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Clientes da Paulista também cobram banqueiros

Linha fina
No principal corredor financeiro de São Paulo, correntistas e usuários reclamam de tarifas e juros, além de também valorização da categoria
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São Paulo – Agências abarrotadas, funcionários sobrecarregados e muita revolta e insatisfação com os bancos. Esse foi o cenário observado nas unidades bancárias da Avenida Paulista, um dos principais centros financeiros do país, nesta quarta-feira 8, vigésimo primeiro dia de paralisação.

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“A culpa é de quem paga os funcionários. O banco cobra por qualquer servicinho, ganha uma fortuna com juros e tarifas e ainda fica regulando aumento e submetendo os clientes a esse caos”, reclamou uma cliente que tentava pagar um Bradesco lotado.

Ao ser informada que os seis maiores bancos lucraram R$ 30 bilhões no primeiro semestre de 2013 e que só com o valor das tarifas cobradas dos clientes (R$ 46 bilhões) é possível pagar toda folha salarial das instituições e ainda sobram 33%, ela ficou indignada. “E ainda querem dar aumento de menos de 1%?”.

“A culpa da greve é dos bancos, claro”, disse a advogada Jacqueline Siegrist, que pretendia pagar uma conta no Santander, mas desistiu porque não confia nos caixas automáticos. “O salário que eles pagam é uma miséria. Conheço a realidade dos bancários, eu ia às assembleias do Sindicato quando o presidente era aquele japonês”, disse, referindo-se a Luiz Gushiken, que presidiu a entidade de 1985 a 1986 e faleceu no dia 13 de setembro. “Foi um bom presidente”.

“Se os bancários estão fazendo greve, é por um motivo justo e eu apoio”, disse a bacharel em direito Fernanda Silene Cury. “Já que eles lucram às nossas custas cobrando juros e tarifas, esse dinheiro deveria ser melhor distribuído”, acredita o contador Euripedes Teixeira.

Para a autônoma Rosemary, a greve atrapalha bastante a população. “Mas não acho que está errado, pelo contrário. Infelizmente, neste país, as coisas só funcionam quando fazemos manifestações.”

Reajuste digno –  “Amanhã tem negociação, né?” perguntou uma funcionária do Itaú. “Espero que dessa vez eles ofereçam um reajuste digno e condizente com o que a gente tem que passar aqui dentro”, disse, criticando as metas abusivas.

Ela conta que desenvolveu síndrome do pânico por causa do assédio de um chefe. “Fiquei afastada por seis meses, tomo remédio controlado há três anos, faço terapia, e o Bradesco não me ajudou com um centavo sequer no tratamento”.

A bancária acrescenta que o trauma sofrido foi tamanho que antes de iniciar o tratamento ela não podia sequer passar na frente de uma agência do Bradesco. “Já vi colegas sendo humilhados na frente de clientes. Os bancos têm que criar mecanismos para coibir o assédio moral.”

Para uma bancária do Bradesco, mais importante que um reajuste salarial digno é o fim do assédio moral e das cobranças por metas abusivas. “Para conseguir bater as metas nós temos que passar por cima da ética, fazer venda casada, empurrar produtos desnecessários”, exemplifica.


Rodolfo Wrolli - 9/10/2013

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