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Após período de queda, desemprego tem leve alta

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Taxa média na região metropolitana de São Paulo cresceu 0,4 ponto percentual, reflexo da economia parada, diz analista
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São Paulo – Com "forte deterioração" nos últimos meses, o ano de 2014 registrou crescimento da taxa média de desemprego na região metropolitana de São Paulo. A alta foi relativamente leve, de 10,4%, em 2013, para 10,8%, mas reflete "o fraco dinamismo da economia", observa o coordenador de análise da Fundação Seade, Alexandre Loloian. Depois de uma década de expansão, quando o emprego cresceu 16%, o momento já não é tão positivo. O técnico acredita em piora nos próximos meses. "Estamos passando por uma fase de rearranjo", diz Loloian.

Na média do ano passado, foram criados 36 mil postos de trabalho na região metropolitana, uma expansão de apenas 0,4%, e ainda assim melhor do que em 2013, quando houve retração de 0,2%. Mas essas essas vagas não foram suficientes para absorver a entrada de pessoas no mercado: foram 90 mil a mais, crescimento de 0,8%. Isso resultou em acréscimo de 54 mil desempregados, para um total estimado de 1,182 milhão. A população economicamente ativa (PEA) soma 10,940 milhões e o ocupados, 9,758 milhões, segundo a pesquisa Seade/Dieese.

O emprego foi sustentado principalmente pelo setor de serviços, que abriu 138 mil vagas (alta de 2,5%). A indústria de transformação eliminou 33 mil (-2%) e o comércio/reparação de veículos fechou 101 mil (-5,7%). A construção civil criou 23 mil empregos (3,2%) e o serviço doméstico cortou 17 mil (-2,6%). Mas considerado o principal suporte do emprego na região metropolitana, os serviços fecharam 107 mil vagas de novembro para dezembro.

Com 78 mil postos de trabalho a mais no ano, o emprego com carteira segue em alta, embora em ritmo menor. A expansão em 2014 foi de 1,5%, ante 2,7% no ano anterior. Chegou a subir 9,2% em 2008. Mas Loloian lembra que a tendência continua ascendente. Em dez anos, o emprego formal subiu 52,5%.

Estimado em R$ 1.922, o rendimento médio dos ocupados teve alta de 0,7% no ano passado. Caiu 2,5% na indústria de transformação e 0,5% entre trabalhadores com carteira assinada. E subiu 2,5% no comércio.

Houve alguma melhoria na distribuição dos rendimentos Em dez anos, os 10% pobres passaram de 1% do total para 2,3%. Os 10% mais ricos, de 42,1% para 35,6%. E os 50% mais pobres foram de 17% para 22,9%. Mas Loloian relativiza os dados, ao afirmar que os salários maiores estão perdendo participação. "Não criamos empregos de qualidade."

Regiões onde a indústria tem maior peso relativo sofreram mais com a queda na atividade. Enquanto a taxa geral foi de 10,4% para 10,8%, na capital paulista o índice passou de 9,7% para 10,3% e no ABC, de 10,1% para 10,7%. Apenas em dezembro, em comparação com igual mês de 2013, a taxa subiu mais de dois pontos percentuais (de 8,8% para 10,9%). "Raramente a taxa do ABC é maior que a dos demais municípios da região metropolitana. O ABC está sendo particularmente castigado", afirma o economista.

Ele critica a política de juros e o que chama de má gestão das agências reguladoras, que dificultou a viabilização de investimentos, mas não vê um quadro tão ruim como alguns sinalizam. "Tivemos quatro anos parados, mas nenhuma recessão." Loloian identifica um cenário difícil. "Tem de retomar confiança, rearranjar as contas básicas. Ninguém vai investir agora. Alguém vai se endividar?", questiona, prevendo pelo menos um primeiro quadrimestre complicado. "Não acho que se aprofunda ao longo do ano." Mas estima que a taxa de desemprego deste ano voltará a crescer.


Vitor Nuzzi, da Rede Brasil Atual - 28/1/2015

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