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CUT propõe auditoria nas dívidas dos países

Linha fina
Em debate no Fórum Social Temático, presidente da CUT-RS defende medida para enfrentar política predatória do capitalismo
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Porto Alegre - O presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo, propôs fazer uma auditoria nas dívidas dos países, a exemplo do Equador, como forma de enfrentar a política predatória do capitalismo que tanto oprime e empobrece os povos, durante a primeira mesa de convergência do Fórum Social Temático, denominada “Globalização, Desigualdade e a Crise Civilizatória – Da crise do Império à luta por um mundo multipolar”, ocorrida na tarde quente desta quarta-feira 20, em Porto Alegre.

Claudir lembrou que muitas dívidas foram negociadas no período de ditaduras militares, como na América Latina, sem nenhuma transparência com a sociedade. “Vamos levar essa proposta, assim como a taxação das grandes fortunas, ao debate na assembleia dos movimentos sociais, que ocorre na manhã de sábado 23, último dia do evento, mostrando que é possível combater o rentismo e o processo de globalização do capital e seguir construindo um outro mundo com mais igualdade, avanços sociais e solidariedade entre os povos e as pessoas”, ressaltou Claudir, muito aplaudido pelos participantes que quase lotaram o auditório Araújo Viana, no Parque da Redenção.

A mesa contou também com a participação do sociólogo português Boaventura de Souza Santos e das representantes Socorro Gomes (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz  – Cebrapaz/Brasil), Caroline Borges (Reaja/Brasil), Maren Mantovani (StoptheWall/Palestina), Cristina Reynold (AIH/Argentina), Leo Gabriel (jornalista austríaco) e Nair Goulart (Força Sindical).

Legado do FSM - O dirigente da CUT  fez também um balanço, dizendo que é preciso separar aqueles que são “inimigos” do fórum e os que são críticos do evento. Ele citou exemplos de consensos e avanços possibilitados pelo FSM ao longo dos 15 anos de Fórum Social Mundial (FSM), realizado pela primeira vez em 2001, na capital gaúcha. Apontou como legados a derrota da ALCA, a expansão de governos democráticos com viés progressistas em diversas regiões do mundo, como na América Latina e no norte da África, e a Primavera Árabe.

“O Fórum nos deixou um legado inegável, mas não podemos desconsiderar que não estamos num melhor momento da democracia”, salientou.  “Está claro que a direita está determinada a desestabilizar os governos democráticos e gerar instabilidade”, denunciou.

Ele sublinhou que os movimentos sociais, a CUT e os sindicatos têm, sim, várias críticas ao governo Dilma, principalmente em relação à política econômica.  Lembrou que, muitas vezes, os trabalhadores ocuparam as ruas em defesa das pautas da classe trabalhadora, fazendo greves e mobilizações.

“Mas sabemos que o que poderá vir se os golpistas do impeachment tiverem êxito é imensamente pior para a classe trabalhadora e à democracia brasileira. Eles são os mesmos que defendem a terceirização sem limites, os mesmos que acham que Bolsa Família, Pronatec, PROUNI e Fies são gastança e os mesmos que tentam aprovar um conjunto de violações aos direitos humanos. Por isso, precisamos dar respostas ao capital e ao conservadorismo”, enfatizou Claudir.

Autocrítica do FSM - Também muito aplaudido, Boaventura afirmou que é “necessário fazer a autocrítica” e defendeu que o FSM seja um espaço de resoluções e de tomar posições.  “Estamos aqui debatendo para quê? Precisamos ter posições claras e assumir a responsabilidade social que devemos ter perante aqueles que sofrem, são oprimidos, excluídos e, portanto, não tem oportunidade de estar aqui conosco”, criticou. “Temos que ter posição em defesa dos índios, dos camponeses, dos quilombolas”, exemplificou.

“A agenda sempre foi contra o neoliberalismo e não contra o capitalismo, mas durante esses anos vimos que o neoliberalismo se tornou a única forma de capitalismo que existe”, disse. “A Europa, que via as políticas do FMI aplicadas nos países do Terceiro Mundo, agora vive a violência, o pesadelo de ver a pilhagem do seu salário, de sua vida”, avaliou Boaventura.

O sociólogo comparou a atual conjuntura internacional com a de 2001. “Há inúmeras diferenças entre um período e outro, pois antes havia expectativas positivas e movimentos sociais fortes, que queriam aprofundar direitos. Hoje, vivemos inúmeras ameaças à democracia. Porém, o capitalismo e o neoliberalismo não acabaram e continuam mais fortes do que nunca”, alertou.

“Atualmente, temos que lutar contra o neoliberalismo, que é a face mais cruel e arrogante do capitalismo. Os neoliberais que discutem lá no Fórum Econômico de Davos nem consideram a possibilidade de discutir com os nossos setores, nós nem existimos para eles”, continuou Boaventura. Ele refletiu sobre o papel do FSM e a importância que a cidade de Porto Alegre tem para o mundo e para a esquerda.

“Hoje recebi o título de cidadão de Porto Alegre e afirmei que esta cidade não pode esquecer que é Porto Alegre. Projetos no mundo inteiro nasceram com base no Orçamento Participativo, implementado aqui. Não podemos nos esquecer desse trabalho notável. Infelizmente a esquerda tem pouca memória. A direita aprende mais com a gente do que nós mesmos”, observou.

Unidade entre esquerda e movimentos sociais no mundo - Os participantes foram unânimes em ressaltar a necessidade de uma esquerda e de movimentos unidos para combater o conservadorismo que se intensifica em todo o mundo.  “Temos que dar uma resposta às alternativas lançadas pelo Fórum de Davos”, declarou a argentina Cristina Reynold.

A crise europeia foi lembrada entre os participantes como exemplo de falência do modelo capitalista. “O que está acontecendo na Europa é a demonstração do fracasso do capitalismo”, afirmou Socorro Gomes.

O austríaco Leo Gabriel destacou a guerra mundial que se estabeleceu no território sírio – que mata mais civis do que militares com os bombardeios – está fazendo uma Europa “dividida entre os que não querem os estrangeiros e os que apoiam os refugiados”.

A italiana Mauren Mantovai, coordenadora de Relações Internacionais da organizaçãoStop the Wall (criada para combater a construção do muro na Cisjordânia pelo governo de Israel), pediu a continuidade do apoio à Palestina Livre e ao boicote às empresas armamentistas de Israel que funcionam em todo mundo.

“Em nenhum momento Israel foi chamada à responsabilidade pela ONU pelo apartheid a que submeteu o mundo árabe e segue vendendo a metodologia de construção dos muros a outros países, exportando sistemas de repressão, além da venda de armas”, denunciou.


CUT-RS - 21/1/2016
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