São Paulo – O governo Temer continua encolhendo o tamanho e o papel social da Caixa. No mesmo dia em que comemora-se o Dia do Bancário (28 de agosto), empregados de uma agência localizada na Vila Clementino, na zona sul da capital, receberam a notícia de que a unidade encerrará suas atividades a partir do dia 24 de setembro.
Em negociação com dirigentes sindicais no dia 15 de agosto, em Brasília, os representantes do banco anunciaram a intenção de reavaliar cerca de 100 agências em todo o país. Mas não especificaram quais e negaram prazo imediato para esse desmonte. Mas afirmaram que a análise levaria em conta o retorno financeiro dessas unidades.
“Essa visão de busca do retorno financeiro não leva em conta que a Caixa tem uma função social muito grande, diferentemente dos bancos comerciais. E esse trabalho que os empregados da Caixa realizam na área social, como pagamento de PIS, seguro desemprego, FGTS, é difícil de mensurar porque não se traduz em lucro imediato, como os outros bancos trabalham. Tem uma característica muito mais ampla, que envolve desenvolvimento social e que não pode ser medida pela régua do retorno financeiro”, afirma o dirigente sindical e bancário da Caixa Danilo Perez.
A Caixa possui 4.244 agências e postos de atendimento, que foram responsáveis por pagar cerca de 39,8 milhões de benefícios sociais no primeiro trimestre de 2017, totalizando R$ 7,2 bilhões, dos quais R$ 6,9 bilhões relativos ao Bolsa Família. O banco pagou 67 milhões de benefícios voltados ao trabalhador, que totalizaram R$ 73,7 bilhões, e 16,1 milhões de créditos de aposentadorias e pensões (R$ 19 bilhões).
“A Caixa atende principalmente a população mais carente e ajuda a desenvolver a economia de municípios que não interessam aos bancos privados atuar, portanto, o fechamento de agências ditas deficitárias é um ataque direto a grande parcela da sociedade e do país”, afirma Danilo Perez.
Campanha em defesa dos bancos públicos – O movimento sindical está em campanha de defesa da Caixa e dos bancos públicos. “Estamos mobilizando bancários e a população na defesa desse instrumento importante de fomento da economia e do bem estar social. Essa é uma luta de todos. Perder os bancos públicos significará a piora das condições de vida de grande parte da população”, afirma Danilo.
Em 2015, a Caixa foi responsável por cerca de 70% do crédito para compra da casa própria e, junto com o Banco do Brasil, financiou mais de 2,2 milhões de bolsas de estudo em universidades particulares.
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Reestruturação e verticalização – A diminuição do banco por meio do fechamento de agências soma-se a uma reestruturação iniciada em julho, que está reduzindo o número de empregados e de funções nos departamentos responsáveis pelas operações sociais da instituição. As principais afetadas são as Gifug (gerências de Fundo de Garantia), Gigov (gerências que cuidam dos programas sociais) e as Cehabs (responsáveis pelo crédito habitacional, uma das principais funções sociais do banco).
Além disso, a Caixa está mudando o modelo de segmentação dos clientes Pessoa Física, que agora estão agrupados em quatro carteiras. Três carteiras serão alvo prioritário de relacionamento e uma (chamada de “gente de valor”) voltada para o “atendimento de varejo”.
A verticalização, como é chamado este processo, está impactando diretamente empregados que prestam atendimento social e estão sendo direcionados para a captação de clientes de alta renda e para a venda de produtos, repetindo a estratégia das instituições privadas.
Eliminação de postos de trabalho – Por meio da reabertura do Programa de Desligamento Voluntário Extraordinário (PDVE), o governo Temer pretende eliminar mais 5 mil postos de trabalho, somando-se aos 4,7 mil que já foram extinguidos na primeira fase do programa.
“Todas essas evidências comprovam que o governo Temer aos poucos está sumindo com a função social da Caixa. Lutamos pela revisão dessa política por meio da capitalização do banco a fim de aumentar suas operações de crédito e sua rentabilidade, e a contratação de mais empregados para atender melhor a população e ajudar o país a voltar a crescer”, finaliza Danilo Perez.
Vila Clementino – O Sindicato cobrou a Superintendência Regional Paulista da Caixa sobre o fechamento da agência na Vila Clementino. Os representantes da SR responderam que é uma decisão da direção da empresa e que não têm qualquer influência sobre essa medida.
“Outra preocupação levantada é o destino dos empregados da unidade. Os representantes da SR disseram que serão realocados levando em consideração o endereço de residência de cada um. Também disseram que farão o possível para que não tenham prejuízo financeiro por meio da perda de função”, ressalta o dirigente sindical Valter San Martin Ribeiro.