São Paulo – A União Nacional dos Estudantes (UNE) completou 80 anos na sexta-feira 11, quando se comemora também o Dia Nacional do Estudante, com ato político pelo fim do governo Temer e a realização de eleições diretas para presidente. Para a presidenta da entidade, Marianna Dias, que toma posse simbolicamente à frente da mais antiga entidade nacional do movimento social brasileiro em atividade, Temer já deu mostras suficientes que "com ele, a gente não consegue ter a universidade pública funcionando, a gente não consegue direitos para a juventude", afirmou, para a Rede Brasil Atual.
Marianna conta que tem recebido relatos de professores e reitores das principais universidades federais sobre dificuldades orçamentarias que, inclusive, colocam em risco a volta às aulas, aos moldes do que vem ocorrendo com a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Segundo ela, essas dificuldades financeiras são consequência de medidas adotadas pelo atual governo, como a PEC do Teto, que podem comprometer a autonomia das universidades, como reflexo da dependência financeira.
"Esse não é o retrato do Brasil que a gente quer oferecer para o estudante. Nós vivemos uma era de perspectivas, de possibilidades de sonhar e realizar. A gente tem visto tudo isso se acabar com PECs, projetos e MPs de um governo que não se presta nem ao trabalho de dialogar com os atingidos", destaca Marianna.
Para a presidenta da UNE, a falta de diálogo na aprovação de medidas como a PEC do Teto e a reforma trabalhista, revelam a face autoritária do atual governo. Ela comparou o governo Temer com os períodos anteriores, quando os estudantes, assim como outros setores, eram chamados a discutir em fóruns e conselhos.
Além do protesto pelo restabelecimento da democracia no país, – a UNE avalia como um golpe a chegada de Temer ao poder – também está previsto a realização um festival de música universitária, em comemoração ao aniversário da entidade, que contará também com a presença do cantor e compositor Chico César e do rapper Rincon Sapiência, que desponta na cena paulista.
O protesto e as apresentações musicais foram realizados no Largo do São Francisco, em frente a Faculdade de Direito de Universidade de São Paulo (USP), quando também ocorreu a posse das novas diretorias da UNE e da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP).
Desde a sua fundação, destaca Marianna, a UNE foi protagonista e testemunha de diversos capítulos da história brasileira, lutando sempre ao lado da democracia e da soberania brasileira. Segundo ela, a entidade se nutre da combinação de rebeldia e esperança da juventude.
"O jovem normalmente tem sentimentos de indignação e de rebeldia muito fortes. Cabe à UNE conseguir dialogar com esses sentimentos, e dizer para eles que é a luta política que pode transformar as coisas", afirma a presidenta, ressaltando que a própria história de resistência da entidade serve como exemplo e inspiração.
"Além da nossa pauta natural, que é falar sobre educação, sobre as universidades, representando os anseios dos estudantes, a UNE não se contenta em falar, única e exclusivamente, sobre isso. Sempre busca dar contribuições nas pautas ao lado dos trabalhadores, defendendo a soberania nacional, falando sobre o Brasil e o mundo", diz.
Fundada em 1937, a entidade nasce a partir da necessidade percebida pelos estudantes de se organizar nacionalmente, em contexto de emergência de formas autoritárias de governo, com o crescimento das ideologias fascistas, na Europa. Meses depois, o presidente Getúlio Vargas inaugurava o Estado Novo, reforçando o autoritarismo e flertando com as potências do Eixo.
Autoritarismo - Outro momento destacado na história da entidade foi, novamente, a luta contra a ditadura inaugurada como o golpe civil-militar de 1964. A presidenta lembra que foram diversos os militantes da UNE que foram torturados nesse período, com pelos menos 46 integrantes mortos ou desaparecidos. Sua sede, no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro, foi incendiada no mesmo dia em que os militares chegavam ao poder.
Mesmo durante os períodos autoritários, a UNE seguiu organizando congressos e fóruns, exercitando a participação direta dos estudantes nas decisões da entidade. "A gente clama por democracia, e a exerce nos nossos fóruns internos", ressalta a presidenta. Segundo ela, o papel da entidade, ao longo destes 80 anos e agora, é fazer a juventude acreditar na luta política como estratégia de transformação social.
"A gente se inspira muito na história da UNE. Isso nos leva a compreender que esse é o papel que a gente precisa jogar, neste momento, que é o papel de resistir e também ser a esperança de que é possível vencer, passar por tudo isso, e voltar a ter um país equilibrado politicamente, que respeite os trabalhadores, a população, que não destrua a universidade pública", diz.
Para a presidenta da UNE, um "espectro" ronda as eleições do próximo ano, com ameaça de prolongamento do atual mandato, com pretexto de unificar os pleitos municipais e geral, ou com eventual mudança para o regime parlamentarista. Nada ainda concreto, segundo ela, mas diz que serve de alerta para a necessidade de resistir para que os efeitos do golpe não se prolonguem para além de 2018. "Que não tenham a ousadia de fazer com que esse golpe, além de derrubar uma presidenta legítima, nos impeça de escolher o próximo presidente."
Os estudantes também planejam, na quinta 17, mobilizações por todo país, em defesa da universidade pública e gratuita, pelo direito da juventude e pelo restabelecimento da democracia.