São Paulo – As metas cada vez mais abusivas nos bancos é um dos motivos que levaram a categoria à greve. A mobilização dos bancários não é só por salários, mas também por melhores condições de trabalho, e este recado ficou claro na assembleia que deflagrou a paralisação por tempo indeterminado a partir de 19 de setembro.
Alguns trabalhadores se sentem atraídos pelos desafios impostos pelos bancos quando são admitidos, para ganhar uma remuneração variável a partir das metas atingidas. Mas a armadilha logo vem à tona. Foi o que aconteceu com uma bancária de 23 anos, recém-formada em Administração, contratada para trabalhar no Telebanco do Bradesco. “Quando entrei fiz um treinamento sobre todas as campanhas de venda de produto. Todas são atreladas a prêmios. Eles deixam muito claro que você vai vender. Eu não tinha experiência em vendas”, relata. Foram dois meses de treinamento com simulações de vendas de todos os produtos do banco e tipos de abordagens ao cliente.
A funcionária relata que sua expectativa para trabalhar em um banco era enorme. Ela cadastrou seu currículo no site da Febraban assim que entrou no curso de Administração e foi convocada, surpreendentemente, no ano que se formou.
O sonho durou alguns meses. A funcionária não resistiu à pressão imposta por seus supervisores. “Me senti uma vendedora, não uma bancária. Foi muita pressão, até que comecei a passar mal com dores no estômago, muita ansiedade, vontade de chorar assim que chegava próximo ao trabalho. Fui ao médico, que me encaminhou ao psiquiatra, fui atestada com depressão e ansiedade. Hoje, tomo remédio controlado”. Desde quando foi afastada, há seis meses, a dosagem da medicação triplicou.
Tudo por telefone – Todas as tentativas de venda eram feitas por telefone. Os clientes que ligam para pagar contas, fazer consultas de sua conta, segundo a bancária, devem receber oferecimento de algum produto. “A avaliação é feita pela qualidade do atendimento e também pelo tanto que você vende. Mas eu sofria muito em ser obrigada pelo banco a oferecer produtos a um cliente que ligava para fazer reclamações sobre o Bradesco”, explica. “Declinei nas vendas. E ai começaram as ameaças de demissão”.
Sem receber variável - Apesar da pressão pelas vendas, não existia qualquer tipo de remuneração variável, e sim prêmios. “Na campanha de inverno você concorre à viagem para Campos do Jordão. No verão, pode ganhar passeio para a praia. Na Páscoa, um ‘super ovo’. Nas viagens, vai a equipe de trabalho junto, e não sua família”, conta a trabalhadora.
A situação de bancários adoecidos por conta da pressão por metas abusivas não é só em bancos privados como o Bradesco. No Banco do Brasil, por exemplo, a pressão é diária e as ameaças de descomissionamento, constantes.
Por e-mail, um bancário do BB denuncia ao Sindicato: “É mentira que não estamos adoecendo, somente na minha agência conheço nove funcionários que estão tomando remédios controlados. Eu estou afastado pelo psiquiatra, sou gerente e não aguento mais, estamos adoecendo. Não quero só PLR maior, quero saúde”, desabafa o trabalhador.
E os banqueiros? – Tanto os representantes de bancos públicos, quanto dos privados não apresentaram propostas de melhorias nas condições de trabalho e solução para o fim das metas abusivas nas rodadas de negociação.
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Gisele Coutinho – 13/9/2013
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Pressão de gestores nas instituições financeiras resulta em trabalhadores cada vez mais jovens afastados do trabalho e usando medicação controlada
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