O lucro líquido contábil da Caixa no primeiro semestre de 2020 foi de R$ 5,6 bilhões, com queda de 31% em relação ao mesmo período de 2019. Se comparemos o lucro do segundo trimestre de 2020 (R$ 2,6 bilhões), ao primeiro trimestre deste ano, a queda foi de 16,1%. Já na comparação ao segundo trimestre de 2019, a queda foi de 31%.
De acordo com relatório da Caixa, a redução do lucro se deu, principalmente, em razão da queda da margem financeira em aproximadamente 23,6% e de 15,1% nas receitas de prestação de serviço, compensadas parcialmente pelo recuo de 1,1% na despesa de pessoal, e estabilidade das outras despesas administrativas.
O presidente do banco, Pedro Guimarães, afirmou durante a coletiva de divulgação dos dados que as reduções se devem ao impacto econômico causado pela pandemia de Covid-19 e pelo fato de que o banco teve seu atendimento totalmente voltado para o auxílio emergencial e saques do FGTS. “Isso fez com que o atendimento comercial não fosse o foco. O balanço do terceiro trimestre vai mostrar uma recuperação, essa queda era absolutamente esperada”, apontou.
Na comparação trimestral, a redução da margem financeira foi de 9,6%, influenciada pelas reduções de 9,3% em receitas de operações de crédito e 17,6% em resultado de TVM e derivativos, compensadas pela redução de 14,9% em despesas de captação.
A Carteira de Crédito Ampla da Caixa teve alta de 2,9% na comparação trimestral, e de 5,51% em doze meses, totalizando R$ 720,1 bilhões no final do primeiro semestre. A Carteira Comercial Pessoa Física cresceu 1,1% em doze meses, totalizando R$ 81,6 bilhões, enquanto a Carteira Comercial Pessoa Jurídica cresceu 6,3% no período, somando R$ 44,96 bilhões. Com saldo de R$ 484,7 bilhões e participação de 67,3% na composição do crédito total, o crédito imobiliário cresceu 3,0%, no trimestre, e 7,2%, em doze meses. De acordo com os relatórios, a participação de mercado da Caixa no crédito diminuiu, de 20,4% em junho de 2019 para 19,6% em junho de 2020.
"O balanço da Caixa e o presidente do banco, Pedro Guimarães, não detalham o valor do aumento da carteira de crédito vinculado à pausa no pagamento das prestações dos contratos. Os relatórios indicam, no entanto, que o volume de contratações no segundo trimestre de 2020 é maior do que o do primeiro trimestre do ano e do mesmo período de 2019. Importante ressaltar que este aumento nas contratações se deu quando as cobranças de metas estavam suspensas, o que revela que não é a cobrança abusiva de metas resulta no lucro, mas a oferta de produtos competitivos disponíveis para contratação, como o Fampe e o Pronampe”, ressalta Dionísio Reis, diretor executivo do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.
As receitas de prestação de serviços e com tarifas bancárias caíram 15,1% em doze meses, totalizando R$ 11,185 bilhões no semestre. As despesas de pessoal, considerando-se a PLR, diminuíram 2,42% em doze meses, atingindo R$ 11,6 bilhões no período. Assim, no 1º semestre de 2020, a cobertura das despesas de pessoal pelas receitas secundárias do banco foi de 98,15%.
“A diminuição nas receitas de prestação de serviços, influenciada pela queda em mais de 50% na remuneração como agente operador do FGTS [de R$ 2,7 bi em junho de 2019 para R$ 1,3 bi em junho de 2020] foi fundamental para a queda no lucro líquido da Caixa", acrescenta Leonardo Quadros, diretor da Apcef/SP.
A Caixa encerrou 1º semestre de 2020 com 84.320 empregados, com abertura de 207 postos de trabalho no segundo trimestre, entretanto, com fechamento de 58 postos de trabalho em relação ao 1º semestre de 2019. Em doze meses, foram fechadas 2 agências, 28 postos de atendimentos e 16 lotéricas. Em contrapartida, a Caixa registrou incremento de aproximadamente 27 milhões de novos clientes.
“Mesmo com a estabilidade no quadro de empregados em comparação com o primeiro semestre de 2019, a despesa de pessoal com folha de pagamentos neste ano foi menor. Isso comprova que há muito espaço para a Caixa atender às reivindicações dos empregados", explica Leonardo.
O cenário foi comemorado por Guimarães, que declarou diversas vezes que a instituição está “extremamente sólida”. “A partir de junho voltamos a ter eficiência como antes da pandemia. Estamos muito tranquilos, nunca tivemos expansão tão forte de crédito consignado, pequeno e micro. A Caixa está sentindo desde junho uma recuperação, está mais forte hoje do que antes da pandemia”, celebrou.
A empolgação do presidente esconde que por trás desta solidez está um cotidiano de ameaças de retirada dos direitos dos empregados e uma pressão cada vez maior por metas. Além disso, os ataques pela privatização se intensificaram em 2020, com justificativas que contradizem os números exaltados por Guimarães.
“Já que a Caixa apresenta um quadro favorável, qual a justificativa do discurso que defende a venda de áreas do banco como seguros e cartões? Como a Caixa conseguirá se manter competitiva e sustentável sem essas operações que são as mais rentáveis? E se os resultados merecem ser comemorados, por que promover cortes na remuneração e no plano de saúde dos empregados?”, questiona Leonardo.