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Por valorização, Nova Central engrossa greve

Linha fina
Aumento real, plano justo de cargos, mais saúde, menos pressão! É o que reivindicam os cerca de 1.800 trabalhadores da Nova Central que se mobilizaram no segundo dia de paralisação
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São Paulo – “A mobilização é o ideal para conseguirmos o aumento real. A paralisação desequilibra os banqueiros.” Esse argumento é de um dos cerca de 1.800 bancários da concentração Nova Central do Bradesco, na República, que, mobilizados, chamaram a atenção no segundo dia de greve da categoria.

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Dentre os principais motivos para tantos funcionários do segundo maior banco do Brasil cruzarem os braços nesta quarta-feira 19 estavam a insatisfação com o reajuste de 6% proposto pela federação dos bancos, que significa 0,58% de aumento real, além da falta de perspectiva no plano de carreira e a sobrecarga de trabalho.

“Falta funcionário e investimento em treinamento para os trabalhadores de diversas áreas da Nova Central”, disse um bancário. “A situação é péssima. O banco não investe em nossa carreira e nem dá aumento. Minha gestora já avisou que não teremos promoção esse ano. Estou aqui há sete anos e meio e esta é a situação”, expôs outra.

A visão de que o banco não valoriza como deveria os bancários com menos tempo de casa é o que motiva esses funcionários à greve. “Considero a paralisação justa, é o reflexo do tratamento dado aos bancários por seus gestores, que cobram tanto conhecimento, mas não investem em nós. Existe um déficit aqui de trabalhadores, uma pessoa exerce a função de várias”, reclama um bancário. “Cruzo os braços por remuneração. O Sindicato representa muito bem a categoria e nós temos de fazer nossa parte”, diz outro.

“Outras categorias, de setores nem tão rentáveis como o bancário, receberam reajustes de, em média, 2,3% de aumento real. E para os bancários o reajuste é de 0,58%? A alimentação fora de casa está bem mais cara, os vales alimentação e refeição estão auxiliando muito pouco, e o aumento dos valores dessas conquistas causa pouco impacto para as instituições financeiras. Eles podem pagar”, destacou a presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira (foto), ao lado dos bancários da Nova Central.

A dirigente lembrou ainda que a renda média dos bancários do Bradesco é menor que a de outras instituições financeiras, uma vez que o banco cobra por metas, mas não possui nenhum programa próprio para a participação nos resultados. “Isso não tem cabimento, já que este é o segundo maior banco do país.”

Pressão o tempo todo – A pressão sofrida pelos trabalhadores do Bradesco foi exposta durante a paralisação no prédio da Nova Central. O tempo todo, desde as 7h, os bancários recebiam instruções em seus celulares particulares para voltar ao trabalho.

Os bancários com metas de vendas para cumprir eram o principal alvo dos gestores. Por volta das 8h50, trabalhadores eram orientados por um dos supervisores a pegar táxis e se dirigir para uma unidade na Barra Funda. O objetivo era vender. Minutos depois, uma trabalhadora desabafou: “metas, metas, mais metas, muitas metas, cada vez maiores! Dá para entender como está nossa rotina de trabalho, né? E o pior é que não temos nenhum programa próprio de remuneração para ser compensados por isso e os bancos ainda querem nos empurrar esse reajuste ridículo de 0,58%”.

O direito de greve está na Constituição, expressado na Lei Nº 7.783/89. Mas vários artifícios são utilizados pelos bancos. “Temos listas em cada departamento dos funcionários que ficarão de plantão e quem está aqui do lado de fora foi orientado dias antes a ficar de olho no celular, para receber ligações sobre mudanças de local de trabalho”, relata um trabalhador da área administrativa.

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Saúde deveria ser prioridade – Há 24 anos no Bradesco, a funcionária que já teve LER/Dort por conta do esforço repetitivo exercido no local de trabalho está reabilitada, mas sente-se desvalorizada e sofre com a sobrecarga de trabalho. “Diminuiu muito o número de funcionários no último ano”, conta. Mesmo com experiência, ela não recebe aumento e nem cargos mais altos. “Você sabe fazer de tudo, tem competência e não é valorizado. Sinto que minha carreira ficou estagnada, ainda mais após meu afastamento.” Segundo a bancária, em seu departamento, as pausas, para prevenir o adoecimento e as LER/Dorts, nunca existiram.

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Gisele Coutinho – 19/9/2012

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