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Nelson Silva, trabalhador com DNA bancário

Linha fina
Ex-dirigente sindical e assessor do Sindicato morreu nesta sexta-feira, aos 77 anos; diretoria da entidade manifesta solidariedade a família e amigos desse lutador tão especial para toda a categoria bancária
Imagem Destaque
Redação Spbancarios
30/9/2016


São Paulo – “Você, fique ali para conversar com aquela turma. Pois não? Olhe, amigo, essa paralisação foi decidida em assembleia e é para o bem de todos tanto os bancários quanto a população”. A frase é do ex-dirigente e assessor político do Sindicato Nelson Silva, proferida em meados dos anos 1990, organizando paralisação de bancários na Rua Boa Vista, na região central da cidade de São Paulo.

Sempre com traje impecável e extrema polidez no trato com as pessoas, era mestre em lidar com bancários e a população nas Comissões de Esclarecimento. A estratégia foi inaugurada na histórica greve nacional da categoria em 1985, da qual o “Nelsão” participou com muita gana e lançou mão de improviso ao lado de outros trabalhadores.

“Costumávamos ir à (rua) 25 de Março pegar restos de madeira e papelão para fazer os materiais que utilizaríamos. Passávamos a noite toda refazendo cartazes e faixas e, de manhã, estávamos a postos, cada um nos seus lugares. Inauguramos a Carta Aberta aos Clientes para explicar o porquê da paralisação”.

Nelson morreu na sexta-feira 30, aos 77 anos, após meses de luta contra um diabetes e outras complicações. Deixa esposa, cinco filhos, sete netos e três bisnetos.

>1985, a greve que não acabou  

DNA bancário – Nas comemorações dos 90 anos de fundação do Sindicato, celebrado em 2013, Nelson Silva foi um dos homenageados. Entrevistado em uma das edições comemorativas da Folha Bancária, relatou seu apaixonado envolvimento com a categoria e o Sindicato.

> Paixão pela luta sindical é o que constrói a história

Lembrava, bem-humorado como sempre, que foram as diversas tentativas frustradas de entrar nos bailes restrito a bancários – as “domingueiras” promovidas pelo Sindicato em meados dos anos 1950 –, que o fizeram ingressar no extinto banco Irmãos Guimarães, como estafeta, como eram chamados os office boys.  

“Me perguntaram se eu tinha terno, gravata. E eu não tinha. Ele disse, ‘ah pede pra algum amigo!’. Sei que vesti o ternão e me apresentei na agência. A molecada já fez um samba quando eu entrei: ‘engole ele, engole ele paletó, engole ele paletó!’. E eu pensei... ‘faltam 15 dias para o pagamento e eu vou ter de aguentar isso aqui’. Primeiro salário, fui no brechó e comprei o terno mais bonito.”

Uma de suas marcas, a elegância, foi parar nas telas de cinema: fez papel secundário no filme Da Terra Nasce o Ódio, em 1954, que pode ser visto no YouTube.

Ainda no banco Irmãos Guimarães, Nelson não sabia o que fazer com o bicho de estimação, o Dick Silva. O cachorro tinha sido um presente de casamento e Nelsão tinha pena de deixar o filhote em casa sozinho.

“Peguei o trem da Cantareira, que ficava próximo ao Mercado Municipal, com ele no colo. Cheguei no banco, me perguntaram: O que é isso? Eu falei, ‘mas será que vocês nunca viram um cachorro?’. ‘Mas dentro do banco, não!’. E eu disse: ‘Não! No meu cachorro ninguém mexe!’. Ele corria pra cima e pra baixo dentro da agência. Eu era chefe de conta corrente, e o cara perguntava o saldo, eu ia e o cachorro ia atrás de mim.”

Segundo Nelson, Dick Silva foi preso com ele várias vezes na época da ditadura militar. Com bom humor, ele considerava que o cachorro também era membro do PC (Partido Comunista).

Ator e descobridor de talentos – De dirigente a funcionário do Sindicato, ele deu vida a dezenas de personagens em atos lúdicos para levar às ruas a luta dos trabalhadores. Assim interpretou papéis de juiz, advogado, apresentador de TV, padre e até defunto. “Achava que precisava ter uma participação bem maior, o que incluía até deixar a família de lado pela causa sindical”, lembrava.

Também partiu de Nelson Silva a “descoberta” de um cantor de rua que durante muitos anos animou os protestos do Sindicato, Dedé Passos (falecido em 2012). “Já tinha a Banda do Peru e uma bela tarde vi esse rapaz cantando pelas ruas do Centro. Convidei para se apresentar junto com a bandinha e os bancários adoraram. Virou uma espécie de referência nos atos lúdicos.”

Sentimento – Nelson Silva integra a história do rico legado da categoria bancária. O Sindicato lamenta profundamente o falecimento deste valoroso companheiro e manifesta solidariedade aos familiares e amigos do grande Nelsão. 
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