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Chapéu
#ChegadeAgrotóxicos

Fazendas de cana e café apresentam alternativas ao Pacote do Veneno

Linha fina
Audiência pública em SP sobre o PL da Política Nacional de Redução de Agrotóxicos reúne experiências que desconstroem argumento dos ruralistas e mostram que é possível – e necessário – produzir em escala e sem agrotóxico
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Foto: Arquivo/Epamig

A produção canavieira tornou-se sinônimo de extensas áreas cobertas pela cana, regadas por chuvas de agrotóxicos despejadas por aviões, que o vento espalha por quilômetros, caindo também sobre casas, escolas, intoxicando pessoas e animais, contaminando rios e aquíferos, em nome da produtividade. Na fazenda São Francisco, em Sertãozinho, na região de Ribeirão Preto (SP), a história é bem diferente. A produtividade aumentou – e muito – justamente depois que os agrotóxicos e os fertilizantes químicos deixaram de ser usados.

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De acordo com um estudo encomendado ao Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), nas safras de 1990 a 1996 a produtividade da São Francisco era de 90 toneladas por hectare. Já nas safras de 2001 a 2006, subiu para 105. Outros produtores da região, que praticam o cultivo convencional, com agroquímicos, tiveram rendimento de 83 e 88 toneladas por hectare, respectivamente. A São Francisco, portanto, produziu cerca de 10 toneladas por hectare a mais.

Os efluentes da industrialização da cana passaram a ser aproveitados. É o casos da vinhaça, utilizada como fertilizante. O controle biológico das pragas substituiu os inseticidas, como o glifosato, associado ao câncer, entre outros.

A cobertura do solo com acúmulo de matéria orgânica tornou-se a base para a rotação de culturas, como de leguminosas, que juntamente com a incorporação de outras outras técnicas agroecológicas conferem mais vitalidade ao solo. A matéria orgânica que beneficia a terra tem impactos positivos no sistema hídrico. E as pragas passaram a ser controladas biologicamente. Com esse equilíbrio, a fauna local está sendo recuperada e já reaparecem animais, alguns na lista de extinção.  

Trincheira

Fruto da pressão do movimento da agroecologia, que reúne agricultores, ambientalistas e militantes da área de saúde, entre outras, a Pnara surge como principal trincheira na luta contra o avanço do Pacote do Veneno, que pretende revogar a atual legislação para facilitar ainda mais o registro, a produção, a comercialização e o uso de agrotóxicos. 

O pacote é repudiado pela sociedade e por mais de 300 das mais importantes entidades e órgãos públicos nas áreas de saúde, ciência, meio ambiente, nutrição e direitos humanos no país. Até mesmo a Organização das Nações Unidas (ONU) se manifestou de maneira contrária por meio de carta enviada ao governo brasileiro.

A crescente resistência à proposta, que interessa apenas aos ruralistas e à cadeia industrial dos agrotóxicos, é amparada em pareceres técnicos sobre os malefícios trazidos por esses produtos que têm no Brasil o maior mercado consumidor. Entre eles, a epidemia de câncer. Uma situação grave que tende a piorar.

Para se ter uma ideia da situação de descalabro, o brasileiro consome, em média, 7 litros de agrotóxicos por ano segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). A larga utilização na agricultura é amparada por legislações permissivas. "Enquanto os países da União Europeia permitem até 0,1 micrograma de glifosato por litro de água, o Brasil permite 500 microgramas – 5 mil vezes mais", alertou a professora e pesquisadora do Departamento de Geografia da USP, Larissa Bombardi, autora do atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia (clique aqui para acessar). 

Café

De acordo com a Associação de Cafés Orgânicos e Sustentáveis do Brasil (Acob), a área cultivada com orgânicos praticamente quadruplicou de 2004 a 2014, passando de 200 mil hectares para quase 800 mil hectares. E a tendência para os próximos anos é de mais crescimento. A estimativa é que o café orgânico passe a ocupar 5 a 6 mil hectares. A área total ocupada pelo café no Brasil é de 2,21 milhões de hectares, segundo o Ministério da Agricultura.

De acordo com o diretor executivo da Acob, o agrônomo Cassio Franco Moreira, a produção orgânica era para estar mais robusta. Em 2000, com a crise no setor cafeeiro convencional, muitos produtores migraram para o sistema orgânico, animados com a perspectiva de maiores ganhos. Tanto que de 2002 a 2004 país produziu 300 mil sacas por ano.

Mas desconhecimento do manejo orgânico do solo, das pragas e doenças e a falta de investimento para manter a qualidade dos grãos colhidos afetou a produtividade. A maioria não conseguiu obter qualidade e preço e, com a retomada da valorização do convencional, as lavouras orgânicas voltaram a ser tratadas com agroquímicos. "Se mantiveram firmes aqueles que conheciam boas técnicas de produção, os princípios agroecológicos, produtividade e mercado", destacou Moreira.

Por isso, segundo ele, a associação implementa projetos para disseminar tecnologias sustentáveis visando o aumento da qualidade dos grãos, da produtividade, a adaptação ao clima e o aumento da qualidade de vida de pequenos e médios cafeeicultores. "Defendemos também o diálogo com o agronegócio, para trocarmos experiências e tecnologias", disse.

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