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Chapéu
Pandemia

Guilherme Boulos: 2021 é uma tempestade perfeita

Linha fina
Em encontro virtual com dirigentes do Sindicato, o ex-candidato a prefeito da capital paulista e liderança do MTST, fez uma análise da grave situação do país, perspectivas para o futuro e apresentou elementos que, para ele, são fundamentais para um projeto de reconstrução nacional
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Na tarde desta segunda-feira 15, o ex-candidato a prefeito da capital paulista e liderança do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), que também disputou à presidência em 2018 pelo Psol, Guilherme Boulos, participou de um debate virtual com dirigentes e funcionários do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. Durante a sua intervenção, Boulos avaliou que o ano de 2021 é uma “tempestade perfeita” para o Brasil, fez duras críticas ao governo Bolsonaro e apontou caminhos para a superação da grave crise social, política, sanitária e econômica enfrentada pelo país. 

“2021 é uma tempestade perfeita. É uma combinação das mais variadas crises. Temos a pandemia, e o Brasil como epicentro, com duas mil pessoas morrendo por dia. O SUS próximo ao colapso, exaurido, e isso significa que o médico é obrigado a escolher quem vive ou quem morre. A maior crise da nossa geração, com um país sem rumo, um total desgoverno”, enfatizou Boulos. 

“O Bolsonaro fez uma aposta perversa em relação à pandemia: colocar um falso dilema entre salvar vidas e salvar a economia. Esse discurso tem apelo em uma parte da sociedade. O pequeno comerciante, as pessoas que com as restrições estão sem renda para sobreviver. Porém, esse dilema só está acontecendo porque não se tomou as medidas básicas de apoio econômico e social, como se fez na maior parte do mundo. Você fecha, toma as medidas de isolamento e, ao mesmo tempo, garante auxílio, capital de giro e crédito para os comerciantes, garante o pagamento da folha pelo Estado, no caso dos setores paralisados pela pandemia. E aqui ocorreu uma bagunça. Não tem as medidas de apoio econômico e nem as medidas sanitárias. Não se salvou  vidas e nem salvou a economia”, acrescentou. 

Para o líder do MTST, o cenário no Brasil torna-se ainda mais caótico pelo fato da pandemia de coronavírus conviver com a pandemia da miséria e da fome. “Chegamos no fim do ano passado a 14 milhões de desempregados, maior número da série histórica. Temos quase 11 milhões de desalentados. Gente que, por falta de perspectiva, nem procura mais emprego. O Brasil voltando para o mapa da fome (…) Combustível caro, alimento caro, pandemia e desemprego. Esse é o Brasil de 2021. É um barril de pólvora.”

De acordo com Boulos, as forças democráticas e progressistas precisam construir reações ao atual cenário, entre elas ações imediatas. “Temos que pensar, e nós do MTST estamos muito focados nisso, em iniciativas de solidariedade e redes de apoio ao nosso povo que está sofrendo mais. Inauguramos neste final de semana, na Brasilândia, a primeira de 16 cozinhas solidárias nas periferias, com distribuição de alimento, de refeição. Nosso trabalho de base, de presença territorial, neste momento deve estar ligado com as demandas fundamentais do povo. Em um contexto de pandemia, com todos os cuidados, mantendo o distanciamento social, mas estando presente e dando respostas ao sofrimento da população.”

Projeto de recuperação nacional 

Boulos apresentou ainda três eixos que, para ele, são fundamentais para um projeto político que pretenda ser vitorioso nas eleições de 2022 e objetive a reconstrução do país. 

“O Brasil pós Bolsonaro é um Brasil destruído. O desafio que teremos é reconstruir o país. Quero apontar três elementos fundamentais. O primeiro é um plano de retomada econômica e geração de empregos, baseado em obras públicas, de infraestrutura, de saneamento básico, de moradia popular, investimento em saúde, utilizando bancos públicos como propulsores nesse ciclo de desenvolvimento. (…) O segundo tem de ser uma política de combate à desigualdade, que só se ampliou nos últimos anos. Retomamos o posto entre os dez países mais desiguais do planeta. Precisamos pautar uma reforma tributária progressiva, medidas de enfrentamento como programas de transferência de renda, renda básica. Vários países se valeram desse cenário crítico para avançar na taxação de grandes fortunas, com o objetivo de financiar políticas de enfrentamento à pandemia", avalia Boulos.

"E um terceiro é o debate de futuro. Precisamos de um projeto de investimento em ciência e inovação (…) O plano nacional que previa investimento em ciência, tecnologia e inovação, que foi elaborado há uma década, previa 2% do PIB como piso de investimento. Nós estamos em 1,2%. A Coréia do Sul tem 4,5%. E o país paga um preço, que é a manutenção de um modelo de desenvolvimento atrasado, primário, agroexportador, extrativista. E a Ford vai embora. O país vai se desindustrializando porque não tem investimento em futuro”, concluiu o ex-candidato e líder do MTST. 

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