
O Comando Nacional dos Bancários entregou à Fenaban a proposta para a construção da cartilha de orientação aos trabalhadores que tiverem de se afastar por motivos de saúde; cobrou o número atualizado do canal de denúncias dos bancos, que estava previsto para ser apresentado; e reforçou que um Programa de Gerenciamento de Riscos psicossociais, como assédio moral e sexual, além de outros fatores que afetam a saúde mental, precisam ser construídos com a participação dos representantes dos trabalhadores.
As tratativas ocorreram nesta segunda-feira 30, durante a quarta reunião entre o Comando Nacional dos Bancários e a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), sendo a segunda específica sobre saúde bancária em 2025.
Na reunião anterior sobre o tema, realizada em abril, a Fenaban se comprometeu a apresentar uma proposta de cartilha com diretrizes sobre o que caracteriza o assédio, o que define um ambiente de trabalho saudável e como os trabalhadores podem identificar e reagir a situações de violência organizacional.
A representação dos bancos informou, contudo, que não teve tempo hábil para a produção do material, mas que o mesmo será apresentado em uma próxima reunião.
Atualização da NR-1
A reunião ocorre em meio aos debates sobre a atualização da redação da Norma Regulamentadora Número 1 (NR-1). Ela define os princípios e responsabilidades de empregadores e empregados para garantir ambientes de trabalho seguros e saudáveis, além de abranger a prevenção de acidentes e doenças ocupacionais.
Sua atualização está prevista para junho de 2026. A norma passará a determinar que as empresas considerem e gerenciem riscos como assédio moral e sexual, bem como outros fatores que afetam a saúde mental dos trabalhadores. O Sindicato já tem canais de denúncias contra assédio moral, anterior a essa orientação do governo, e cobrará dos bancos, em mesa específica, o cumprimento das cláusulas da Convenção Coletiva de Trabalho sobre o tema.
A nova redação da NR-1, contudo, determina que caberá exclusivamente às empresas gerenciar e avaliar esses riscos. Os trabalhadores serão apenas consultados nesse processo, mas não haverá nenhuma determinação ou garantia de que suas sugestões e críticas serão acatadas, o que o Sindicato constesta.
"Muitos bancos estão implantando a NR-1 sem a participação do movimento sindical. Por isto, não sabemos os meios adotados para consultar os trabalhadores, a base de dados utilizada ou as medidas de prevenção. Os programas de gerenciamento de riscos psicossociais não terão efetividade se os representantes dos trabalhadores não participarem da sua elaboração, já que até hoje os bancos negam que são os responsáveis diretos pelo adoecimento da categoria bancária”, afirma Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários.
O Comando Nacional cobrou a participação dos trabalhadores, por meio das suas entidades representativas, na construção desse mapa de riscos psicossociais, por meio das seguintes ações.
- Atuação conjunta: análise dos dados e definição de ações devem ser feitas com participação sindical.
- Construção paritária: ações e mecanismos de intervenção devem ter corresponsabilidade entre gestão e trabalhadores.
- Foco nas causas: combater as raízes do adoecimento (metas, ritmo, assédio, falta de autonomia).
- Transparência nas avaliações: uso de ferramentas confiáveis (questionários validados, entrevistas, indicadores de saúde).
- PGR como documento vivo: construído e revisado com a base, refletindo a realidade concreta do trabalho.
- Cuidar dos trabalhadores adoecidos: não dificultar acesso tratamento; não haver perda salarial; não haver prejuízo na carreira.
Transtornos mentais: principal causa dos afastamentos na categoria bancária
O Sindicato reforçou a cobrança para que os bancos assumam o compromisso com a saúde mental dos trabalhadores.
“Nós sabemos que o fluxo de trabalho e a exigência de metas cada vez mais altas impactam na saúde física e mental das bancárias e bancários. Mas estamos tendo dificuldades, pois os bancos não reconhecem isso”, destaca Neiva.
Em 2024, a saúde mental foi a principal causa dos afastamentos na categoria bancária. Segundo levantamento do Dieese, com base em informações da plataforma Smartlab, produzida com registros do INSS, naquele ano, as doenças mentais e comportamentais foram responsáveis por 55,9% dos afastamentos acidentários e por 51,8% dos afastamentos previdenciários de bancárias e bancários do país.
Em segundo lugar ficaram as doenças conhecidas como Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), responsáveis por 20,3% dos afastamentos acidentários e 15,2% dos afastamentos previdenciários na categoria, em 2024.
“Os bancos não conseguem explicar, por exemplo, que em 2024, os afastamentos por transtornos mentais no Brasil foram de cerca de 14% do total, e nos bancários foram de 53%, segundo o INSS”, pontua Valeska Pincovai, secretária de Saúde do Sindicato.
“Os bancos seguem com a postura de individualizar a reponsabilidade dos adoecimentos sobre os trabalhadores bancários, ao invés de reconhecerem que essa realidade é causada pela estrutura organizacional das instituições financeiras, focada na cobrança abusiva de metas e na sobrecarga de trabalho, que muitas vezes gera o assédio moral, resultando nos adoecimentos. O que nos colcoa um desafio muito grande de mobilização para a mudança dessa realidade”, ressalta Neiva.
Censo da Diversidade e a próxima reunião
A Fenaban apresentou propostas de mídia de divulgação para o 4º Censo da Diversidade, previsto para começar em setembro, demanda pendente da última reunião do grupo de diversidade, que está construindo o censo.
Para a próxima Negociação Nacional sobre Saúde Bancária, ainda sem data prevista, a Fenaban ficou de apresentar a cartilha com as diretrizes de combate ao assédio no ambiente de trabalho.
