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“Não me venham falar de crise!”, avisam bancários

Linha fina
Na Nova Central do Bradesco, desculpa usada pela Fenaban não cola para justificar reajuste considerado ridículo e que está gerando revolta e motivando adesão cada vez maior à greve
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São Paulo – “A Fenaban [federação dos bancos] alega crise para oferecer esse reajuste que é um tapa na nossa cara, mas que crise é essa em que os lucros dos bancos só aumentam?” Essa pergunta sem uma resposta lógica foi feita mais de uma vez pelos bancários da Nova Central na quarta-feira 14, nono de dia greve que contou novamente com a paralisação do centro administrativo do Bradesco.

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E a descrença com o argumento dos bancos é embasada por números. Nos primeiros seis meses de 2015, Banco do Brasil, Caixa, Bradesco, Itaú e Santander – os cinco maiores que atuam no país –, lucraram R$ 36,3 bilhões, resultado 27,3% maior do que no mesmo período do ano anterior.

“Eles lucram com crise e sem crise, emprestando dinheiro a juros muito altos para quem está precisando. E também ganham com os juros da dívida pública”, observou um funcionário. “E ainda propõem um reajuste que não cobre nem a inflação. É uma falta de respeito que não tem tamanho, por isso o pessoal aqui está bem revoltado e com vontade de paralisar mesmo.”

Mas se para os trabalhadores os bancos alegam a crise para oferecer 5,5% de aumento – índice que imporia perdas de 4% nos salários ante uma inflação de 9,88% –, para outros parece não haver momento algum de dificuldade. As instituições listadas na BM&FBovespa – detentoras de mais de 60% dos ativos do sistema financeiro brasileiro – devem aumentar a remuneração fixa de seus diretores executivos em até 81%. E isso é apenas uma parte do que esses funcionários devem receber, pois bônus e outros pagamentos variáveis não estão inclusos. O levantamento foi feito pelo portal iG.

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E esses aumentos generosos virão, mesmo os salários de quem ocupa a diretoria dos bancos girando em torno dos R$ 420 mil mensais, valor 233 vezes maior do que o piso da categoria bancária (R$ 1.796,45).

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“É um desrespeito, um absurdo, uma vergonha!”, desabafou uma bancária do centro administrativo localizado no centro de São Paulo onde trabalham cerca de 650 bancários, dos quais 500 no Câmbio. “É muito difícil ouvir um negócio desses, não tem nem o que falar. Me sinto uma palhaça. O único jeito de conseguir um reajuste decente é com a greve mesmo.”

Outro bancário traçou um paralelo com outro momento parecido ao atual. “Em 2007 a Fenaban estava demorando para aceitar negociar, e isso levou os funcionários daqui a participarem do movimento espontaneamente. O prédio inteiro parou. Eu estou achando que este ano vai acontecer a mesma coisa. Aqui tem muito bancário jovem,  que tem espírito mais revolucionário”, acrescentou.  

Essa impressão foi reforçada por uma colega (mais jovem). “O banco mandou muita gente mais velha embora e contratou funcionários mais jovens. Nisso eu acho que eles se ferraram, porque quem é mais novo não tem medo de fazer greve. Tem muita gente que nem está vindo e deixam o celular desligado para não receber ligação do chefe.”

A atitude de um bancário revela o espírito de resistência contra uma proposta de reajuste salarial considerada um desrespeito por 10 entre 10 bancários: “Hoje era o último dia para pegar meu auxílio-babá, mas não quis subir para pegar o dinheiro. Vou perder R$ 200, mas vou ficar aqui embaixo, porque isso [a greve] é muito importante. Respeito demais o movimento.”

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Rodolfo Wrolli – 14/10/2015
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