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Chapéu
Debate

Sindicato participa de encontro de mulheres na Argentina

Linha fina
Evento reuniu sindicalistas de diferentes países da América Latina para discutir a conjuntura político-econômica da região
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Foto: Divulgação

O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região marcou presença no encontro da Rede Uni Mulheres, nos últimos dias 11 e 12. O evento aconteceu em Buenos Aires, na Argentina e reuniu 55 dirigentes de 22 organizações sindicais do Chile, Brasil, Argentina e Uruguai para discutir conjuntura na América Latina.

O objetivo do encontro foi fazer uma análise de conjuntura dos países participantes sob a vigência de políticas neoliberais e seus impactos na classe trabalhadora, em especial em relação às mulheres. Durante os debates, as sindicalistas concordaram que o modelo socioeconômico amplamente adotado na América Latina tem um componente comum de ataque aos direitos trabalhistas a partir de reformas que precarizam as condições de trabalho, vida e salário. O desmonte do Estado, ataque a empresas públicas e aos movimentos sindicais e sociais também é outro ponto de convergência entre o que vem se observando nos países do bloco, o que resulta no aumento da violência institucional e de gênero.

Particularidades

Segundo a vice-presidenta da UNI América Mulheres e secretária-geral do Sindicato, Neiva Ribeiro, que participou do encontro, o entendimento geral é de que o que levou milhares de pessoas às ruas no Chile foi justamente as sequelas de anos de modelo neoliberal, que Paulo Guedes quer implementar no Brasil.

“A violência do Estado na repressão levou as mulheres a serem protagonistas e denunciarem também a violência de gênero, que se soma a práticas de assédio que as mulheres são vitimadas todos os dias”, contou.

Em relação à Argentina, Neiva conta que o clima é um pouco diferente após a eleição de um governo progressista.

“Então o país está em festa na expectativa de conseguir resgatar o que estava sendo perdido no governo passado. Isso nos traz esperança de que a gente consiga, futuramente no Brasil, eleger um governo que pense mais nos trabalhadores, no fortalecimento da soberania, no desenvolvimento sustentável e no meio ambiente. Em suma, um país mais digno para as pessoas e não pensando apenas nas corporações que querem deixar todo mundo escravizado, precarizado, uberizado”, analisou.

O encontro de mulheres da UNI também discutiu a situação do Uruguai, que vai na contramão do levante que se observa no pais vizinho.

“No Uruguai, a direita voltou ao poder, então as mulheres estão muito preocupadas sobre a possibilidade de voltar a um período de retrocessos, como está acontecendo no Brasil. Apesar disso, foi o primeiro país que conseguiu a ratificação da convenção 190 da OIT”, explicou Neiva.

A Convenção 190 da Organização Internacional do Trabalho, que trata da violência e assédio no mundo do trabalho, foi outro destaque do evento. As sindicalistas aproveitaram o encontro para discutir estratégias de mobilização para ratificação da convenção 190 em todos os outros países.

“Trata-se de violência no local de trabalho e combate ao assédio. Leva em conta que violência doméstica deve ser discutida entre trabalhadores, empresários e Estado. Por aqui, fizemos campanha sobre este tema nos 16 dias de ativismo [pelo fim da violência contra a mulher], mas a luta continua. Temos que explicar para as pessoas por que os países têm de ratificar, para que tenha peso de lei e reverta esse quadro de violência e assédio que sofrem sobretudo as trabalhadoras”, lembrou Neiva.

Por aqui

Durante o evento, Neiva Ribeiro destacou que o Brasil enfrenta os mesmos problemas de outros países vizinhos, como retiradas de direitos e enfrentamentos aos retrocessos que vêm sendo impostos por parte do governo federal. Ela destacou, como exemplo, a aprovação da reforma da Previdência, apesar de os movimentos sociais terem conseguido barrar a capitalização no projeto enviado pelo governo ao Congresso.

“Nós também acabamos de vencer a MP 905 na negociação coletiva com os banqueiros. Entretanto, se os bancários estão de certa forma protegidos contra este pacote de maldades, esta medida ainda traz um monte de tragédias para outras categorias, representando um aprofundamento da reforma trabalhista do Temer”, disse.

Além das semelhanças com a situação em outras partes da América Latina – como os ataques às empresas públicas e à soberania, e as constantes investidas contra os direitos civis das mulheres, diversidade sexual, política e religiosa –, Neiva também destacou as particularidades da situação brasileira.

“Por aqui temos uma faceta ainda mais perversa desta nova direita, que é a negação do conhecimento e da ciência. Temos visto casos de lideranças defendendo a terra plana, criticas a Paulo Freire, a religião como contraponto à ciência, algo que não aparece nos outros países. Os trabalhadores precisam se organizar nos âmbitos locais, nacionais e internacional, pois os ataques aos nossos direitos têm se arquitetado em todas estas esferas. Neste sentido, o Sindicato é um forte ator nesta luta”, completou.

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