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Pandemia

‘Se tivéssemos comprado a vacina em janeiro, em maio teríamos 160 milhões imunizados’, diz Vecina Neto

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O médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP), disse, na manhã deste sábado 21, que, se o Brasil tivesse em janeiro deste ano comprado a vacina contra a Covid-19, a maior parte da população já estaria imunizada em maio, evitando a maioria das 570 mil mortes registradas até o momento no país. Foi durante a mesa de abertura da 23ª Conferência Estadual dos Bancários, que reúne 426 dirigentes eleitos delegados e delegadas dos 14 sindicatos filiados à Fetec-CUT/SP.

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“Nós sabemos vacinar. Temos 38 mil salas de vacinação no país, capazes de realizar a aplicação de 70 milhões de doses de vacina por mês. São 160 milhões de brasileiros acima de 18 anos, que é a população que estamos vacinando agora. Contando primeira e segunda doses, são 320 milhões. Se eu faço 70 milhões de doses por mês, em cinco meses já teríamos a maior parte da população vacinada, pois começamos a ter vacina em janeiro. Mas esse governo genocida não comprou [a vacina]”, enfatizou Vecina Neto.

O médico sanitarista disse que até o fim deste ano, a estimativa de especialistas é de que o número de vítimas fatais da Covid-19 no Brasil ultrapasse as 700 mil, em razão da chegada da variante delta do vírus, que já tem grande contágio no Rio de Janeiro.

“A variante delta está fazendo uma pororoca com a variante gama, e a delta é muito competente. O Brasil é o primeiro país que ela chega e que a variante gama já está presente. Ela [delta] já tomou conta do Rio, e está entrando agora em São Paulo. Ela vai chegar, vai se impor e vai matar, infelizmente. Até o final do ano, a estimativa é de que o número de mortes chegue de 700 mil a 800 mil. Ainda teremos muito sofrimento pela frente, mas se vacinarmos, esse sofrimento minimiza. Se vacinar todo mundo, não acaba, pois as vacinas não protegem eternamente, mas sim parcialmente e temporariamente, e terão de ter reforços”, ressaltou o médico sanitarista, que foi fundador e primeiro presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

“Essa doença é prioritariamente respiratória. Ambientes ventilados são fundamentais para não disseminar o vírus. Vamos ter de conviver com a doença, mesmo com a toda a população vacinada, e deveremos continuar usando máscara (preferencialmente a N95, a PFF2 ou uma máscara cirúrgica com a de pano por cima), como os orientais fazem quando resfriados, e com a necessidade de circular o ar nos ambientes. A vacina deve ser obrigatória. Caso a pessoa não queira se vacinar, deverá sofrer sanção, como não viajar de avião, não trabalhar junto com quem já tomou vacina. Tivemos na Justiça do Trabalho um caso de um funcionário de um hospital do ABC paulista demitido por justa causa por não ter tomado a vacina”, acrescentou Vecina Neto.

O professor da USP terminou a sua participação na Conferência dizendo que o coronavírus vitimou principalmente a população negra e pobre no Brasil.  

“Quando terminamos a vacinação para a faixa de mais de 70 anos, 82% das pessoas eram brancas, e só 18% negras. Só que 56% da população brasileira é negra. Por que não havia mais negros vacinados com mais de 70 anos? Porque eles morrem antes. Essa é a nossa sociedade, desigual, onde o racismo e a pobreza são estruturais. Esta pandemia teve uma vantagem: ela mostrou para nós como construímos uma sociedade desigual, como temos de lutar contra a desigualdade para construir um país melhor, para manter um sistema público universal de saúde (SUS) financiado com impostos pagos pela população”, finalizou.

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