos bancários que tirou os bancos do estado de acomodação”, convoca Juvandia.
A Caixa tem rodada de negociação específica prevista para segunda-feira 19. No Banco do Brasil, há reuniões marcadas para os dias 23 e 29.
Cláudia Motta – 16/8/2013
Linha fina
Comando dos Bancários cobrou da Fenaban mais contratações, respeito à jornada e às oportunidades de trabalhadores com deficiência, negros e mulheres. Próxima rodada debaterá remuneração nos dia 26 e 27
Imagem Destaque