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“Não têm vergonha na cara!”

Linha fina
Greve atinge Osasco com força, e o que não falta na cidade é bancário disposto a lutar por um índice de reajuste acima da inflação; clientes apoiam, mesmo diante dos transtornos causados pela paralisação
Imagem Destaque
São Paulo – O terceiro dia de greve atingiu com força a populosa cidade de Osasco. Na quinta-feira 8, o município da região metropolitana de São Paulo com cerca de 660 mil habitantes  amanheceu com 97 agências paralisadas para forçar os bancos a apresentar proposta digna de reajuste salarial.

> Greve amplia paralisação nas agências

E na cidade que sedia a matriz do Bradesco, a fúria é geral. O que ocorreu na agência 127 – a maior daquele banco em Osasco, com 77 funcionários –, revela a disposição da categoria para lutar por um índice acima da inflação.  Mesmo com a pressão da chefia, os bancários não aceitaram se deslocar para um posto de atendimento e aderiram à greve.

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“Eles não têm vergonha na cara de oferecer um reajuste desses, mesmo com o tanto de lucro que a gente dá para os bancos”, afirmou uma bancária do Bradesco. Com a inflação em 9,88%, o índice proposto pela federação dos bancos representaria perdas de 4% no salário, na PLR, nos vales alimentação e refeição.

Em outras unidades, a atitude era a mesma. “Mesmo sem saber que as agências daqui iam fechar hoje, cinco colegas nem vieram em apoio à greve”, conta o gerente de uma agência da Caixa. Ele é um exemplo da exploração que a categoria enfrenta e está movendo um processo contra o Bradesco – seu antigo empregador – por assédio moral e pelo pagamento de horas extras.
Ele conta que na agência onde trabalhava havia apenas dois caixas, o que causava morosidade no atendimento. Por causa disso, aquela unidade bancária recebeu seguidas queixas de clientes no Banco Central. “Sempre passava do meu horário. Batia o ponto e continuava trabalhando. E a gestora ainda culpava a gente pelas reclamações e pela demora no atendimento. Chamava a gente de lerdo, de burro, na frente dos clientes”, conta.

Quando passou em um concurso da Caixa, o bancário processou o Bradesco. A decisão em primeira instância saiu há poucos meses e foi favorável ao trabalhador. “Me senti recompensado. É importante divulgar essa história para incentivar os bancários que passam pela mesma situação a também entrar na Justiça.”

Apoio da população – Apesar dos transtornos causados pela paralisação, a população em sua grande maioria ficou ao lado dos trabalhadores. “Lógico que eu apoio a greve”, bradou a aposentada Neyde Maria França, mesmo não tendo conseguido executar a transação que a levou à agência 127 do Bradesco. “Minha poupança não rende nem 1% ao mês, mas quando pedi empréstimo, me cobraram 15% de juros ao mês. É um absurdo. Mesmo ganhando tanto dinheiro da gente, eles [os bancos] não colaboram.”

A dona de casa Renata Ferreira de Almeida também considerou a causa justa e declarou apoiou ao movimento mesmo não tendo conseguido transferir dinheiro para a conta do filho devido à paralisação. A indignação da cidadã se intensificou quando soube que os bancos querem dar um reajuste menor do que a inflação. “Ganham muito dinheiro com as tarifas que a gente paga. É um absurdo. Greve é um direito”, afirmou, na porta de uma agência do Banco do Brasil na Rua Antônio Agu, no centro de Osasco.

Em frente a uma unidade paralisada do Itaú, na Avenida dos Autonomistas, verificou-se a mesma revolta com os bancos e a mesma compreensão com a greve.  “É brincadeira! Mesmo ganhando tantos bilhões, o banco manda embora um monte de gente e paga muito mal os funcionários”, opinou o metalúrgico aposentado Pedro Maldonado, que foi ao local fazer uma prova de vida, mas não conseguiu.  “Tem que fazer greve mesmo. Sou sempre a favor do trabalhador.”

“Eles acham que somos ignorantes?” – O depoimento de uma caixa daquela agência atestou a exploração percebida pelo cliente. “Tenho que atender cliente, segurar a fila, vender produto e bater 150% da meta. Com todo esse trabalho, querem oferecer 5,5% de reajuste. É muito desrespeito.”

“A gente conversa com os funcionários de outros bancos e todos estão achando esse índice uma falta de respeito”, reforçou uma bancária do HSBC que também cruzou os braços. “Isso desmotiva muito. É uma ofensa, estão nos subestimando. Eles acham que somos ignorantes?”, desabafou.

“Eles [bancos] culpam a crise para não dar um reajuste maior, mas estão lucrando muito com juros, tarifas e com o nosso trabalho”, observou um colega da Caixa. “Se eles não valorizam a gente, estão desvalorizando a própria empresa.”


Rodolfo Wrolli – 8/10/2015
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