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'Bancário é o bode expiatório do governo'

Linha fina
Para o presidente da CUT, Vagner Freitas, banqueiros e Temer são aliados na tentativa de impor perdas para a categoria, aplicando assim a mesma lógica de arrocho salarial para todos os trabalhadores
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Felipe Rousselet, Redação Spbancarios
3/10/2016


São Paulo - Os bancários chegaram ao 28º dia de greve forte nesta segunda-feira e os banqueiros insistem em propor um reajuste abaixo da inflação, com perdas para os trabalhadores. Para Vagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e bancário, a tentativa de rebaixamento dos salários pelos bancos possui um importante aliado, ou mesmo um protagonista “oculto”: o governo Temer.

“Não é verdade que os bancos não podem pagar a inflação. Os bancos estão se somando ao governo para derrotar a política de reposição salarial, que é a intenção deste governo golpista para todas as categorias. Mais ou menos como foi em 1994, na greve dos petroleiros, quando o sindicato da categoria fez a primeira greve na era FHC e o governo impediu a Petrobras de dar o reajuste, exatamente para manter o arrocho salarial que pretendiam para todos os trabalhadores”, explica Vagner.

“Os bancários estão sendo penalizados, feitos de bode expiatório, por um governo que quer aplicar uma política econômica de retirada de direitos e falsa austeridade. É a primeira categoria que se insurge contra essas questões. Aí eles [governo] propõem congelar gastos públicos por 20 anos, o que significa congelar investimentos em educação, saúde e também salários, de trabalhadores públicos e privados. É contra isso que estamos lutando. Contra essa política econômica equivocada, que diminui o fluxo de entrada de recursos dos salários na economia e, por consequência, reduz o consumo”, acrescenta. Vagner se refere à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241, de autoria do governo Temer, que tramita na Câmara dos Deputados e que prevê o congelamento dos investimentos do Estado por duas décadas.

De acordo com o presidente da CUT, não houve grande mudança econômica, específica para o setor financeiro, da campanha dos bancários de 2015 para a deste ano. “A grande mudança, que está fazendo com que os bancários não recebam a recomposição da inflação, é a de governo. No governo passado, com todas as dificuldades, nem passou pela cabeça dos banqueiros não recompor a inflação. Não tinham um aliado no governo. Agora eles têm no Temer um parceiro para rebaixar salários.”

“Como presidente da CUT, sei que existem setores da economia com dificuldades para dar aumento real, mas não é caso do setor financeiro. Por acaso vão limitar os bônus dos diretores? Vai deixar cada um de ganhar R$ 1,5 milhão, R$ 2 milhões? O [Roberto] Setubal [presidente do Itaú] vai ganhar menos? O [Luiz Carlos] Trabuco [presidente do Bradesco] vai ganhar menos? Ou vai ser só o bancário que será penalizado?”, questiona Vagner. “A não reposição da inflação significa que você vai ganhar menos esse ano do que ganhou ano passado. Você trabalhou mais para ganhar menos”, acrescenta.

Greve heroica – O presidente da CUT parabenizou a categoria pela forte mobilização.

“A greve dos bancários é heroica. Parabéns para essa categoria, a qual me orgulho de pertencer. Não tenho dúvida que estamos cumprindo um papel de não só defender nossos interesses, mas os interesses de todos os trabalhadores. Se não tiver aumento para o bancário, também não vai ter para o químico, para o metalúrgico, para o professor. É hora de solidariedade de todos os sindicatos, de todas as categorias, com a greve dos bancários. Pode ter certeza que a partir da semana que vem, com a paralisação continuando, será de todos os trabalhadores contra o arrocho salarial, com os bancários capitaneando”, conclui Vagner.
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