São Paulo – O comitê de administração da CABB (Central de Atendimento do Banco do Brasil) está implantando um modelo de avaliação 'importado' da rede de negócios que vai impor metas de vendas para os atendentes.
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Além de ampliar a sobrecarga, já grande em cima dos trabalhadores da CABB, a medida precariza a atenção aos correntistas – que pagam tarifas altas para a instituição – e fere a NR-17 (Norma Regulamentadora 17), que "visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente".
"A sobrecarga á evidente. O atendente tem várias tarefas a desempenhar quando é acionado para ajudar um cliente. São muitas telas na sua frente, sistemas complexos e regras e diretrizes diversas que pedem atenção plena para que se tenha um desempenho satisfatório", explica Antônio Netto, diretor do Sindicato. "Imagina, no meio desse turbilhão, exigir ainda que o atendente convença um cliente – muitas vezes insatisfeito com o banco – a comprar alguma coisa. Não tem como resolver um problema de cobrança indevida e, ao mesmo tempo, ter de vender um seguro ou um CDC, por exemplo. Não há estrutura mental que suporte", completa.
A gerência do CABB tenta minimizar o assunto dizendo que a implantação do Conexão BB é apenas para motivar, incentivar as vendas, e que no momento não cogita registrar a meta de venda na GDP. "Sabemos que não é isso. Conhecemos esse roteiro de cor e também recebemos denúncias de que alguns gestores já cobram venda dos atendentes, e a monitoria, quando não há oferta do produto, está registrando pontuação negativa no GDP."
Antonio Netto cita, ainda, pelo menos duas violações da NR-17 nesse caso. Uma é o flagrante estímulo abusivo à competição interna. Outro é a sobretarefa com ações que exigem memória de curto prazo. "O atendente vai ter de manter em mente o motivo da ligação, buscar na memória o caminho da solução e agir para resolver a questão ao mesmo tempo em que terá de avaliar o perfil do cliente, os produtos que podem ser oferecidos e se comunicar, em outro nível de conversa, com alguém que está esperando suporte e não produtos", explica. "Se isso não é espremer o trabalhador até além do limite, não sei o que é."
Desmonte – Forçar atendentes a vender, além de irregular e cruel, reforça o desastre que é o desmonte do Banco do Brasil promovido pelo governo Temer. "O atendente já está sobrecarregado por conta da falta de funcionários e precarização das condições de trabalho criadas por esse desmonte. Impor a eles mais uma função, com cobrança de metas, vai piorar o atendimento. Será que não é isso mesmo que o governo quer? Piorar o atendimento, sucaterar para depois entregar à iniciativa privada?"