São Paulo – O Société Générale, um dos maiores grupos financeiros da Europa e um grande banco de varejo da França, atua no Brasil de modo incoerente: diz ter responsabilidade social e a “missão de valorizar vidas humanas”, porém, nas relações diárias, explora e tira a saúde do trabalhador, permite assédio moral e depois o descarta como se não tivesse valor algum.
Assim foi a relação da instituição com um dos funcionários da empresa que, após cinco anos e meio se dedicando ao grupo, foi dispensado por justa causa após adquirir doença do trabalho. “Não é a primeira vez que uma denúncia como essa do grupo Société Générale chega ao Sindicato. Dessa vez, o caso é reincidente, pois já havíamos negociado com o banco no passado”, conta Raquel Kacelnikas, secretária-geral do Sindicato.
Histórico – O funcionário, com ótimas avaliações de desempenho, começou a ter muitas dores nas mãos a partir de 2010, quando chegou a operá-las porque um dos dedos havia travado. Ele relata que tentou esconder no início, pois tinha receio de perder o emprego devido ao problema adquirido. Com o passar do tempo, percebeu que a direção do banco realmente pouco se importava com sua saúde.
“Para manter meu desempenho, aguentava a dor e me matava de trabalhar, até nos finais de semana, para dar conta de tudo. Mas cheguei ao limite e pedi para tratar, porém meu chefe negou”, desabafa.
Assim que teve o diagnóstico de LER (Lesão por Esforço Repetitivo), comunicou à empresa que precisaria se afastar. Porém, ao contrário de reconhecer os problemas com a saúde do funcionário e emitir a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), a instituição o dispensou. Na ocasião, já tinham se passado cerca de dois anos desde o surgimento das dores nas mãos.
Busca por direitos – Ao procurar o Sindicato, ele conseguiu a emissão da CAT e a reintegração ao banco, sendo afastado na sequência por sete meses. “Assim que soubemos do caso, entramos em contato com a empresa e iniciamos a negociação, pois o banco não poderia descartar um trabalhador dessa forma, ainda mais depois do diagnóstico de adoecimento em função do trabalho”, explica Raquel.
Entretanto, junto à reintegração veio o isolamento, a perseguição e a cobrança por tarefas que eram incompatíveis com a função que exercia. “Chegaram ao limite de proibir os colegas de trabalho de se comunicar com ele, com provas documentais dessa postura da direção”, conta a dirigente. "O assédio moral, nesse caso, parecia uma maneira de vingança contra o trabalhador que havia procurado os seus direitos, após anos de dedicação ao trabalho".
Porém, o que parecia ruim, ficaria muito pior. Neste início de ano, o trabalhador foi dispensado por justa causa, mesmo ainda tendo garantido o período de estabilidade até setembro de 2013. "Forjando justificativas, a instituição buscou uma manobra para demitir o funcionário de forma humilhante, pois, agora, além de se sentir injustiçado, não tem sequer o dinheiro e o convênio médico para o tratamento do problema que adquiriu se dedicando ao banco", acrescenta Raquel.
Proteção ao trabalhador – A dirigente Raquel Kacelnikas questiona o tratamento do banco francês dispensado aos funcionários brasileiros e a falta de diálogo da direção da empresa com o Sindicato para resolver a questão. “Entramos em contato com o responsável pela área de Recursos Humanos (RH) da empresa, que disse realizar uma conversa somente no final de fevereiro, o que é incompatível visto a situação do funcionário”, contesta.
“Na França, naturalmente, eles não agem de forma tão unilateral e autoritária, pois além do país ser signatário da Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que coíbe dispensas imotivadas, há uma série de proteções ao trabalhador que impede ações arbitrárias como a recente demissão do banco no Brasil”, contextualiza Raquel.
A dirigente ainda ressalta o papel do Sindicato nesses casos em que o trabalhador fica desamparado, sem saber exatamente dos seus direitos. Por isso, destacou que o Sindicato dará todo suporte ao ex-funcionário. “Acompanharemos o caso e iremos apoiar o trabalhador para que consiga ter seus direitos reparados, nem que para isso tenhamos que ingressar com ação na Justiça”, disse, ao alertar os trabalhadores para que entrem em contato e relatem casos semelhantes ao Sindicato.
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> Acesse o canal de denúncia no site do Sindicato e envie seu relato.
Tatiana Melim – 28/1/2013