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Indignação geral na norte contra proposta

Linha fina
Bancários também têm total consciência de que para os bancos não há crise e que eles podem pagar aumento real
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São Paulo – “Se aceitarmos essa proposta, muito abaixo da inflação, o que a gente vai comer quando estivermos em outubro do ano que vem?”, questiona uma funcionária de agência do Bradesco. Ciente de que os 5,5% de reajuste proposto pelos bancos representa apenas R$ 1,43 no vale-refeição, que passaria dos atuais R$ 26 por dia para R$ 27,43, a bancária comenta: “Vamos ter que trocar um prato de comida decente por um lanche, um cachorro-quente, uma coxinha...”.

Oitavo dia paralisa 851 agências
> Fotos: galeria com imagens da zona norte

As colegas de trabalho fizeram coro. “É ridículo! Um reajuste tão baixo quando a gente sabe que eles ganham tanto”. Elas são funcionárias de uma agência na Avenida Voluntários da Pátria, zona norte de São Paulo, que fechou nesta segunda 13, oitavo dia de greve. “Aumento de 5,5% é absurdo. A gente sabe que o país está em crise, mas pra eles não né?”, completou outra funcionária do Bradesco, referindo-se ao lucro dos bancos. Os cinco maiores (BB, Caixa, Itaú, Bradesco e Santander) lucraram, juntos, R$ 36,3 bilhões só no primeiro semestre, crescimento de 27,3% em relação aos primeiros seis meses de 2014. O setor atingiu R$ 42,7 bi no mesmo período, 36,5% mais em relação ao ano passado. Apenas o Bradesco lucrou R$ 8,778 bilhões no primeiro semestre, alta de 20,6% em relação a junho de 2014.

> Bradesco lucra R$ 8,7 bilhões no semestre

Sobrecarga – “Em sete anos de banco, nunca vi uma proposta como essa, que não chega nem perto da inflação. Ninguém está satisfeito”, disse uma funcionária do Itaú, supervisora em outra agência da zona norte da capital que aderiu à paralisação. Além da remuneração, a trabalhadora reclama da sobrecarga de trabalho: “Tem dias que a gente não consegue nem sair pra almoçar. E a falta de funcionário faz com que a gente acabe exercendo funções que não são as nossas. Várias vezes assumi o caixa, por exemplo”, conta.

Mais contratações e garantia de emprego são outras reivindicações importantes para a categoria e que também ficaram sem respostas positivas da Fenaban.

“Ou seja, não temos retorno financeiro e nem melhorias nas condições de trabalho”, completa o colega de banco. “Eu deveria cuidar só da gestão de pessoas, mas acabo tendo de cuidar de outras coisas. Desvio de função e sobrecarga é comum aqui”, acrescenta o gerente operacional.

Eles explicam que com a migração de bancários para as agências digitais do Itaú, o problema se agravou. “Aqui eram dois gerentes Uniclass, aí um migrou para o atendimento digital. Só que não adianta, uma hora o cliente vai procurar a agência física, e a gente vai ter de dar um jeito.”

O resultado do Itaú no semestre chegou a R$ 11,942 bilhões, aumento de 25,7% em relação ao mesmo período de 2014. Entre junho de 2014 a junho deste ano, o maior banco privado do país eliminou 2.392 postos de trabalho.

Sem crise – “Outros setores podem até estar passando por dificuldades, mas os bancos não”, opina uma bancária do Santander. “Tenho oito anos de banco e nunca vi proposta tão ruim como essa”, acrescenta a trabalhadora.

“Sou gerente Van Gogh, mas como na agência não tem funcionário suficiente, acabo tendo de atender PF e PJ”, relata uma colega da mesma agência, outra da zona norte que fechou as portas, aderindo ao movimento. “Aqui somos oito, mas pra não ter sobrecarga, precisaríamos de no mínimo mais três”, acrescenta.

Sobre os R$ 1,43 a mais por dia no VR, ela comenta: “Não dá nem pra um cafezinho”.

“Indecorosa” – Um grupo de bancários que cruzava os braços em frente a outra agência da zona norte foi convidado a opinar sobre os 5,5% de reajuste. As respostas vieram sem hesitação: “indecorosa”, “horrível”, “indecente”, “uma falta de respeito”. “É só pegar o resultado do ano passado e comparar com o desse ano, pra ver o quanto eles estão oferecendo pouco”, arrematou um gerente do Itaú.


Andréa Ponte Souza – 13/10/2015 
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