Pular para o conteúdo principal

Crise global é oportunidade para indústria

Linha fina
Em artigo, economista Márcio Pochmann defende que após absorver recuo nos preços das commodities, Brasil precisa focar em maior valor agregado de produtos primários e substituir importações
Imagem Destaque
São Paulo – A crise global, iniciada em 2008 e que estabeleceu um índice baixíssimo de crescimento econômico no mundo, pode ser uma oportunidade para recuperar a indústria brasileira. A opinião é do economista, professor titular da Unicamp e presidente da Fundação Perseu Abramo, Marcio Pochmann, em artigo para a Rede Brasil Atual.

Pochmann aponta que um dos principais efeitos da crise foi uma mudança expressiva nos preços relativos de bens e serviços, em direção oposta ao que aconteceu nos anos 2000, quando “o preço médio do conjunto dos produtos primários subiu quase duas vezes mais que o preço médio em dólar dos manufaturados”.

“De um lado, as nações exportadoras de manufaturas tiveram de acomodar para baixo os preços dos seus produtos frente ao avanço da oferta chinesa com menor custo. De outro, os países vendedores de produtos primários assistiram à demanda e aos preços subirem consideravelmente, melhorando a balança comercial e favorecendo os governos não liberais a adotar politicas de crescimento econômico com distribuição de renda, sobretudo, do trabalho”, diz Pochmann, referindo-se a primeira década do século XXI.

A partir de 2008, segundo Pochmann, a crise iniciada nos países ricos provocou a desaceleração da economia chinesa. Com isso, houve diminuição das exportações de manufaturados chineses e consequente queda na demanda por produtos primários, as chamadas commodities.

“Os países que têm inserção no comércio mundial de produtos primários absorveram o impacto da queda dos preços em suas contas externas e internas. Inicialmente buscaram deslocar, quando possível, a fonte do dinamismo externo para o interno, por meio de políticas anticíclicas”, explica o economista. “Mas a prevalência do regime de baixo dinamismo na economia mundial levou à exaustão o uso da política econômica comprometida com a sustentação do ritmo de produção e, em consequência, do nível de emprego. Dificilmente encontra-se atualmente algum país exportador de produtos primários em boas condições econômicas”, esclarece Pochmann.

De acordo com o presidente da Fundação Perseu Abramo, assim como Rússia e Chile, respectivamente grandes exportadores de petróleo e cobre, o Brasil também foi afetado pela queda do preço das commodities. Entretanto, para Pochmann, a mudança relativa nos preços de bens e serviços não pode ser vista apenas como uma explicação de parte importante dos problemas que afetam o país, mas também como “potencial a ser mais bem explorado para uma nova base de sustentação do crescimento econômico”.

“O que implicaria a adoção de um verdadeiro programa de reindustrialização, com a elevação do valor agregado nos setores produtores de commodities e a substituição das importações (...) A ampliação do conteúdo nacional da produção brasileira pressupõe mais do que discurso. Necessita vontade e força política para fazer convergir o que resta da burguesia industrial com o movimento progressista em torno de um programa com começo, meio e fim”, propõe o economista.

Leia a íntegra do artigo publicado pelo economista Marcio Pochmann.


Redação, com informações da Rede Brasil Atual – 18/1/2016
 
seja socio