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Refeição, alimentação e creche pesam no bolso

Linha fina
Para bancários, conquistas precisam de aumento considerável para auxiliar despesas e isso é totalmente viável para bancos que tanto lucram
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São Paulo – Alguns bancários são mais atingidos pela sobrecarga de trabalho, outros pela pressão por metas. Mas se têm reivindicações que unem toda a categoria elas são o aumento real e os auxílios refeição, alimentação e creche – este último para quem tem filho com idade até 6 anos e 11 meses.

No início da Campanha Nacional Unificada deste ano, 12.286 bancários responderam à consulta sobre as prioridades para a pauta de reivindicação. Desses, 76% apontaram o aumento real e 75% auxílios alimentação e refeição maiores. “Não existe motivo para os bancos não darem o aumento que queremos. O vale-alimentação, por exemplo, não dá nem para o básico em casa, já que somos seis pessoas”, diz a bancária do Bradesco Nova Central. “Sou bancário há seis anos. O valor do auxílio-alimentação está muito baixo, pesa no bolso. Meu irmão, também bancário, trabalha na Avenida Paulista e sofre ainda mais, já que o valor da refeição lá é ainda mais caro que no Centro”, relata outro trabalhador do Bradesco.

Lucro sobra – Diante do lucro de R$ 25,8 bi das sete maiores instituições financeiras do país – Bradesco, Itaú, Santander, Banco do Brasil, Caixa, HSBC e Safra – apenas no primeiro semestre, negar a reivindicação de R$ 622 para cada um desses auxílios “chega a ser angustiante”. A sensação foi expressada por uma bancária do Santander de agência da Avenida Paulista.

Para um funcionário do HSBC, os valores dos vales alimentação e refeição estão aquém do necessário. “Tudo aumentou. O que você compra no supermercado com pouco mais de R$ 300? Isso não é suficiente pra fazer uma compra digna. Acho que o vale-alimentação deveria ser no mínimo de R$ 600.”

“Os bancos podem muito bem aumentar o valor do auxílio-alimentação. Em casa somos três pessoas e tenho que complementar um valor muito alto, causando um déficit no salário que me prejudica”, contesta a funcionária do Bradesco. Outro bancário do HSBC também critica os valores: “Eu trabalho no Centro e, apesar das várias opções, os preços são caros e sobem sempre. Estamos no dia 20, já não tenho mais nada no meu VR”, conta. “O VA também não dá para quase nada”, acrescenta.

Falta vontade – A reivindicação dos bancários é legítima. A refeição fora de casa está mais cara em todo o país. A região sudeste é a que apresenta o valor mais elevado: em média, R$ 23,97. Na grande São Paulo, a situação é ainda pior, com o valor médio de R$ 26,80. A média está alta em todo o Brasil. As informações são da pesquisa realizada pela Associação das Empresas de Refeição e Alimentação Convênio para o Trabalhador (Assert).

Segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, em um ano, o valor do tomate, por exemplo, alimento presente nos pratos de muitos bancários na hora do almoço ou no jantar, subiu 43,29%. O bancário do Itaú, do Majolão, compra verduras e frutas somente na feira. “Os outros alimentos, no supermercado, estão caríssimos. O auxílio não ajuda muito e tenho de complementar o mesmo valor em dinheiro. E esse gasto é apenas para eu e minha esposa.”

Educação é prioridade – Se a necessidade dos bancários em investir na carreira é grande, maior ainda é a preocupação que a categoria tem com seus filhos. A educação é prioridade também para o Sindicato, que defende a questão como uma responsabilidade social que deveria ser exercida pelos bancos a partir da prática com seus funcionários. “Meu filho tem dois anos e meio. Eu e minha esposa gastamos, em média, mil reais com despesa da escolinha, uniforme e não gastamos com o transporte escolar, para não encarecer ainda mais”, relata o bancário do CTO do Itaú.

Hoje, o benefício é de R$ 284,85. A reivindicação é de um salário mínimo, R$ 622. “Queremos conquistar esse valor, para que, de fato, a verba seja um auxílio”, completa o funcionário do Itaú. Esse também é o principal motivo da bancária de uma agência do Santander próxima ao Trianon/Masp, na Paulista, estar na greve desde segunda-feira. “Meu filho tem cinco anos. Gasto em média R$ 750 por mês e se eu somar a diferença que tenho de complementar, com os valores em alimentação, não sobra salário”.


Gisele Coutinho – 20/9/2012
 

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